Por detrás desse momento, que ocorreu ainda ontem, quarta-feira, 19, estava, essencialmente, o recuo em perspectiva das limitações, devido às sanções dos EUA, às exportações russas para a Índia, através das sancionadas recentemente Lukoil e Rosneft.
Apesar deste contratempo nas exportações russas, o que sempre aloca ganhos ao barril porque reduz a oferta global, os analistas rapidamente desfizeram o "bónus" ao perceberem que o "output" russo anual não iria sofrer danos de monta.
Mas a que se deve então os ganhos registados já esta quinta-feira, 20, mesmo que ainda não existam certezas (ver aqui) sobre se o plano de paz russo-americano vai ser mesmo aplicado e aceite em Kiev? Simples: ao mesmo de sempre.
Com efeito, quase ao mesmo tempo, os mercados receberam dados sobre um declínio inesperado de queda nos stocks norte-americanos.
Em síntese, o que isto quer dizer é que o risco de excesso de oferta graças ao plano de paz para a Ucrânia, que deverá libertar a Rússia das sanções, pelo menos das americanas, porque as europeias devem demorar mais, está a ser diluído pelo maior que o previsto consumo nos EUA, demonstrado pela redução inesperada das reservas.
Para Angola, estas notícias são sempre uma faca de dois gumes, porque o país, embora esteja a preparar um novo preço médio de referência para o OGE 2026, de 61 USD, bastante abaixo dos 70 do ano em curso, precisa do Brent acima desse valor para poder atacar a crise económica com mais "poder de fogo", a estabilidade é um valor precioso porque permite definir metas com maior solidez.
E com a produção nacional em continuada quebra, já abaixo do 1 mbpd, embora com frequentes oscilações acima desta fasquia, face à dependência que o país tem do sector petrolífero, igualmente a decrescer nos últimos anos, o que melhor serviria as contas públicas era não apenas um regresso aos 70 USD como um aumento substantivo da produção.
Com uma dependência tão vincada das exportações de crude, em Angola, como, de resto, outras dezenas de países em todo o mundo, este momento...
... é mais uma razão para não se perder os mercados de vista
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora acima do OGE 2026, que contempla um ajustamento em baixa deste valor, 61 USD, valor conservador mas aconselhável, atendendo aos altos e baixos globais...
Ainda assim, Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente â beira de 1 milhão de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.

