Este é um dia especialmente relevante para o negócio global do petróleo, especialmente para o que negoceia em Brent, a referência para as ramas exportadas por Angola, porque surge simbolicamente como aquele em que o barril regressa aos patamares onde estava antes do surgimento da variante Ómicron, em Novembro de 2021, na África do Sul.
Angola tem, com esta evolução dos mercados, aquilo que anseia diariamente, que é o início de um longo período e petróleo em alta, porque o seu auge do crescimento económico coincidiu sempre, especialmente no final da primeira década deste milénio, com o barril a valer acima dos 100 USD, onde algumas casas financeiras globais, como Goldman Sachs, estimam que volte a valer ainda este ano.
Isto, porque o crude ainda vale mais de 40% do PIB, é responsável por 95% das exportações nacionais e de perto de 60% do total das despesas de funcionamento do Executivo de João Lourenço.
Cada dólar acrescido ao barril é fundamental para Angola porque é com este aumento que o Executivo pode fazer face a despesas extraordinárias além do OGE que, para 2022, foi elaborado com um valor médio de referência para o barril de 59 USD.
Com cada vez mais casos de Covid-19 no mundo, provocados pela variante Ómicron do Sars COV-2, seria de esperar que o "limbo" em que se encontrava o sector petrolífero se mantivesse por mais algumas semanas, mas, aparentemente, até os sensíveis mercados energéticos já olham para a pandemia como "normal" e com cada vez menos impacto no sobe e desce dos gráficos.
Sem que a relação seja evidente, a notícia, divulgada na segunda-feira, de que a Espanha, uma das grandes economias europeias, se prepara para retirar carga dramática à Covid-19, passando a configurá-la como uma simples gripe, parece que contribuiu para este novo sentimento que se espalha pelos mercados do crude como um "vírus" benigno.
Este sentimento de redução das restrições está a inundar quase toda a Europa, que ensaia quase em bloco a diluição das limitações, seja nas comunidades, seja na mobilidade mais alargada, tendo mesmo a União Europeia anunciado, na segunda-feira, a extinção das restrições aos voos de e para a África Austral definidas após o surgimento da Ómicron na África do Sul, em Novembro do ano passado.
Assim, com o gráfico do Brent a colocar o barril nos 84,04 USD, perto das 12:00 de hoje, hora de Luanda, mais 0,40% que no fecho de terça-feira, valor que já não se via desde meados de Novembro de 2021, segundo a análise padrão dos sites especializados e das agências de notícias de maior pendor financeiro, o crude está, de novo, como estava, alias, antes do surgimento da Ómicron, a retomar a escalada esperada num contexto pós-pandemia.
Apesar de ser levado pouco a sério, a possibilidade avançada por Vladimir Putin, o Presidente da Rússia, país que é o segundo maior produtor mundial de petróleo, de que o barril vai, mais cedo ou mais tarde, atingir os 200 USD, não é um cenário totalmente descabido, mesmo na perspectiva das organizações mais sérias, como a Agência Internacional de Energia, considerando que a prolongada crise no sector, pelo menos desde 2014, deixou muitas mazelas na indústria.
Isto, porque, sendo Angola um bom exemplo disso, senão mesmo um dos melhores, com a queda abrupta do barril de mais de 100 USD, em meados de 2014, para menos de 30 USD em Fevereiro de 2016, sem contar com os valores negativos no início de 2020 devido à pandemia, as majors iniciaram um longo processo de desinvestimento, com motorização extra na urgente transição energética forçada pelo risco do "Armagedão" mostrado pelas alterações climáticas, que impõem uma redução gigantesca do uso dos combustíveis fósseis.
E esse desinvestimento levou, como é hoje por demais evidente, a uma deterioração profunda da infra-estrutura produtiva um pouco por todo o mundo, reduzindo a capacidade extractiva - é disso exemplo o facto de alguns países não estarem, sequer, a conseguir, como Angola, cumprir as suas quotas no seio da OPEP+ - sem que, do lado das energias limpas fossem encontradas tecnologias que permitissem uma substituição eficaz dos hidrocarbonetos como combustível da economia planetária sem acompanhar o processo com uma substancial redução do consumo, o que é o caso.
E é assim que, com menor capacidade de produção, com um desinvestimento na pesquisa por novas reservas, com um recorde que chega a 1947, os países produtores-exportadores deparam-se com uma incapacidade de responder à demanda mundial, gerado um fosso entre a procura e a oferta, desequilibrando os mercados, que, por sua vez, leva a um aumento, provável, do preço do barril para patamares que dificilmente podem ser agora antecipados pelos analistas mais... refinados.
E a todo isto junta-se ainda a decisão reiterada da OPEP+, organismo que desde 2017 junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e os 10 desalinhados com a Rússia à cabeça para manter os mercados equilibrados através de um controlo férreo da produção mundial, que o "cartel" controla em quase 50%.
E foi isso que sucedeu já este mês quando a OPEP+, presidida em 2021 por Angola e agora pela Argélia, manteve, contra a vontade das grandes economias, com os EUA à frente, que exigem mais produção para impulsionar o crescimento económico global a partir de combustíveis e energia baratos, uma subida paulatina da produção diária em 400 mil barris para Fevereiro, deixando ainda esta a perto de 5 milhões de barris por dia (mbpd) daquela que era a produção normal antes da pandemia, cerca de 100 mbpd.
Mas, como a Reuters divulgou na terça-feira, a OPEP está a produzir abaixo dos novos limites porque alguns países não conseguem cumprir com as quotas e os grandes produtores como a Rússia e a Arábia Saudita também não estão em condições, como no passado estavam, de tapar esse buraco aumentando as suas extracções.
Os media especializados no sector estão ainda a colocar como factor determinante para esta alta no crude uma redução do valor do dólar norte-americano, o que resulta em que os países com moedas fortes, como os europeus ou o Japão, estão a pagar mais dólares mas menos nas suas respectivas moedas, o que lhes dá uma folga, mesmo em casos de subidas significativas do valor do crude, que é estimado quase a 100% em USD.