O genocídio em Gaza começou há quase dois anos, com a invasão israelita a 07 de Outubro de 2023 e bombardeamentos indiscriminados sobre as populações civis como vingança pelo igualmente brutal assalto do Hamas ao sul de Israel, onde morreram pelo menos mil pessoas, mas desde então a Humanidade assiste em directo nas televisões a um nível de terror que já não se via desde o extermínio de 800 mil Tutsis do Ruanda, em 1994.
As redes sociais ficaram cheias de imagens de crianças a morrerem nos braços das mães famintas e esqueléticas e foi essa realidade, para a qual as Nações Unidas (ver aqui e aqui) já tinham alertado em Maio útimo, que levou os media tradicionais, até a americana CNN e a britânica BBC, canais mais relevantes dos dois países que mais apoiam Israel, a levarem para os seus ecrãs essas mesmas imagens do terror que é o genocídio em curso.
Não é claro o que levou a esta reviravolta nos media tradicionais na forma como passaram a cobrir o extermínio em curso do povo palestiniano em Gaza, mas há uma coincidência que não passa desapercebida, que foi quando em Junho deste ano o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez falou abertamente de "genocídio em Gaza".
As palavras do chefe do Governo de Espanha, um dos poucos países europeus que reconheceram já a Palestina como Estado independente, caíram como uma bomba nas capitais aliadas de Telavive, Londres, Berlim e Washington, bem como na União Europeia, mas tiveram um efeito de rastilho nos media que começaram a olhar de forma diferente para o horror em Gaza.
Quando o número de mortes oficialmente confirmadas já chegou à fasquia dos 60 mil, na maior parte crianças e mulheres, embora algumas organizações internacionais admitam que os números podem ser multiplicados por dez quando começarem os trabalhos de reconstrução e limpeza dos escpmbros do território totalmente obliterado pela artilharia e aviação israelitas, a ONU volta a colocar a fome em Gaza no topo da sua agenda.
Fala agora a Organização Mundial de Saúde (OMS), que está no terreno desde a primeira hora, gerando a fúria israelita, num momento que pode ser decisivo para largos milhares de crianças, se não for feito algo de extraordinário para levar ajuda às populações civis de Gaza, nomeando "níveis alarmantes" de malnutrição e numa "trajectória perigosa", que só pode ser revertida se o mundo assim o exigir com determinação.
Isto, porque enviar comida para Gaza já não basta para salvar os mais fragilizados pela fome, tendo em conta que milhares de pessoas, na maioria crianças, já estão tão fracas que os seus estômagos já não conseguem digerir os alimentos sem ajuda especializada.
Isto, quando a pressão internacional, com, por exemplo, centenas de milhares de pessoas a manifestarem-se em Paris, o que levou o Presidente francês, Emmanuel Macron, a anunciar que a França vai reconhecer a Palestina como Estado independente já este ano, levou Telavive a admitir a ajuda por via aérea a Gaza e abriu as fronteiras para algumas centenas de camiões, o que é ainda, como o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, definiu, "uma gota de água num Oceano de necessidades".
Com um crescente relato de crianças que morrem de fome, só em Julho foram 63 confirmadas pela ONU, a OMS sublinha com vigor que a situação pode ser revertida se Israel mostrar um mínimo de sensatez abrindo as fronteiras para a entrada da ajuda humanitária necessária e do pessoal de saúde tão necessário como a própria alimentação e medicamentos.
O que, muito dificilmente, referem vários analistas, pode ser conseguido nas escassas dez horas de pausa militar em algumas áreas de Gaza, porque a ajuda que é preciso chegar não pode sê-lo em tão pouco tempo e, além disso, depois de semanas em que comprovadamente centenas de pessoas foram mortas por atiradores das Forças de Defesa de Israel (IDF) quando estavam nos locais de entrega da escassa ajuda alimentar que chega ao território.
A esperança agora das organizações internacionais é que a pressão global sobre o Governo do primeiro-ministro Benjamim Netanyhau, que é procurado pela justiça internacional pelo crime de genocídio, através dos media, continue para que a pausa militar seja prolongada para além das 10 horas anunciadas pelas IDF de forma a que comida e medicamentos cheguem aos locais mais complicados de Gaza.
Recorde-se que Gaza é uma faixa de território com apenas 365 kms2, ou 40 kms de extensão por 10 kms de largura, ao longo do Mediterrâneo Oriental, com uma população de 2,3 milhões, o que faz desta uma das geografias mais densamente habitadas do mundo, e onde, por essa razão, qualquer disparo de artilharia feito por Israel tem uma elevada percentagem de probabilidades de matar civis...
Isto, quando as estimativas elaboradas por organizações internacionais, apontam para que este escasso território já tenha sido atingido por um combinado de engenhos explosivos superior ao potencial destrutivo da bomba atómica largada pelos EUA sobre Nagasaki, em 1945, e que essa tonelagem já supera as bombas caídas sobre Londres (Reino Unido) e Dresdem e Hamburgo, duas das cidades mais bombardeadas pelos aliados na Alemanha nazi.