Por detrás de uma manhã diferente dos últimos seis dias, onde o barril somou ganhos tanto em Nova Iorque como em Londres consecutivamente, estiveram notícias de um aumento substancial e inesperado dos stocks nos Estados Unidos.
Esse dado levou os investidores a temer que o excesso de oferta global de crude não esteja a diminuir de forma sólida como seria de esperar com a reabertura das economias de muitos países europeus, nos EUA, na China e na Índia depois de dois meses de confinamento decretado para conter o avanço da pandemia da Covid-19 provocada pelo novo coronavírus descoberto em Dezembro na cidade chinesa de Wuhan.
Todavia, e depois de tantas semanas de um pessimismo aterrador, os mercados petrolíferos estão assumidamente virados para o optimismo, mesmo que isso se sustente em ténues justificações e até mesmo contrariando as evidências dos números, porque, como se sabe, os 30 milhões de barris por dia (mbpd) que se esfumaram com a pandemia no consumo (procura) estão longe de estar recuperados, seja pelos cortes de 10 mbpd da OPEP+, seja pela recuperação pelo lado da procura.
E, assim, logo depois de abrirem, o Brent, para contractos de Julho, recuperou e cerca das 10:40 já estava a ganhar 2,52 %, para 31,75 USD por barril, enquanto o WTI, onde ainda estão a ser transaccionados contractos para Junho, a valorização era de 3,42%, para 24,45 USD/barril.
Mas estes valores contrastam com a subida sólida de terça-feira onde, por exemplo, em Londres, mercado de referência para as exportações angolanas, o barril fechou a sessão a ganhar mais de 13 por cento, sendo opinião de vários analistas que hoje o mercado está a corrigir alguns excessos de optimismo.
Isto, porque os ganhos foram sustentados nos últimos dias por notícias de abertura nas grandes economias e não em dados factuais de recuperação no consumo de crude, ao que se junta o facto de estes mesmos países terem os seus stocks, os normais e os estratégicos, completamente cheios aproveitando meses de crude historicamente barato.
Igualmente comum é a opinião entre analistas que o que se está a verificar nestes dias é à normalização dos mercados, mas para se atingirem valores pré-pandémicos há um caminho muito longo e tortuoso pela frente, porque, por exemplo, os transportes aéreos e marítimos, que, no conjunto, respondem a cerca de 20% do consumo global, só daqui a um ou dois anos voltarão a ser o que eram.
Já noutros sectores, como na rodovia e na indústria pesada chinesa, que é o segundo maior consumidor do mundo de energia, atrás dos EUA, de acordo com dados de satélite divulgados pela Reuters, está tudo a voltar vertiginosamente à normalidade com índices de poluição inclusive superiores ao período pré-crise, embora isso se possa dever ao recurso intensivo às unidades de produção de energia a carvão, o que significa que a China não mostra sinais de preocupação com a poluição que produz.
Em Pequim e em Shenzhen, duas das maiores metrópoles chinesas, estão, segundo os mesmos dados, com horas de ponta no trânsito bastante acima da média, o que serve de indicador para outras cidades semelhantes, o que significa que o consumo de gasolina está a ajudar aos ganhos nos mercados de crude.
Mas o que mais garante a firmeza dos ganhos nos mercados, embora com maior foco no norte-americano, é que esta crise acabou por destruir a indústria do fracking, ou petróleo de xisto, nos EUA, por causa da insustentabilidade gerada pelos baixos preços tendo em conta que foi o volume de crude produzido por esta indústria alternativa que levou os Estados Unidos da condição de importador para exportador, desequilibrado o negócio do petróleo mundial.
Agora, com a generalidade das unidades do fracking encerradas - o breakeven deste sector está entre os 50 e os 70 USD, em média - por falência ou por decisão estratégica, o excesso de produção nos EUA acaba e é mais um importador que chega aos mercados ao mesmo tempo que destes salta um exportador, sendo bom recordar que os EUA estavam, antes da crise, no topo da produção mundial com mais de 12,4 milhões de barris por dia.
Ou seja, está a suceder com o petróleo de xisto o mesmo, ou parecido, que sucedeu em 2014 com a área do pré-sal, onde as multinacionais investiram biliões e, em meados desse ano começaram a ver tudo ir por água abaixo, com o barril a passar de mais de 110 USD para 27 no início de 2016.
O que levou ao desinvestimento significativo neste sector, com abandono de campos e vários países, fragilizando as suas produções, como sucedeu, por exemplo, em Angola, mas, ao mesmo tempo, permitindo o agigantamento do fracking norte-americano... até hoje.
Ora, no actual cenário emerge como facto a destruição do sector do fracking enquanto a exploração em águas profundas está longe de ter recuperado do desmoronamento de 2014-16, e o investimento estagnou ou perdeu mesmo vigor com esta crise e os campos em actividade estão já em declínio e envelhecidos e longe de terem sido substituídos devido à queda do investimento na pesquisa.
Resultado: o petróleo tem tudo, defendem alguns experientes analistas, como David Messler, com 38 anos de actividade em grandes companhias do sector, no site OilPrice, para entrar actualmente num revigorado período de crescimento no seu valor.