Quais são os principais desafios do sector petrolífero?
O principal desafio é estancar essa queda da produção e haver novas descobertas. O desafio é atrair investimento para fazer-se mais exploração e descobertas comerciais. Porque, independentemente do debate que nós tenhamos sobre a gestão dos recursos petrolíferos, a verdade é que o petróleo ainda tem muito para dar a Angola. A Namíbia, como tem um ambiente de negócios melhor do que o nosso, muitas petrolíferas querem investir lá e não cá.
Do seu ponto de vista, que melhorias podem ser implementadas no nosso ambiente de negócios, de modo a trazer mais investidores?
Creio que algumas das melhorias devem ser feitas fora do sector petrolífero, como, por exemplo, das vias de comunicação, melhorias na questão da saúde, porque muitos investidores não vêm para cá porque há essas limitações em termos de saúde, em termos de vias de comunicação, o custo hoje não é um problema tão grave como era há 15 anos.
O outro aspecto é também melhorias na máquina administrativa do Estado, como, por exemplo, a Administracção Geral Tributária (AGT), tem sido bastante activa na cobrança de impostos e ainda bem, só que muitas vezes tem ido para além do seu papel e creio que isso tem que ser corrigido para que o sistema fiscal seja também equilibrado.
A transição energética marca agenda nacional e internacional de vários países. Nesta senda, que papel as energias limpas desempenham no actual cenário económico global e, particularmente, em Angola?
Isto é muito importante porque nós temos agora uma orientação quase política a nível internacional, que tem a ver com as alterações climáticas. Esse é o grande factor que influencia a transição energética e basicamente a ideia é a substituição das fontes fósseis por fontes alternativas ou utilização de fontes fósseis de uma forma mais racional e com mais sustentabilidade ambiental. Qual é o impacto que isso vai ter em Angola? Nós podemos ter menos investimento porque muitas petrolíferas vão passar a desinvestir do sector do petróleo, vão passar a investir mais no sector do gás natural e energias renováveis, essencialmente, electricidade.
Quais são os pontos de equilíbrio para contrapor esse desinvestimento que poderá surgir?
Eu tenho insistido muito que temos que começar a olhar para a Ásia.
Aqui em Angola, por várias razões, até pela relação que nós tivemos com a China sobre o endividamento, as pessoas vêem o investimento das grandes empresas asiáticas mais na perspectiva de linhas de crédito. Eu não vejo assim. Eu vejo a Ásia como futuro. O centro económico do mundo está a transferir-se do Atlântico para a Ásia e o futuro também do petróleo e gás.
Recentemente, o ministro Diamantino Azevedo disse que a nossa transição energética não deve ser imposta. O que pode depreender desse "recado"?
Isso é uma frase muito importante e revela algo que é muito importante. Nós temos responsabilidades comuns, mas diferenciadas, porque não tivemos uma revolução industrial em Angola. Aquilo que nos pedem a nós não pode ser o mesmo que pedem a um país rico, como o Reino Unido ou a França, que são países que contribuíram para a destruição das emissões.
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