A próxima reunião da OPEP+, que estava prevista para a segunda semana de Junho, poderá, segundo avançam hoje agências e sites especializados, ser antecipada para a próxima quinta-feira, 04, uma alteração de calendário que está a ser vista pelos mercados como sinal de que nem tudo está bem no seio do "cartel".

Por isso, os principais mercados mundiais, o WTI de Nova Iorque, que define o valor do crude consumido na maior economia do mundo, os EUA, e o Brent, de Londres, onde é selado o valor médio das exportações angolanas, e rege os negócios petrolíferos na Europa e em grande parte da Ásia, mesmo que existam nuances importantes neste "mapa", iniciaram hoje a sessão com um sentimento pessimista.

E não é para menos, porque, segundo a "vigilância" que alguns organismos fazem à produção dos países membros da OPEP e da OPEP+, o acordo de Abril que baixava a produção em 9,7 mbpd em Maio e Junho, está longe de estar a ser cumprido, ficando-se, segundo as contas da Reuters, pelos 74%, o que é um indicador de fragilidade para os acordos firmados por esta organização.

Recorde-se que a crise pandémica retirou, desde Janeiro até finais de Abril, 70% do valor do barril que caiu de quase 69 USD para pouco mais de 20 dólares em meados de Abril, estando agora a recuperar ligeiramente mas ainda aquém do desejado pelos membros, quase todos eles a atravessar graves crises por causa da perda de valor da matéria-prima, como é o caso de Angola.

Hoje, o barril de Brent, cerca das 11:00, estava a perder 0,16%, para 37, 78 USD, em relação à sessão de sexta-feira, enquanto o WTI estava, à mesma hora, a valer 35,15 USD, menos 0,96%, ambos para contratos de Julho, situação que está a deixar um amargo de boca entre os países que mais dependem das vendas da matéria-prima.

Mas, sublinhe-se, esta ligeira queda não ensombra totalmente o bom comportamento do petróleo no mês de Maio, que tem vindo a mostrar sinais de recuperação sólidos e à medida do aligeiramento do confinamento nas grandes economias depois de dois a três meses de paragem quase total da actividade económica por causa da Covid-19.

Todavia, a recuperação das economias, que deveria suprimir os outros 20 mbpd, além dos 10 mbpd a cargo da OPEP+ - a crise levou a uma redução de 100 mbpd para menos de 70 mbpd -, não está a ocorrer com a velocidade desejada, sendo as razões, entre outras, a extensão do braço de ferro comercial dos EUA com a China, os protestos nas grandes cidades norte-americanas devido à morte de George Floyd, ou ainda às notícias de que nalguns países estão a retomar algumas das medidas contra a pandemia, como é o caso da própria China, onde tudo começou em Dezembro de 2019.

E é perante este conjunto de incertezas que a OPEP+ volta a sentar-se à mesa na quinta-feira, para analisar e decidir se o plano de cortes, inicialmente previsto apenas para os meses de Maio e Junho, fica mesmo como está ou é prolongado, e para que nova data.

Os analistas estimam que o mais certo é que a OPEP+ não tem outra saída que não seja prolongar o plano de cortes por, pelo menos mais dois meses, deixando em aberto a possibilidade de uma nova extensão se se verificar necessário.

Se essa extensão for por três meses, como defende hoje, citado pela Reuters, Howie Lee, analista do banco OCBC-Singapura, "pode acontecer que o barril chegue nesse período à casa dos 40 USD".

Para já, o que se sabe, segundo fontes citadas oficiosamente pelas agências é que a Arábia Saudita vai avançar com uma proposta de extensão dos actuais cortes de 9,7 mbpd, que deveria terminar em finais de Junho, até ao final do ano, enquanto a Rússia - como tem sido hábito, Moscovo resiste a aderir aos planos sauditas - não parece ter especial interesse em ir tão longe.

Um dos problemas é que os países membros da OPEP+ têm mais com que se preocupar que com o diferendo Moscovo-Riade, porque o acordo em vigor, em Maio, ficou abaixo dos 75%, ficando-se pelos 5,91 mbpd em vez dos 9.7 mbpd, ou seja, menos 4,48 milhões de barris por dia, segundo cálculos avançados pela Reuters.

Na linha da frente dos incumprimentos, estão a Nigéria e o Iraque, o primeiro atingindo apenas 19% do prometido e o segundo ficou pelos 38%, o que, somando outros incumprimentos, dá um sinal aos mercados negativo e isso foi hoje notório, com a abertura da semana em queda, tanto no Brent como no WTI.