O Zimbabué aparece assim como um dos primeiros países africanos a ceder à guerra comercial declarada por Donald Trump na semana passada a quase todo o mundo, disparando tarifas contra tudo e contra quase todos, deixando de fora um pequeno grupo de países, incluindo a Rússia e a Coreia do Norte.
Quase todos os países foram colocados no mapa de "guerra" do Presidente norte-americano, com Angola a aparecer no conjunto dos medianamente atacados, com "apenas" 32% sobre as exportações para os EUA - China 54% -, e o Zimbabué com 15 está entre os menos visados.
O que Emmerson Mnangagwa disse para justificar a "rendição" à guerra norte-americana é que o Zimbabué visa erguer uma relação "positiva e mutuamente vantajosa" com os Estados Unidos da América.
Isto, apesar deste país da África Austral, que partilha assento na SADC com Angola, exportar quase exclusivamente tabaco e açúcar para os EUA, num valor global de 111 milhões de dólares, enquanto em sentido inverso a lista é longa e, apesar de em pequenas quantidades, abrange quase todos os sectores.
Os principais parceiros comerciais de Harare são a China, os Emiratos Árabes Unidos e a África do Sul e, segundo analistas, esta decisão de Emmerson Mnangagwa é apenas política, porque do ponto de vista comercial beneficia apenas os EUA.
Já no caso de Angola, o valor encontrado por Trump foi 32%, o que corresponde, na sua estranha fórmula para definir o valor aplicado a (quase) todos, que é metade da soma das taxas e impostos cobrados pelos países aos produtos Made in USA.
Por outras palavras: "Trump impõe tarifas recíprocas a Angola de 32%, depois de ter apurado que Angola impõe barreiras à importação de produtos dos EUA de 63% - decorrente da manipulação da taxa de câmbio e imposição de barreiras à importação", como explica o economista angolano Wilson Chimoco.
Segundo os dados estatísticos do Banco Nacional de Angola, em 2022, as exportações de petróleo para os EUA totalizaram 168,4 milhões de dólares, aumentando para 363,7 milhões em 2023 e atingindo 783,7 milhões USD em 2024.
Donald Trump, que correu a taxas aliados e rivais, afirmou que os Estados Unidos foram "pilhados e violados" pelos seus parceiros comerciais, e que "muitas vezes, os amigos são piores que os inimigos no comércio".
"A guerra comercial global ameaça alimentar a inflação e estagnar o crescimento", diz a Reuters sobre o futuro próximo, lembrando que entre os aliados dos EUA estão a União Europeia, que foi alvo de uma taxa de 20%, o Japão de 24%, a Coreia do Sul de 25% e Taiwan de 32%.
E os efeitos não tardaram. Tanto os mercados bolsistas como os mercados petrolíferos estão a levar com a forte turbulência gerada pela guerra de tarifas de Donald Trump, a ponto de, por exemplo, o barril de Brent, fundamental para Angola, ter perdido mais de 10 USD em apenas quatro dias.
As tarifas base entram em vigor a 5 de Abril e as taxas recíprocas mais elevadas a 9 de Abril.
Antecipando reacções contra a aplicação destas tarifas, o Presidente norte-americano deixou um aviso, em tom de admoestação: "Por isso, aos presidentes, primeiros-ministros, reis, rainhas, embaixadores e a todos os que em breve telefonarão a pedir isenções destes direitos aduaneiros, eu digo: acabem com os vossos direitos aduaneiros, eliminem as vossas barreiras, não manipulem as vossas moedas".
Trump acusou aliados e rivais de manipularem as suas moedas "como ninguém consegue acreditar, o que é uma coisa muito, muito má e muito devastadora para nós".
"Acabem com as vossas taxas, removam as vossas barreiras, não manipulem as vossas moedas e comecem a comprar produtos norte-americanos", declarou o Presidente norte-americano.