No rasto da "guerra mundial das tarifas" declarada pelo Presidente dos Estados Unidos, os mercados, todos eles, dos bolsistas aos energéticos, foram assolados por um ciclone de emoções que acabou por despir o valor do barril de Brent de mais de 10 USD em três dias.

Foi na sexta-feira, 04, que, apesar de os primeiros ventos terem chegado antes, quando se soube, há mais de uma semana que as tarifas de Trump chegariam aos quatro cantos do planeta, os mercados abanaram até aos alicerces.

E entre sexta-feira, 04, e a manhã desta terça-feira, 08, mesmo com a protecção do fim-de-semana, o barril de Brent, que serve de referência principal para as exportações angolanas, passou dos confortáveis 74 USD para os actuais, perto das 09:15, hora de Luanda, 63,7 USD, com perdas ligeiras mas indicativas.

Depois de escassas horas no conforto do verde, o vermelho voltou a tingir os gráficos e tudo indica que vai ficar ainda mais carregado, porque quando se esperava, considerando os efeitos dramáticos do "bullying" da Casa Branca dos últimos dias, que Donald Trump viesse amortecer a queda, eis que é o contrário que sucede.

Ao ver e ouvir que o Governo chinês não cedeu, pelo contrário, Lin Jian, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, veio avisar que a China "não vai aceitar o bullying norte-americano" e a confirmação disso chegou agora pelo ministro do Comércio, que avisou que o gigante asiático "vai lutar até ao fim" se os EUA mantiverem este comportamento "inadequado e chantagista".

Isto, porque, em Washington, Trump voltou a mostrar as garras e avisou que se Pequim não ceder e ficar quietinho, além das tarifas de 54% já em vigor, 20% vindo de anteriores quezílias comerciais, e 34% nesta nova vaga de taxas, aplicará outros 50%, o que faria com que o mundo ficasse à beira do colapso, com consequências impossíveis de prever.

É que, como se ficou a saber, entretanto, na segunda-feira, 07, em Pequim, o Governo de Xi Jinping largou um pequeno aviso aos EUA sobre as armas que tem no arsenal para retaliar e vendeu uma pequena quantidade de títulos do tesouro das gigantescas parcelas de dívida norte-americana que possui.

E o resultado foi uma subida repentina das taxas de juro nos EUA, o que deveria servir de aviso ao que pode suceder se Donald Trump e a sua equipa económica não estancarem esta ferida aberta na confiança dos agentes económicos planetários.

E o resultado está já à vista não apenas nos mercados energéticos mas também, e quiçá ainda mais severamente, nos mercados bolsistas, naquilo que pode levar a uma recessão global, para a qual, como avisava esta manhã o antigo ministro da Economia português, Pedro Siza Vieira, os países não estão, na generalidade, preparados.

Até porque Trump não dá mostras de puxar o travão de mão, mesmo com o "carro" a descer descontrolado a ladeira, como se viu quando a União Europeia, o mais chegado aliado dos EUA, lhe fez chegar a proposta sensata de uma reciproca solução de tarifas zero para ambos.

A resposta de Trump, aos jornalistas, a bordo do Air Force 1, sobre a possibilidade de aceitar essa fórmula de tarifas zero para resolver o problema, retorquiu abreviadamente com uma ameaça de ainda reajustar em alta as taxas já em vigor se "eles" não pagarem "muito dinheiro" aos Estados Unidos ou mudarem as suas fábricas para a "terra das oportunidades".

Para já, mostrando alguma fragilidade, os europeus anunciaram a disponibilidade de negociar até ao limite do possível antes de retaliar, embora a Comissão Europeia tenha anunciado que vai aplicar tarifas de 20% a 25% aos produtos Made in USA visto que foi esse o valor aplicado a quase todos os bens exportados do bloco europeu para os Estados Unidos.

Se este braço-de-ferro de Trump com o mundo, com excepção da Rússia, Coreia do Norte e Bielorrússia - países já assoberbados em tarifas ocidentais -, que ficaram de fora desta "punição" geral, não perder força, as economias planetárias poderão ter um abanão tão ou mais forte que os que sentiram na crise de 2008 ou mesmo na pandemia da Covid 19.

Combate que abrange inclusive as economias mais frágeis, como as africanas (ver links em baixo), incluindo a angolana, que apanhou com 32%, e que, como já avisaram a Goldman Sachs e a JP Morgan, conduzirá inevitavelmente a uma recessão global, apanhando a economia dos EUA como qualquer outra ou ainda mais.

Angola alert...

E há uma coisa que ninguém dúvida: um mundo em recessão não consome petróleo, o que é uma situação dramática em perspectiva para as economias petrodependentes, como é o caso da angolana, sendo, por isso, este um momento em que a equipa económica do Presidente João Lourenço não tira os olhos dos monitores com os gráficos dos mercados internacionais a flamejar...

Isto, porque, como é sabido, Angola é um dos países cuja economia mais depende das exportações de energia, especialmente o petróleo, que ainda responde por cerca de 90% das exportações, 35% do PIB e 60% das receitas fiscais, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O actual cenário internacional, que não era tão dramático há anos, tende a empurrar os preços para ainda mais longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa.

E a acrescentar a este cenário aterrador para as economias petrodependentes, a OPEP+, organização que junta desde 2017 os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia, entre outros "independentes", não podia ter escolhido pior o timing para iniciar o seu plano de reposição da produção que reduziu nos últimos anos para manter os mercados equilibrados.

E começou, com mais 138 mil bpd desde 01 de Abril, sem ter ainda feito ainda qualquer alteração a esse plano que prevê manter a retoma nos próximos meses ao longo do ano de 2025, repondo pelo menos pate significativa dos cerca de 6 mbpd enxaguados desde 2020, ano focal da pandemia da Covid 19.

E no que diz respeito a Angola, apesar de ser o 2º maior produtor subsaariano, se no caso das tarifas pouco ou nada pode fazer para mudar o mindset de Donald Trump, na OPEP deixou de ter qualquer peso depois de abandonar a organização no início de 2024.

E se nos próximos dias não acontecer uma retracção da guerra comercial declarada ao mundo pelo Presidente norte-americano, uma recessão global pode ser impossível de evitar... o que seria o pior dos cenários para as economias que mais dependem das exportações de crude, além dos efeitos nefastos concomitantes.