Os mercados, tanto os bolsistas como os petrolíferos, gostaram de ver a vitória do gigante asiático e a segunda maior economia do mundo contra a maior economia planetária e o país mais, em teoria, liberal do globo, voltando aos ganhos substanciais nas últimas horas.

Quando há duas semanas a Casa Branca declarou guerra comercial ao mundo, rapidamente ficou claro que era, afinal, um conflito de tarifas com a China, quando as taxas esdruxulas lançadas por Donald Trump foram suspensas a quase todos os países excepto a Pequim.

Primeiro 34%, depois mais 50%... e no fim somavam-se, em pouco mais de uma semana, 145% de tarifas sobre as importações à China que entrassem nos EUA, ao que Pequim respondeu com novas taxas alfandegárias até ao limite de 125%, quando deu por finda esta toada (ver links em baixo).

Aludiu o ministro do Comércio chinês à evidência de que a partir daquele montante de novos impostos, qualquer importação dos Estados Unidos seria improvável e imprudente, sendo o inverso igualmente claro para Pequim.

Ao invés, no que, parece agora óbvio Governo chinês optou antes por mostrar a Washington que tem outra artilharia pesada para usar, colocando no mercado uma pequena parcela da gigantesca dívida norte-americana que tem em sua posse.

E com isso provocou uma subida das taxas de juro, um crescimento dos custos da dívida pública, aumentando os riscos de uma recessão e abriu uma frente de guerra interna com o chefe da Reserva Federal que levou instabilidade e desconfiança aos investidores.

O resultado foi imediato e na Casa Branca rapidamente surgiram medidas de alívio na pressão sobre a economia chinesa, com Trump (na foto) a voltar atrás, criando excepções tarifárias para as componentes electrónicas Made in China, mas o que Pequim tinha na manga era ainda mais perigoso para os EUA.

Já esta semana, a China interrompeu a exportação de alguns minerais raros, que integram os 17 que são abrangidos pela denominação "terras raras", cujo mercado mundial é dominado em mais de 80% pelos chineses e sem os quais boa parte da indústria 2.0 ocidental não mexe.

Foi nesse momento que na Casa Branca apareceu Trump com a bandeira branca empunhada na forma de uma declaração, no meio de uma conferência de imprensa, citado pelos media internacionais, anunciando uma redução substancial das tarifas à China.

Trum procurou diluir a humilhação perante o maior adversário hoje dos EUA, que ameaça directamente a sua hegemonia global com duas décadas de crescimento económico acelerado, uma crescente influência no mundo... avisando que a redução "não será para zero".

A fricção entre EUA e China está, nos últimos anos, a subir de forma abrasiva, a ponto de os estrategas norte-americanos admitirem já como inevitável uma escalada da guerra comercial para um confronto militar mais dia menos dia, especialmente na vasta e estratégica região do Indo-Pacífico.

Nessa conferência de imprensa na Casa Branca, que levou a uma subida expressiva nos mercados petrolíferos, e nos bolsistas, com as bolsas de Tóquio e de Wall Street, por exemplo, a fecharem com robustos ganhos, Trump disse também que os EUA estão bem neste confronto" mesmo quando as evidências mostram o contrário.

Alias, internamente também se assistiu a um crescimento da fricção entre a Casa Branca e a Reserva Federal, a ponto de Trump ameaçar despedir o chefe do banco Central, Jerome Powell, porque este não foi suficientemente lesto na correcção das taxas em alta.

Isto, depois de também o seu secretário do Tesouro, Scott Bessent, que veio a público, segundo The Guardian, que cita ainda a Associated Press, lembrar que as tarifas altas não são sustentáveis aconselhando medidas "anti-inflamatórias" para a guerra de tarifas com a China.

E numa das suas expressões que quase ninguém percebe mas toda a gente procura adivinhar, Donald trump, na mesma ocasião, esta terça-feira, 22, admitiu que irisa ser "muito simpático com a China" e não vai "encostar o Presidente Xi (Jinping) à parede".

Pelo contrário, o Presidente dos Estados Unidos da América afirmou mesmo que a partir de agora os dois países "vão viver felizes e idealmente a trabalhar juntos", começando desde logo, como parece ser o caso, a seguir o conselho do seu homólogo chinês que tem insistido para que Washington troque o confronto pelo diálogo e as tarifas pela cooperação.

Esta diluição da tensão sino-americana deve abrir a porta para uma nova realidade marcada pela queda de barreiras alfandegárias, com evidente impacto nos mercados petrolíferos que estão esta quarta-feira, 23, a subir acentuadamente, e também nos bolsistas, quase tosdos em alta ou com fechos no verde.

E pode mesmo ser o novo azimute na política externa norte-americana, que tem neste confronto em recuo com Pequim e na questão ucraniana, envolvendo a Rússia, e no Médio Oriente, onde pontua o conflito israelo-palestiniano, as suas frentes mais abrasivas.

Se se confirmar a retoma cabal das relações com Moscovo e esta redução substantiva das tensões com Pequim, e se forem correctas as notícias que dão nota de que os EUA estão a contrariar a vontade do seu aliado no Médio Oriente, Israel, na sua convicta vontade de envolver Washington num ataque ao Irão, então Donald Trump pode ter mesmo decido - ver-se-á até quando - a ressurgir, como se afirmou na campanha, "o pacificador".

Recorde-se que quando Trump usou este tipo de terminologia, durante a campanha eleitoral para as eleições de Novembro de 2024, alguns dos seus apoiantes e aliados vieram a público defender que o republicano deveria ser um forte candidato ao Prémio Nobel da Paz.

Mas vai ser preciso esperar dias, ou mesmo semanas, porque se pode estar apenas perante mais uma jogada táctica da Casa Branca, porque ao mesmo tempo, Donald Trump anunciou a intenção de remover barreiras não-tarifárias a outros países a quem pede que apaguem as tarifas à importações dos EUA.

O que levou Pequim a lançar uma advertência global, sem destinatário mas dirigida a todos, no sentido de que a tomada de medidas e acordos comerciais com os EUA que prejudiquem, directa ou indirectamente, a China não serão esquecidos.

"A China opõe-se firmemente a que outras partes cheguem a acordos comerciais com os EUA a expensas dos interesses chineses", avisou o ministro do Comércio Wang Wentao.

Isto, quando, por exemplo, entre outros países, na Coreia do Sul, segundo The Guardian, as empresas locais receberam avisos de Pequim para severas consequências se exportarem para os EUA equipamentos ou armamento contendo componentes chinesas ou minerais estratégicos chineses, como, por exemplo, aqueles que a China agora retirou das suas exportações.