A decisão de ocupar plenamente a Faixa de Gaza foi, segundo a imprensa israelita, tomada por Benjamin Netanyhau esta semana e já terá informado o seu Governo, assumindo pessoalmente os riscos evidentes de um passo perigoso como esse.
De acordo com o jornal Times of Israel, o primeiro-ministro informou os seus ministros dessa decisão pedindo-lhes apoio total para a oficialização dessa decisão que tem riscos inerentes bem conhecidos.
Entre esses riscos está o que pode suceder aos cerca de meia centena de reféns que ainda estão nas mãos do Hamas e da Jihad Islâmica desde o ataque conjunto ao sul de Israel de 07 de Outubro de 2023 onde morreram pelo menos mil pessoas, entre militares, civis e imigrantes.
Além da vida dos reféns, cujo salvamento e recuperação era, a par da destruição cabal do Hamas, o principal objectivo de Benjamin Netanyhau quando lançou a invasão militar de Gaza, esta decisão pode ainda despoletar uma crise regional envolvendo os países árabes vizinhos.
No entanto, uma ocupação total de Gaza, que envolveria sempre uma escalada militar para garantir a sua efectivação, não seria a primeira vez, porque durante 38 anos, entre 1967 e 2005, Israel manteve o território sob férreo domínio militar.
No entanto, essa ocupação, embora sem comparação com a realidade actual, onde se assiste a um genocídio no território, teve igualmente com consequências trágicas tanto para a população palestiniana como para os israelitas, permanentemente alvos da de ataques da resistência palestiniana.
Essa memória está ainda fresca entre as chefias militares israelitas e é por isso que, segundo os media em Telavive, os comandantes das Forças de Defesa de Israel (IDF) discordam dessa decisão e já a verbalizaram a Benjamin Netanyhau, a quem chamaram à atenção para os riscos que esse passo acarreta.
Todavia, esta opção não seria igualmente uma surpresa total porque ela estava implícita nas palavras do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando, há alguns meses, avançou com a ideia bizarra de transformar Gaza num gigantesco complexo turístico na costa do Mediterrâneo Oriental.
Ou ainda porque alguns dos membros do seu gabinete, como Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, ou Itamar Bem Gvir, ministro da Segurança Nacional, ambos extremistas políticos e radicais religiosos, defendem, com insistência, e a expulsão dos 2,3 milhões de habitantes do território e a sua terraplanagem total, de forma a ali fazer regressar milhares de colonos e colonatos.
O Times of Israel avançou que Netanyhau já se refere à "ocupação de Gaza" como necessária para resolver o problema e a concomitante expansão da operação militar, o que deve ficar claro e oficializado já esta semana, quando, provavelmente na quinta-feira, 07, terá lugar uma reunião com os membros do Governo e das Forças de Segurança.
Apesar da oposição a este passo arriscado por parte das chefias militares, Netanyhau já terá decidido e um dos seus aliados políticos disse em off, citado pelos media, que os comandantes que não concordarem com esse passe devem demitir-se.
Uma ocupação total de Gaza implicará um reforço exponencial da presença militar e um avanço dos blindados para áreas de maior risco, onde, em cerca de 25% do território não seguro pelas IDF, provavelmente estão os reféns na posse do Hamas e da Jihad Islâmica, colocando em risco as suas vidas.
Uma das questões levantadas pelos críticos deste passo arriscado é o tempo que levará às IF a desmantelar o que resta da infra-estrutura da resistência palestiniana, dos vários grupos presentes no território, o que levará anos a conseguir, e os custos em vidas para os militares israelitas que serão envolvidos nessas operações.
Isto, quando os 365 kms2 de Gaza são um amontoado de destroços, como ficou claro nas imagens aéreas colhidas por The Washington Post a partir de um avião usado para lançar ajuda humanitária sobre o território.
Além da destruição física, Gaza é ainda palco de uma tragédia humana com poucas comparações no passado, excepto no genocídio do Ruanda, em 1994, ou nos "guetos" da II Guerra Mundial, sendo o número de mortes oficial já superior aos 60 mil, maioritariamente crianças e mulheres, desde 08 de Outubro de 2023.
Além das acções militares, Israel condena à fome e à doença a população de 2,3 milhões de pessoas que habitam a faixa de 40 kms por 10 de largura, o que faz de Gaza uma das geografias de maior densidade populacional e todo o mundo.
Essas mortes, que algumas ONG's admitem ser, na realidade, muito superiores, podendo mesmo chegar às 400 mil quando for feita a limpeza dos escombros, estão por detrás dos mandatos de captura emitidos pelos tribunais internacionais contra Benjamin Netanyhau, que é ainda acusado de crime de genocídio por cada vez mais organizações, instituições e países.
Isto, quando, internamente, cresce a oposição à gestão desta guerra pelo primeiro-ministro, cujo Governo depende de pequenos partidos radicais que defendem a expulsão dos palestinianos de Gaza e o regresso ao território de milhares de colonos.
O líder da oposição e antigo chefe de Governo, Yair Lapid, acusa mesmo Netanyhau de não estar a conseguir lidar com as chefias das IDF que discordam das suas decisões políticas, e forçar fugas de informação que põem em causa a segurança nacional.
Numa declaração na rede social X, citada por The Guardian, Lapid escreveu que quando o comandante militar sabe que todas as suas conversas e discordâncias com o primeiro-ministro vão ser tornadas públicas contra si, "este nunca dirá tudo o que pensa" podendo gerar uma ideia errada sobre a posição dos analistas militares.
No meio desta evolução dos acontecimentos, que alguns analistas consideram serem cortinas de fumo criadas para esconder a tragédia em curso no território, onde Israel continua, apesar das declarações oficiais a garantir o contrário, a afunilar a ajuda humanitária, bloqueando a entrada de milhares de camiões com alimentos e medicamentos oriundos do Egipto.
Isto, quando são diariamente conhecidas situações de pessoas mortas pelas IDF quando aguardam ajuda em postos de distribuição alimentar, e as imagens de terror com mães incapazes de salvar os seus filhos que morrem nos seus braços de fome e doença chegam a todo o mundo.
Isto, apesar de Israel continuar a impedir o acesso a Gaza pelos media internacionais, num claro esforço para esconder a catástrofe humanitária em todo o seu "esplendor" que garante ao permitir, segundo a Al Jazeera, a entrada de 14% da ajuda diária necessária, condenando assim milhares de pessoas, especialmente as mais frágilizadas, a uma morte lenta e dolorosa.