Esta decisão, que já era esperada, está a gerar fortes críticas entre os principais aliados europeus do Governo israelita, como o Reino Unido, onde o primeiro-ministro Keir Starmer, avisou o seu homólogo israelita, Benjamin Netanyhau, para o banho de sangue que daí sairá.
A medida também já foi criticada pela França, o outro grande aliado do Estado hebraico na Europa ocidental, e da Finlândia chegou mais um apelo para a contenção de Telavive, porque a ministra dos Negócios Estrangeiros, Elina Valtonen, já não consegue aguentar as excruciantes imagens da fome em Gaza, e a exigência de um "imediato cessar-fogo".
Desde que teve início a invasão israelita, a 08 de Outubro de 2023, de acordo com números oficiais, confirmados pela ONU, já morreram, em consequência dos bombardeamentos israelitas, mais de 62 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, número que está a crescer exponencialmente como consequência da fome e das doenças oportunistas que são resultado do bloqueio de Telavive à ajuda humanitária destinada ao território.
Sucedem-se em todo o mundo as declarações de preocupação sobre a catástrofe humanitária que grassa em Gaza, onde centenas de milhares de pessoas estão já no abismo da fome severa, com centenas de crianças a morrer perante os olhos do mundo, levando mesmo o Presidente dos EUA, Donald Trump, a admitir o seu incómodo com a realidade no terreno.
Ao mesmo tempo, surgem apelos ao Hamas e à Jihad Islâmica, os grupos autores do ataque de 07 de Outubro de 2023 ao sul de Israel que resultou em mais de mil mortos entre cidadãos israelitas e estrangeiros, grande parte deles imigrantes asiáticos, para libertarem os reféns que ainda estão na sua posse, perto de 50 de um grupo de mais de 200 levados nesta altura para Gaza.
Como pano de fundo para este palco da maior tragédia do século XXI até ao momento, onde já não restam dúvidas de que está em curso o genocídio do povo palestiniano em Gaza às mãos das Forças de Segurança de Israel (IDF), com a justiça internacional à procura de Benjamin Netanyhau devido a esse monstruoso crime, está a recente decisão de controlar totalmente os 365 kms2 da faixa de 40 kms de extensão por dez de largura e os seus 2,2 milhões de habitantes.
Esta decisão foi conhecida já na tarde de quinta-feira, 08, depois de vários dias onde os media ocidentais, que, finalmente, abriram os olhos para o genocídio em Gaza, noticiaram que esse passo estava iminente em resultado dos preparativos em curso no território com a construção de gigantescos campos de refugiados, com alguns a compararem com os campos de concentração na Alemanha nazi, na II Guerra Mundial, onde foram exterminados milhões de judeus.
Mas também internamente emerge uma vaga gigante de críticas ao Governo de Netanyhau, com o líder da oposição, Yair Lapid, antigo primeiro-ministro, a dizer que esta decisão é "um desastre que vai levar a muitos mais desastres" na região e uma cedência inacreditável aos ministros radicais do Governo israelita, Bem Gvir (Segurança Nacional) e Bazalel Smotrich (Finanças), que defendem abertamente a expulsão dos 2,2 milhões de palestinianos de Gaza.
Este momento, apesar de Benjamin Netanyhau dizer que o plano de controlo total de Gaza (ver links em baixo) é temporário e visa apenas criar as condições para acabar com o Hamas em definitivo, poucos acreditam nisso.
Até porque o primeiro-ministro israelita não conseguiu, nestes quase dois anos de invasão em grande escala do território, onde já foram despejadas mais toneladas de bombas que o equivalente explosivo da bomba atómica de Hiroxima (que agora comemora 80 anos do seu lançamento pelos EUA em 1945), sem que tenha conseguido nenhum dos três objectivos definidos a 08 de Outubro de 2023.
Objectivos claros e afirmados por Benjamin Netanyhau nessa altura e reafirmados com o decorrer do conflito, que eram a libertação dos mais de 200 reféns, a destruição total do Hamas e fazer de Gaza um território inofensivo para Israel.
Nenhum deles foi conseguido apesar da máquina de guerra gigantesca que Israel fez rolar sobre Gaza, com mais de 350 mil militares, milhares de blindados e a poderosa aviação israelita com centenas de aviões norte-americanos F-35 a bombardear diariamente o território.
Nestes 22 meses Israel deixou em Gaza um cenário de devastação onde não sobra um edifício incólume, já morreram dezenas de milhares de civis, na maior parte crianças e mulheres, foi montado um bloqueio férreo à entrada de ajuda humanitária, como as agências da ONU acusam, e algumas ONG's internacionais falam mesmo em mais de 400 mil mortos que só serão confirmados quando for feita a limpeza dos escombros que cobrem todas as áreas urbanas.
Um dos riscos deste plano de Netanyhau é a desestabilização regional, onde, como está ainda fresco na memória, teve lugar uma intensa guerra entre Israel e o Irão, que levou à intervenção dos Estados Unidos, sendo que as vozes críticas sobre a ocupação total de Gaza por Israel começaram já a surgir, incluindo o aliado Jordânia, aos sauditas, sem esquecer o Irão e o Iémen dos rebeldes Houthis, que prometem não dar descanso a Telavive com os seus misseis hipersónicos de longo alcance.
E o Hamas já avisou igualmente que a ocupação total é a confirmação de que "Netanyhau tem objectivos pessoais seguindo uma agenda extremista" que não olha aos riscos envolvidos, incluindo "o abandono total dos reféns à sua sorte, procurando o seu sacrifício definitivo" para ter as mãos livres para "limpar Gaza dos palestinianos".