E isso já se nota no tom esverdeado dos gráficos com, esta manhã de segunda-feira, 18, o barril de Brent, em Londres, a ganhar quase um dólar, com a possibilidade de o crude russo, poder voltar aos mercados normais depois de levantadas as sanções.

Desde Fevereiro de 2022 que o crude da Rússia, o segundo maior exportador do mundo, com mais de 11 milhões de barris por dia (mbpd) disponíveis em condições normais, está fora dos pipelines ocidentais, tendo sido, quase todo, desviado para os gigantes asiáticos, China e Índia.

E essa circunstância gerou uma crise na oferta que, embora tendo já sido digerida pelos mercados, e pelas adaptações que foram sendo realizadas, levou o petróleo para valores próximos dos 100 USD, tendo depois iniciado uma normalização e voltado às flutuações quase normais.

Entretanto, com a perspectiva da paz na Ucrânia, e com as sanções a serem diluídas com essa nova realidade, o crude russos volta a fluir, aumentando pelo menos a geografia onde volta a estar disponível... mas não é só essa a razão para o tom negativo nos mercados nas últimas semanas...

Além de a economia chinesa estar longe dos tempos áureos, bem como a norte-americana, e até a europeia, num turbilhão auto-alimentado pelas interdependências históricas, desde logo o motor da Europa Ocidental a "gripar" com a falta do crude e gás russos baratos, os chineses a sentirem o arrefecimento gerado por essa via, e os norte-americanos a serem vítimas dessa circunstância mas também do refluxo das políticas tarifárias de Donald Trump...

E é neste contexto que esta segunda-feira, 18, perto das 11:35, hora de Luanda, o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava a valer mais 0,22% que na sexta-feira, 15, para os 65.98 USD, uma subida ligeira que não reflecte outra coisa que não seja o confronto das expectativas num acordo de paz e a possibilidade de tal não suceder.

Até porque os mercados, incluindo ainda o importante WTI de Nova Iorque, que mede o pulso à economia norte-americana com mais proximidade, estão já a burilar os próximos passos sabendo que a OPEP+ vai continuar a acrescentar produção até, muito provavelmente, ao fim do ano, como, de resto, está a fazer já desde Maio.

Só para Setembro o cartel que agrega os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia & Co. Desde 2017, assegurou já mais 511 mil bpd, o que está a ajudar a garantir, alerta a Agência Internacional de Energia (AIE), que até ao fim do ano o equilíbrio entre a oferta e a procura está desfeito e que 2026 será um ano de flagrante e perigoso "surplus" para as economias mais petrodependentes, como, por exemplo, a angolana.

E o cenário não é pior ainda, para as economias com dependências sérias das exportações de energia, porque ainda está por perceber integralmente o que fará a Índia sobre as exigências europeias e norte-americanas para deixar de comprar crude russo se as coisas não correrem bem entre Moscovo e Washington...

Luanda não perde de vista o sobe e desce dos mercados

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil... e agora com a pewrspectiva de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.