Pelo menos é isso que estima a Agência Internacional de Energia (AIE), que é o organismo global com mais informação armazenada sobre este sector, e espera a Goldman Sachs, um dos candelabros mais flamejantes de Wall Street, que o barril de Brent vá de encontro, não por isso o dizem, claro, às aspirações do Executivo de João Lourenço, a braços que está com uma ruidosa tempestade cambial e um severa crise económica.
Para o Governo angolano, a questão mais relevante não é que a quebra na produção dos últimos anos está a retirar uma boa parte do potencial desta valorização do barril de Brent nas últimas semanas, a questão essencial é: o que seria de Angola com uma quebra de produção e uma repentina perda no valor do barril de igual monta face aos problemas que enfrenta?
Sendo verdade que a quebra na produção é superior aos ganhos da recente valorização, e basta fazer estas contas com menos cerca de 700 mil barris face a valores de há pouco mais de uma década, os actuais 92 USD que a medida padrão internacional vale são um balsamo para os pruridos gerados pela perda de vigor acelerada do Kwanza e a inflação galopante que o país vive, além da aparente complexidade na diversificação da economia.
No recente documento onde a AIE antecipa o seu Outlook anual, previsto para ser conhecido em Outubro, é dito preto no branco que os cortes na OPEP+ (3,6 mbpd), a que acrescem os feitos de motu proprio pela Arábia Saudita (1 mbpd) e pela Rússia (300 mil bpd), vão gerar, a partir de Setembro em diante, um desequilíbrio nos mercados a favor da escassez face à procura, o que levará o crude para um prisma de ascensão que, acrescenta a Goldman Sachs, não deverá parar antes dos 110 USD por barril de Brent.
O problema pode ainda ser mais severo se estes dois produtores colocados entre os três maiores do mundo e os dois maiores exportadores do planeta optarem, em Dezembro, por alongar esta estratégia para o 1º trimestre de 2024.
Caso não o façam, os mercados tenderão para o equilíbrio, mas até que os stocks das maiores economias sejam repostos, muito petróleo passará pelos oleodutos.
Os 92,49 USD que estava a valer o barril de Brent nesta quinta-feira perto das 09:00, hora de Luanda, mais 0,65% que no fecho de quarta-feira, mostra de forma evidente que a tendência é de subida e isso não pode deixar de provocar um brilhozinho nos olhos dos governantes angolanos.
Isto, porque a situação vista de Luanda...
... sendo Angola um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, esta consolidação dos preços do Brent acima dos 90 USD é uma excelente notícia, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.
Se continuar assim por muito tempo, as consequências podem ser bastante positivas porque o sector petrolífero continuará a gerar superavit que serve ao Governo para investir além do básico. E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser reduzidos, devido ao papel insubstituível, para já, das receitas petrolíferas no PIB.
O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.