A Gemcorp Capital LLP é a empresa que criou o Gemcorp Fund I Limited, o fundo mutuante da linha de financiamento de 600 milhões USD negociada com o MinFin em 2016 (ver notícia).
No entanto, este fundo não é gerido em Londres, na sede da empresa, mas sim no paraíso fiscal das Ilhas Caimão, onde a entidade gestora é a Gemcorp (Cayman) Limited, uma de várias entidades que os fundadores da Gemcorp criaram em offshores. É esta empresa, aliás, que detém outra empresa britânica, a Gemcorp Capital (Services) Limited, que é a entidade que gere os funcionários da LLP.
A lista de Gemcorps não se fica por aqui e a análise dos relatórios de contas disponíveis online revela várias empresas (quase) homónimas nos paraísos fiscais da Ilha de Jersey, em Malta ou nas Ilhas Caimão, a par de outras tantas nos Emirados Árabes Unidos (Dubai), na Suíça (Genebra) ou no Luxemburgo, entre as quais há uma complexa teia de serviços, comissões e equalização de dividendos.
É também nestes locais que foram constituídas algumas das empresas que venderam bens e serviços aos negócios geridos pelos fundos da Gemcorp Capital LLP, nomeadamente as várias Kingbird, como as que venderam a Angola bens alimentares, equipamento médico e medicamentos.
Na prática, o grupo tem vários tipos de empresas que permitem que a Gemcorp seja, simultaneamente, gestora, intermediária mutuante, trader e importadora.
Em comum, têm na maior parte dos casos o fundador ou principal accionista, Atanas Bostandjiev, que é actualmente CEO da Gemcorp Capital LLP. Antes, este gestor búlgaro naturalizado na Inglaterra, onde foi CEO do banco russo VTB Capital (2011/2014), passou também pelos bancos de investimento norte-americanos Goldman Sachs (2008/2010) e Merrill Lynch (2001/2008).
Aliás, os restantes elementos da equipa executiva têm perfis profissionais com passagem pelo mesmo tipo de instituições.
Recentemente, a Gemcorp marcou presença na cimeira Rússia-África, em Sochi, e acordou a criação de um mecanismo de financiamento público russo a países africanos no valor de 5 mil milhões USD, com o Sberbank (cujo maior accionista é o banco central da Rússia) bem como com o estatal VEB (banco de desenvolvimento) e com o Russia Export Center (um instituto de apoio às exportações).
Na Rússia, o grupo é representado pela Gemcorp Commodities Trading Rus LLC, filial que esta semana passou a integrar a União dos Exportadores de Grãos, uma organização criada em Abril, com apoio do Ministério da Agricultura da Federação Russa, e que já junta 70% dos produtores e exportadores russos de grãos e leguminosas.
Globalmente, o grupo de investimento tem apostado nos mercados emergentes, nomeadamente para a negociação de bens essenciais, como alimentos e medicamentos.
É o caso do recente negócio na Etiópia, onde vai fornecer 900 mil toneladas de trigo de origem russa, ucraniana e romena.
Também no Zimbabué, a Gemcorp vai emprestar 250 milhões USD para aquisição de medicamentos e de combustíveis.
Num artigo recente da Bloomberg, a Gemcorp é considerada hoje como um "braço armado da Rússia para o comércio", mais precisamente para reconquistar o espaço estratégico perdido no continente africano. Ou seja, o fundo desenhou o seu mapa estratégico contemplando países com economias fragilizadas e dependentes de financiamentos para garantirem as suas importações.
Desde o início dos negócios em Angola, foram também constituídas em território nacional quatro sociedades anónimas com a designação Gemcorp, duas delas (Commodities Logistics e Commodities Trading) renomeadas de anteriores sociedades com a designação Kingbird, que funcionam como sociedades importadoras.
No País, Atanas é vice-presidente do Banco Millenium Atlântico, que é detido em 1,9% pelo Gemcorp Fund I Limited.