Esta sexta-feira, 09, chegou com uma surpreendente metamorfose que começou na segunda-feira, 05, altura em que muitos analistas temiam uma espiral negativa devido a alguns factores já bem conhecidos, puxando o barril de Brent para baixo dos 60 USD.

Entre esses factores abrasivos estavam, entre outros, as tarifas de Trump sobre a China, a ameaça dos Houthis no Mar Vermelho, ou ainda a decisão, que muitos analistas tardam a perceber o seu racional, de iniciar em Abril uma reposição acelerada da produção.

Desde 2020, a OPEP+, organização que desde 2017 agrega a Rússia e mais alguns exportadores não-membros do "cartel", à OPEP, enxaguou quase 6 milhões de barris por dia à produção regular, como forma de controlar os preços nos seus períodos mais escorregadios.

O que reforça a incompreensão quase geral do porquê da organização, especialmente quando se sabe que sauditas e russos carecem de preços altos mais que nunca devido aos seus défices orçamentais, estar a repor quase 955 mil barris por dia em apenas três meses, incluindo Junho.

No entanto, uma possibilidade é que sauditas e russos estejam a fazer um "favor" a Donald Trump, que precisa, como o próprio tem sublinhado, de petróleo barato para conseguir lidar com a alta inflação que afoga o poder de compra dos norte-americanos.

Em Abril foram 131 mil bpd, em Maio 411 mil e em Junho, de acordo com o calendário já conhecido, outros 411 mil bpd vão encharcar os mercados, num tempo em que a matéria-prima está a sofrer uma tremenda pressão do maus desempenho da economia mundial.

Isso mesmo foi na semana passada confirmado pelo FMI e pelo Banco Mundial, com um relatório notoriamente pessimista para a economia mundial, e não apenas devido às tarifas ainda por perceber o seu objectivo de Trump, deixando uma sombra pesada para 2025 e 2026.

No entanto, os 64,15 USD, uma subida de quase 2%, alcançados esta sexta-feira, 09, perto das 14:00, hora de Luanda, no barril de Brent, são já o efeito positivo do anúncio de conversações entre norte-americanos e chineses, num esforço mútuo para desanuviar a guerra das tarifas.

É que, da mesma forma que quando dois elefantes lutam, o capim é quem mais sofre, quando as duas maiores potências económicas mundiais se disponibilizam para baixar a intensidade da luta, o crude, enquanto combustível do mundo ainda mais relevante, robustece.

No entanto, estes 64 USD, sendo uma valorização importante, ainda não aliviam de forma sólida o fardo que é um barril a valer menos que 70 USD para a economia angolana, sendo a razão o facto de o OGE 2025 nacional ter sido elaborado com esse valor como referência.

E enquanto assim se mantiver, abaixo dos 70 USD, o risco da necessidade de rever o documento maestro das contas nacionais está presente, como, de resto, a ministra das Finanças, Vera Daves, já o admitiu.

Conversações essas que começam a um nível elevado, já neste Sábado, 10, na Suíça, entre Scott Benson, secretário do Tesouro norte-americano, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, tendo o Presidente Trump já admitido uma descida substantiva das tarifas sobre bens Made in China.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional, que não era tão dramático há anos, desde a pandemia da Covid 19, tende a manter os preços cada vez mais longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.