Para tingir os mercados petrolíferos de vermelho contribuiu ainda o anúncio da OPEP+, que agrega os Países Produtores de Petróleo (OPEP) e a Rússia, além de outros exportadores "net", de que vai começar já em Abril a repor a produção enxugada para equilibro dos preços...

Além disso, a ajudar à "festa" surgiram nas últimas horas sinais preocupantes de recessão nos EUA, o que obrigou Donald Trump a vir a terreiro admitir que o período económico de transição para a "America great again" poderá ser mais difícil que o perspectivado.

Esta foi a receita que levou a que o barril de Brent, especialmente relevante para Angola pela condição de referência principal para as suas exportações, chegasse aos perigosos 68 USD na semana passada, deixando em brasa o Governo de Luanda por causa do valor médio de 70 USD por barril usado para elaborar o OGE 2025.

Apesar de a receita não ter mudado radicalmente, a ela foram aduzidos alguns condimentos que fizeram com que o verde voltasse ao mercado do Brent, com uma subida que começou na segunda-feira e se manteve nesta terça-feira, 11, mas ainda abaixo da linha de conforto dos 70 USD, na perspectiva angolana.

Por exemplo, depois de terem sido forçados a fazer um agrado a Donald Trump, anunciando um aumento da produção, porque em Washington o Presidente norte-americano precisa de petróleo barato para ajudar a economia e combater a inflação, a OPEP+ está agora a repensar.

Porém, depois de provar o cozinhado, o "cartel" decidiu vir a público anunciar possíveis alterações, avisando que o acrescento de "sal", ou 138 mil barris por dia em Abril se vão manter como anunciado, mas os aumentos mensais subsequentes estimados só entram na receita se os mercados absorverem os barris extra.

Alguns analistas admitem mesmo, naquilo que pode dar algum alívio ao Executivo de João Lourenço, que se o barril se mantiver por um período significativo abaixo dos 70 USD, então a OPEP+ não terá pejo em voltar a enxugar os mercados introduzindo novos cortes à produção global da organização.

Isto, porque a fasquia dos 70 USD é vista globalmente, sendo esse o caso de Angola, a parir da qual o negócio desta matéria-prima é sustentável e permite às economia petrodependentes respirar sem suporte artificial, mesmo que esse valor seja consolidado artificialmente.

Também a ajudar à melhoria dos preços por barril, como aponta a Reuters, surge o regresso das sanções norte-americanas à Venezuela, com a Administração Trump a retirar a licença à Chevron que permitia a esta multinacional produzir crude naquele país sul-americano.

Além disso, a ameaça de novas sanções ao Irão, incidindo especialmente sobre o seu sector petrolífero, e ainda à Rússia, mesmo que este gigante da exportação e produção já esteja a ser severamente sancionado, estão a ajudar à saída dos mercados do vermelho da última semana.

Mas há riscos no horizonte que não estavam previstos nem no melhor "panic room, como o resvalar das bolsas norte-americanas, especialmente as tecnológicas, incluindo a Tesla, de Elon Musk, depois de Trump ter disparado a rajada de tarifas sobre as economias concorrentes.

Para já, o Presidente norte-americano foi obrigado a dar um passo atrás e anunciar um adiamento das tarifas mais prejudiciais, ao mesmo tempo que reconhecia dificuldades extra para a economia nacional, que o levou a vir falar de uma transição agreste até chegar ao "el dorado" da "America great again".

É neste "refogado" que o barril de Brent chegou esta manhã de terça-feira, 11, perto das 11:20, hora de Luanda, estava a ser vendido a 69,70 USD, para contratos de Maio, com ganhos de 0,74% face ao fecho da sessão anterior mas ainda abaixo do valor médio com que foi elaborado o OGE 2025 em Angola.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a empurrar os preços para muito próximo, ou mesmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Preços estes que, apesar de ainda estarem na margem de proximidade desse valor, estão agora mais próximos da linha em que os alarmes começam a disparar em Luanda.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais periclitantes e mais expostas a qualquer desequilíbrio internacional.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.