Uma das ameaças dos EUA para pressionar a Rússia a aceitar parar as hostilidades são novas sanções ao seu sector energético, o que, se se vier a verificar, fará com que o crude valorize fortemente considerando que se trata de um dos maiores exportadores do mundo.
Para já, este factor está apenas em pano de fundo nas análises dos especialistas, mas poderá saltar como milho em óleo quente para os gráficos dos mercados quando se conhecer a resposta de Moscovo ao acordo entre Kiev e Washington em Jeddah, na Arábia Saudita.
O que quer dizer que nas próximas horas, provavelmente até sexta-feira, 14, para quando está prevista uma conversa telefónica entre os Presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, os mercados vão manter-se atentos mas sem soprar muito nestas brasas.
No entretanto, os factores que movem as placas tectónicas dos mercados petrolíferos são outros, mas com os mesmos protagonistas, ou seja, as tarifas alfandegárias atiradas por Trump contra a União Europeia, o Canadá e o México, com avanços e recuos estratégicos.
E também o enfraquecimento do Dólar norte-americano, que puxa os preços para cima, porque os países terceiros precisam de menos das suas moedas nacionais para adquirir os dólares com que compram a matéria-prima, o que choca com forças contrárias, como sinais de que a economia dos EUA está a enfraquecer...
Além disso, as indicações contraditórias emitidas pela OPEP+, primeiro sobre uma recuperação de parte da produção enxaguada nos últimos anos já para Abril, e depois indicando que quaisquer novos aumentos vão depender das condições de mercado, se podem ou não ser absorvidas sem impactar substancialmente nos preços do barril.
Além disso, a par do enfraquecimento da economia dos EUA, que obrigou Trump a admitir que será necessário um período de transição difícil para chegar à sua "America Great Again", também da China não chegam os melhores sinais, com impacto directo no consumo global de crude, sendo como é o seu maior importador mundial.
A tudo isto, Angola, como, de resto, as economias petrodependentes, dedica uma especial atenção, considerando que o OGE 2025 foi elaborado com base no barril de Brent nos 70 USD de valor médio anual...
E esse valor tem sido relativamente conseguido, mas com oscilações em baixa que não ajudam a tranquilizar a equipa económica e das finanças do Governo de João Lourenço, embora esta quarta-feira, 12, tenha voltado a subir acima da linha de água.
Pouco passava das 14:30, hora de Luanda, quando o barril de Brent atingiu os 70,50 USD, mais 1,35% que no fecho da sessão anterior, isto para os contratos de Maio, quase a chegar ao conforto de 1 dólares acima da linha de água.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional tende a empurrar os preços para muito próximo, ou mesmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Preços estes que, apesar de ainda estarem na margem de proximidade desse valor, estão ainda muito próximos da linha em que os alarmes começam a disparar em Luanda.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.
No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais periclitantes e mais expostas a qualquer desequilíbrio internacional.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.