O anúncio foi feito pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante a Cimeira EU/África do Sul que teve lugar na Cidade do Cabo, com o Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa como anfitrião.

Este encontro bilateral serviu ainda para retomar este tipo de agenda que estava suspensa há sete anos, marcando um período de esfriamento das relações entre Bruxelas e Pretória, tendo a alemã Ursula Leyen sublinhado que a África do Sul permanece um símbolo de esperança para o mundo".

E para marcar este reencontro, os europeus vão mobilizar um pacote de 4,7 mil milhões de euros, com Ramaphosa a aproveitar o momento para lembrar que sul-africanos e europeus partilham o mesmo conjunto de valores, enfatizando a importância deste tipo de colaboração.

"Este é o momento para trabalharmos juntos na defesa daquilo em que acreditamos, que é a democracia e o Estado de Direito, incluindo o respeito pela Lei Internacional e Lei Humanitária Internacional", disse na ocasião Cyril Ramaphosa.

Neste encontro que teve lugar esta quinta-feira, 13, tanto Ursula von der Leyn, que esteve na Cidade do Cabo acompanhada do presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, como Ramaphosa sublinharam que a África do Sul é o maior parceiro comercial do bloco europeu na África subsaariana.

E foi em cima dessa mútua compreensão que von der Leyen apontou como horizonte temporal o imediato reforço dos laços comerciais com a África do Sul, naquilo que alguns analistas apontam como uma nova frente de "batalha" entre blocos de interesses.

Isto, porque sendo a África do Sul um dos países fundadores dos BRICS, em conjunto com o Brasil, Rússia, China e Índia, a União Europeia tem procurado criar brechas no seio deste bloco que representa uma boa parte do Sul Global à qual em 2024 aderiram mais 10 país, incluindo a Etiópia e o Egipto, ou a Arábia Saudita e os Emiratos Árabes Unidos.

E foi também com um reforço substantivo do investimento europeu naquele país que a presidente da Comissão Europeia esteve recentemente na Índia, num encontro com o primeiro-ministro Narendra Modi, o que foi visto igualmente como uma ofensiva europeia para ganhar terreno à Rússia e aos BRICS+.

Ao abordar a questão deste pacote de investimento na energia verde e na produção de vacinas agora anunciado para a África do Sul, Ursula von der Leyen, sem nomear, afirmou estar consciente de que "outros estão a retirar-se" mas que os europeus "estão para ficar na linha da frente do apoio" a Pretória.

Este pacote de investimento tem ainda uma vertente oportuna face ao actual cenário sul-africano de crise energética, depois de um longo período de "apagões" devido à falta de investimento nas infra-estruturas energéticas ainda assentes no uso de carvão que, agora, podem ser revolucionadas com o dinheiro europeu.

Como alguns analistas estão a apontar, este empenho europeu na "salvação" da África do Sul das "garras" dos BRICS vai levar o Presidente Ramaphosa a duplicar o empenho na busca de atingir os objectivos antigos de advogar pelo alívio da dívida que atrofia os países em desenvolvimento e o défice entre os anúncios do ocidente e o apoio efectivo ao combate às alterações climáticas e ao desenvolvimento, especialmente nos países africanos.

Mas a UE não está apenas a retirar chão aos BRICS, também está a procurar uma espécie de vingança sobre os Estados Unidos que abriram uma guerra de tarifas com Bruxelas depois de, por causa do genocídio em Gaza, terem disparado um conjunto de sanções a Pretória devido ao processo judicial aberto contra Israel (ver links em baixo) nos tribunais internacionais por crimes de guerra, contra a Humanidade e genocídio.

O mal-estar entre Washington e Pretório ficou ainda mais visível quando o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, anunciou que não iria estar presente nos encontros do G20 na África do Sul, numa altura em que este país austral preside à organização dos 20 mais "ricos" do mundo.