Warren Buffet, normalmente activo, através da sua holding, a Berkshire Hathaway, na aquisição de matérias-primas ou companhias em saldo para com elas fazer fortunas colossais, desta vez, mesmo com o crude em valores negativos, como esteve em Abril o WTI de Nova Iorque, que chegou a estar a 40 USD negativos, optou antes por não se mexer, vendendo mesmo as suas participações no sector da aviação, um dos mais fustigados pela actual crise global arrastada pela pandemia da Covid-19.

O multimilionário norte-americano e conhecido filantropo, mundialmente visto como o oráculo (adivinho) de Omaha, foi mesmo dando sinais de que não acredita que os mercados petrolíferos possam ser bons investimentos nestes conturbados tempos, nem o negócio da aviação, onde perdeu mais de 40 mil milhões com os seus investimentos nas companhias aéreas.

"Buffet está enganado!", atirou o igualmente multimilionário egípcio Naguib Sawiris - o mágico, também ele dono de fundos de investimento sempre muito atentos a possíveis aquisições em saldo, tendo mesmo, apesar de o seu core business serem as telecomunicações e as novas tecnologias, através da sua gigantesca Orascom Telecom Media and Technology Holding S.A.E, afirmado que vai investir em companhias aéreas no momento em que o norte-americano acaba de se desfazer da quase totalidade dos seus investimentos no sector dos transportes aéreos.

Mais, o homem forte da Orascom Telecom Media and Technology Holding S.A.E, ao contrário de Buffet, que admitiu que o negócio do petróleo está pouco ou nada atraente, deixando pungentes dúvidas sobre a sustentabilidade do sector petrolífero, aposta em como o barril de crude, em 18 meses, vai estar acima dos 100 dólares.

Se se fosse medir a razão de um e de outro pelo número de zeros nas suas contas bancárias e activos em carteira, Warren Buffet tinha a maior parte da razão, com mais de 65 mil milhões de dólares, enquanto Sawiris tem uma fortuna calculada à volta dos 7 mil milhões, mas não é assim que a razão se mede no universo dos negócios, porque o egípcio é bastante mais novo, 64 anos contra os experientes 89 do norte-americano.

Para já, Naguib Sawiris está a chegar aos grandes palcos dos media globais colocando em causa, nas declarações à CNBC, a visão de Buffet, que é considerado como o grande oráculo de Omaha, afirmando que vai investir no crude porque o barril de petróleo vai saltar para cima dos 100 USD em ano e meio, o que, no universo dos analistas do sector da energia, e quando o seu valor está abaixo de 30 USD, é difícil de crer que tal venha a suceder.

Pior que isso foi contrariar a voz do oráculo de Omaha quando este sai do negócio da aviação comercial e o mágico egípcio entende que esta é a hora de apostar nas companhias aéreas, mesmo quando estas estão todas no chão e a sufocar em prejuízos gigantescos e com pedidos de emergência aos governos, fazendo lembrar a frase do mais famoso bilionário de todos os tempos, o Barão Rothschild, que defendia que "o tempo para comprar é quando o sangue corre pelas ruas", ou seja, quando a crise ou a guerra, esmaga a economia, pode-se comprar em saldos e com isso amealhar milhões quando tudo voltar ao normal, porque a seguir às crises, chega sempre a bonança.

Os mercados, entretanto, com a sua tradicional frieza amolecida pela crise, estão a mostrar forte disposição para acreditar mais em Sawiris que em Buffet, porque, ao primeiro sinal de reabertura das economias, com o anunciado fim dos confinamentos impostos pela Covid-19, o barril, tanto no WTI como no Brent de Londres, galgou mais de 10 USD.

E os sinais vindos da China, a segunda maior economia mundial, vão igualmente nesse sentido, com as importações de crude a subirem diariamente, com as suas refinarias a voltarem a trabalhar quase em full, voltando o gigante asiático a consumir de novo um valor acima dos 10 milhões de barris por dia.

E a Europa e os EUA estão igualmente a mostrar um aumento diário no consumo de gasolina.

Mas não é só.

Esta crise está a destruir o sector do fracking, ou petróleo de xisto, norte-americano, devido ao seu elevado breakeven.

Ou seja, está a suceder com o petróleo de xisto o mesmo, ou parecido, que sucedeu em 2014 com a área do pré-sal, onde as multinacionais investiram biliões e, em meados desse ano começaram a ver tudo ir por água-abaixo, com o barril a passar de mais de 110 USD para 27 no início de 2016.

O que levou ao desinvestimento significativo neste sector, com abandono de campos e vários países, fragilizando as suas produções, como sucedeu, por exemplo, em Angola, mas, ao mesmo tempo, permitindo o agigantamento do fracking norte-americano... até hoje.

Ora, no actual cenário emerge como facto a destruição do sector do fracking enquanto a exploração em águas profundas está longe de ter recuperado do desmoronamento de 2014-16, e o investimento estagnou ou perdeu mesmo vigor com esta crise e os campos em actividade estão já em declínio e envelhecidos e longe de terem sido substituídos devido à queda do investimento na pesquisa.

Resultado: o petróleo tem tudo, defendem alguns experientes analistas, como David Messler, com 38 anos de actividade em grandes companhias do sector, no site OilPrice, para entrar actualmente num revigorado período de crescimento.

O WTI, em Nova Iorque, referência para o crude consumido nos EUA, estava hoje a negociar, cerca das 10:30, para os contractos de Junho, a 24,25 USD por barril, mais 1,17% que na quarta-feira, enquanto o Brent de Londres, para os futuros de Julho, estava, à mesma hora, a a valer 29,91, mais 0,64% que na última sessão.