Sabe-se que se a economia global está em expansão, a procura por petróleo acompanha em alta e o seu valor por barril adequa-se a essa realidade, fazendo sorrir os países produtores e exportadores cujas economias dependem da exportação de crude, em cujo "mapa" está Angola.
Sabe-se também que se a economia planetária encolhe, como agora o prevê o FMI, a procura por petróleo diminui e o valor do barril nos mercados internacionais emagrece, destapando novas dificuldades para as economias dependentes das exportações da matéria-prima, como é o caso de Angola.
E é isso mesmo que este relatório do FMI, divulgado na terça-feira, em Washington, EUA, diz que vai acontecer, talhando as perspectivas de crescimento de 3,9% este ano para 3%.
Por detrás deste movimento negativo para a economia mundial está a já familiar guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China, que são só e apenas as duas maiores economias planetárias e os dois maiores consumidores de petróleo em todo o mundo, sendo anda os mais potentes motores para as restantes potências económicas, da Alemanha à Índia, cuja produção industrial vive em grande medida das exportações.
As tensões geopolíticas, como as no Médio Oriente, seja a invasão turca da Síria, sejam os recentes ataques à indústria petrolífera na Arábia Saudita e do Irão, alimentam também o fluxo de más notícias que estão a afogar o valor do barril de petróleo, como o demonstra o Brent, em Londres, mercado onde é determinado o valor médio das exportações angolanas, cujo gráfico mostra uma perda de 0,14% face ao fecho de ontem, estando mesmo abaixo dos 59 USD, nos 58,66 USD perto das 10:10 de hoje.
No documento libertado na terça-feira, o Fundo Monetário Internacional sublinha estes dois factores como os principais gatilhos para disparar estas más perspectivas para a economia em 2019 e 2020.
"Estimamos que a guerra comercial EUA-China vão reduzir o crescimento global em pelo menos 0,8% em 2020", acrescentando questões como as tensões no Médio Oriente, as crises económicas em países como a Argentina, o Irão ou ainda a baixa produtividade global ou o envelhecimento populacional que estão também a atrasar a economia planetária.
Tendência confirmada
Como recordam alguns analistas, estes dados do FMI encaixam em previsões conhecidas nas últimas semanas, como as da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que apontam para uma redução da procura mundial pela matéria-prima, o que pode conduzir a um efeito bola-de-neve com a desconfiança a alimentar as fracas perspectivas de crescimento e as fracas perspectivas de crescimento a alimentarem a desconfiança.
Como intensificador deste sentimento negativo, o FMI, como sublinham as agências de notícias, está convencido que nos próximos anos - apontando para um mínimo de cinco anos - as grandes manchas económicas mundiais - EUA, União Europeia, China e Japão - vão evokuir em câmara lenta, por vezes mesmo em areias movediças.
Naturalmente que esta radiografia ao corpo económico global mostra um problema de saúde que pode ser grave para o sector petrolífero, com especial incidência nos países que dependem da exportações deste, como é, obviamente, ainda o caso de Angola, apesar de o Executivo de João Lourenço não se cansar de lembrar os esforços em curso para diminuir essa mesma dependência.
Apesar de haver indícios que podem inverter esta perspectiva negativa sob a perspectiva dos produtores de petróleo, como, por exemplo, os dados mais recentes das autoridades petrolíferas norte-americanas de que o denominado petróleo de xisto, ou "fracking", estar claramente a desinchar na sua produção que há vários anos aumenta de forma substancial, injectando menos crude nos mercados.
Há ainda os riscos de alastramento do conflito turco-sírio-curdo para os países vizinhos, como o Iraque, que é um grande produtor, ou ainda a nova parceria anunciada esta semana entre a Rússia e a Arábia Saudita - os dois maiores exportadores e produtores mundiais - no seio da OPEP+, que pode a saída de um coelha da cartola do "cartel" para equilibrar o preço do barril em alta.
Mas, para já, o grande factor que determina a evolução do valor do barril nos mercados, o crescimento económico global, dá mostras de se consolidar na parte de baixo do optimismo, na visão dos países como Angola, cujas economias dependem da exportação de petróleo.
E isso mesmo foi confirmado há poucos dias pela Agência Internacional de Energia, que voltou a perspectiva em baixa a procura de petróleo para este ano e para o que vem, antevisão que é sustentada igualmente no estimado fraco crescimento económico global.
FMI e Angola
O FMI anunciou também na terça-feira, no âmbito do seu relatório anual sobre as Perspectivas Económicas Mundiais, que Angola vai observar uma recessão de 0,3% este ano, o quarto ano consecutivo com a economia nacional a registar comportamentos negativos.
Os técnicos do FMI avançam, na parte do documento relativo à economia nacional, que este comportamento negativo, tal como sucedeu como os anteriores três, entre 2016 e 2018, vai ficar a dever-se ao mau desempenho do petróleo, que mantém valores relativamente baixos ao longo dos últimos cinco anos e deverá manter-se para 2020.
No entanto, o FMI estima que para o ano que vem, em 2020, a economia nacional vai já registar um crescimento de 1,2%, apesar de estes números contrastarem com as expectativas de outros organismos que analisam as economias mundiais, como é o caso da Economist Intelligence Unit (EIU), da revista The Economist, que prevê a continuada recessão de cerca de 2% para 2019.
Em ambos os casos, este desempenho é uma consequência directa da evolução do valor do crude nos mercados internacionais, ainda muito reactivo às convulsões globais, nomeadamente a questão da guerra comercial entre os EUA e a China, que impacta forte e duradouramente no crescimento global e na procura da matéria-prima.