E se fosse possível ver através das paredes de muitos gabinetes governamentais nos países com economias mais expostas a estas variações no preço do barril, como é o caso de Angola, poder-se-ia ver algumas rolhas a saltar de garrafas de champanhe.~

E não é para menos, porque o barril de Brent, em escassas horas deu um pulo de mais de 5%, saltando dos desesperantes 62,3 USD para os 65,8 USD perto das 11:00, hora de Luanda.

Embora os brindes possam ter demorado pouco nesses gabinetes governamentais, porque esta subida, mesmo que expressiva, ainda deixa o Brent longe dos valores de há escassas três semanas e, no caso de Angola, a quase 5 USD do valor médio de referência anual usado para a elaboração do OGE 2025.

Por detrás desta montanha russa de emoções e milhões está, directamente, as sanções anunciadas pelos Estados Unidos sobre as petrolíferas russas Lukoil e Rosneft no âmbito das negociações para um cessar-fogo na Ucrânia.

O Presidente Donald Trump já tinha ameaçado Moscovo com pesadas sanções se Vladimir Putin não viesse para as negociações com um conjunto de cedências sobre as suas posições maximalistas para aceitar terminar as hostilidades na Ucrânia e agora apresentou o resultado dessas ameaças.

A explicação veio pela boca do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que disse que as sanções vão incidir sobre a máquina de financiamento da guerra da Rússia, que são as duas maiores empresas do sector, a Lukoil e a Rosneft, que já tinham sido sancionadas novamente pelo Reino Unido e voltaram a ver os "castigos" agravados agora pela União Europeia no seu 19º pacote de sanções de guerra.

Embora o salto nos gráficos seja importante, os seus efeitos tendem a ser modestos no tempo, porque, como estão a sublinhar os analistas mais experimentados, estas sanções não deverão provocar dor no Kremlin de forma significativa, porque o que é relevante para os cofres russos já foi "atacado" há muito.

Estas sanções, aprumava Tiago André Lopes na CNN Portugal, vão incidir mais nos proprietários dos franchising's nos EUA e no Reino Unido que ostentam as bandeiras destas duas empresas russas, porque há muito que tecnicamente não são combustíveis russos que vendem... devido, precisamente às sanções.

Com o passar dos dias, este sentimento positivo nos mercados deve diluir-se, apontam os analistas, mas a forma como o cenário vai evoluir internacionalmente só será visível depois de se conhecer, e se vier a suceder, a resposta russa a este "desafio" norte-americano, que não passa apenas pelas novas sanções, conta igualmente com o cancelamento por Trump do encontro que estava agendado para Budapeste com Vladimir Putin.

Com uma dependência tão vincada das exportações de crude, Angola, como, de resto, outras dezenas de países em todo o mundo, este momento...

... é mais uma razão para Angola não perder os mercados de vista

O actual cenário internacional, apesar destas boas notícias mais recentes, tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido ao inesperado.

Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.