Donald Trump e Xi Jinping optaram por uma solução que dá para tudo mas que, no fim da linha, é um compromisso assente em boas intenções declaradas que podem conduzir a uma tragédia económica global. Onde Trump disse que o resultado "foi melhor que o esperado", XI sublinhou que os EUA "não vão aplicar mais tarifas" aos produtos Made in China.
Como pano de fundo para esta guerra comercial, recorde-se, estão longos meses de sobressaltos contínuos, com Donald Trump e decretar mais de 250 mil milhões de dólares em tarifas sobre os bens importados da China e Pequim a responder com mais de 50 mil milhões de USD de taxas extraordinárias sobre importações Made in USA.
Pelo meio surgiu um ataque avassalador de Washington ao gigante das telecomunicações chinês, a Huawei, a que se acrescenta a ameaça de Trump em aplicar mais 300 mil milhões de dólares em taxas extraordiárias, o que, a suceder, abrangeria a totalidade das importações anuais dos EUA à China, estimadas em cerca de 500 mil milhões USD.
Com isto, as bolsas mundiais sofreram sucessivos choques térmicos e os mercados petrolíferos ressentiram-se violentamente - causando alguns sustos à economia angolana, tal como a todos os países com forte dependência da exportação da matéria-prima - a ponto em Maio o barril ter caído mais de 10 USD em pouco mais de uma semana, o que já não sucedia com este volume de perdas em tão pouco tempo desde 2014.
A síntese do que se passou na conversa mais aguardada em todo o mundo este ano - entre Jinping e Trump no Sábado - é esta: os dois líderes das duas maiores economias planetárias assumiam duas garantias, que passam por voltar à mesa das negociações, que estavam encalhadas há meses, sob a garantia de que os EUA não vão avançar com novas tarifas até que das conversações que se vão seguir, surja uma luz no meio do túnel.
E desta vez terá de ser mesmo uma luz que ilumine o túnel totalmente, porque já não vai chegar ser vista no fundo do túnel, que foi o que sucedeu em Dezembro do ano passado, em Buenos Aires, Argentina, quando os dois homens se sentaram à mesa e concordaram numa espécie de intervalo nas agressões mútuas que, pouco tempo depois, em Abril/Maio, se deterioraram de novo, a ponto de terem estado quase a rebentar com a escala, com as bolsas e os mercados do petróleo - Angola que o diga - em polvorosa.
Para entender este impasse, os avanços e recuos sucessivos, é preciso ter em conta o que exige Trump, que acusa a China de estar há anos, por causa das más políticas dos seus antecessores, especialmente Barack Obama, a roubar aos EUA 500 mil milhões de dólares por ano, quer que o Estado chinês deixe de distorcer os mercados ao apoiar fortemente as empresas privadas que exportam para os Estados Unidos, que Pequim deixe de "roubar" tecnologia norte-americana e que, entre outras exigências, abra a sua economia a mais produtos Made in USA.
Mas, se este desfecho permitiu ao mundo respirar um bocadinho, prevendo-se, por isso, uma resposta positiva dos mercados, uma alta ligeira nas bolas e um aumento no valor do barril de petróleo, a verdade é que, para já, os dois gigantes mundiais não estão nem mais perto nem melhor posicionados para um acordo sólido do que estavam na sexta-feira, quando começou o G20 de Osaka.
No rescaldo deste encontro, Xi, citado pela agência Xinhua, veio dizer que a China está nestas negociações "de forma sincera e com vontade de reduzir ao máximo as diferenças", sublinhando que, para isso, "as conversações devem seguir com base no respeito mútuo e na equidade", falando abertamente sobre as preocupações mútuas, porque as grandes questões levantadas em Maio, quando a paz foi posta em causa, não se moveram do sítio onde estavam.
Por seu lado, Trump disse estar "muito satisfeito" com o encontro com o seu "amigo", que foi melhor que o esperado, admitindo que a China, "em questões de soberania e dignidade, tem de salvaguardar os seus interesses".
Para já, fica apenas como seguro que os dois lados da barricada comercial já perceberam que só têm a perder com a manutenção deste quezilento processo, a China, desde logo, pelo rombo que sentiu no casco do porta-contentores da sua economia: as exportações, que caíram de forma significativa, baixado imediatamente os dados sobre o crescimento.
Nos EUA, Trump, que tem nos estados agrícolas uma das principais bases de apoio eleitoral, por causa desta guerra comercial com a China, e com eleições em 2020, começa a sentir vigorosamente o peso do descontentamento dos agricultores com as quebras brutais das importações chinesas como represália, bem como a ameaça séria que é Pequim deixar de vender "terras raras", cujo mercado mundial domina em absoluto, e que são essenciais para a sua indústria tenológica de ponta.
Nas cedências de ambos os lados, poderão estar, como admitem alguns analistas, questões ligadas às negociações entre os EUA e a Coreia do Norte, tendo Trump seguido de Osaka para a Península Coreana, onde se encontrou com Kim Jong-un na zona de divisão entre as duas Coreias, ou ainda na questão do Irão, por causa do acordo nuclear, que a China critica os EUA por dele erem saído de forma unilateral.
Um primeiro sinal do potencial de sucesso destas tréguas poderá ser visto já amanhã, segunda-feira, na abertura dos mercados petrolíferos e nas bolsas, sempre com os radares afinados para detectar as mais ligeiras nuances sobre as verdadeiras intenções por detrás deste tipo de negociações e declarações.