O homem que liderou o antigo Partido Cimunista da URSS de 1985 a 1991, abriu a caixa de Pandora que viria a abrir brechas gigantescas na União Soviética a ponto de este império comunista colapsar estava a década de 1990 a começar.
Conhecido no mundo do imediatismo mediático pela mancha que tinha na cabeça, nesse ano de 1991, e com o poder irremediavelmente perdido, Gorbachev viu o desmoronamento da URSS em camara lenta a partir do seu assento cada vez menos sólido no Kremlin, com a independência de várias repúblicas soviéticas acabando por abandonar o poder a 25 de Dezembro.
Para trás ficava a Perestroika e a Glasnost, as suas maiores criações enquanto líder da URSS, ou seja, a reforma do Estado e do Partido Comunista, a primeira, e a abertura rumo a uma maior democratização do país, a segunda.
Visto como herói e como traidor, Gorbatchev ficará para sempre como homem de extremos, mesmo na forma como os russos de hoje olham para o seu legado, sendo que o actual Presidente da Rússia, Vladimir Putin, já disse que o fim da URSS foi das maiores tragédias da Humanidade.
Mas, provavelmente, foi a crise económica profunda em que se encontrava a União Soviética que levou ao seu colapso e não a qualquer movimento criado por este Prémio Nobel de 1990, mas o destino já estaria traçado quando, em Junho de 1987, três anos antes, o então Presidente dos EUA, Ronald Reagan (na foto, à esquerda), foi a Berlim, ainda existia o Muro que separava ideologicamente o ocidente do leste europeu, dizer, num dos mais pungentes discursos da Guerra Fria, ""Mr. Gorbachev, tear down this Wall - Senhor Gorbatchev, mande abaixo este Muro".
Muito mais tarde, Gorbachev 25 anos depois, contou à agência de notícias Associated Press que não considerou o uso da força para manter a União Soviética porque receava o caos num país nuclear e a morte de milhares de pessoas.
"O país estava carregado até as bordas de armas. E isso teria imediatamente empurrado o país para uma guerra civil", disse então.
Os russos culparam-no pela desintegração da União Soviética em 1991 -- uma superpotência que se dividiu em 15 nações. Os seus antigos aliados abandonaram-no e fizeram-no dele um bode expiatório para os problemas do país.
A Tass informou que o ex-chefe de Estado vai ser enterrado no cemitério Novodevichy, em Moscovo, ao lado da sua mulher.
Guterres lamenta a perda de "um líder global imponente" (Lusa)
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse hoje que "o mundo perdeu um líder global imponente, multilateralista comprometido e defensor incansável da paz" com a morte do último presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev.
"Fiquei profundamente triste ao saber da morte de Mikhail Gorbachev, um estadista único que mudou o curso da história. Ele fez mais do que qualquer outro indivíduo para trazer o fim pacífico da Guerra Fria", sublinhou o diplomata português, citado em nota de imprensa.
Para o responsável das Nações Unidas, o "mundo perdeu um líder global imponente, multilateralista comprometido e defensor incansável da paz".
António Guterres, que apresentou em nome da ONU as condolências "à família, ao povo e ao governo da Federação Russa", recordou as palavras de Gorbachev quando este recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1990 e observou que a "paz não é unidade na semelhança, mas unidade na diversidade".
"[Gorbachev] Colocou em prática essa visão vital ao seguir o caminho da negociação, reforma, transparência e desarmamento", salientou.
O líder da ONU referiu também que nos últimos anos o ex-líder da URSS "abraçou um novo desafio" importante para o bem-estar da humanidade, ao fundar a Green Cross International, de "criar um futuro sustentável cultivando relações harmoniosas entre os seres humanos e o meio ambiente".
E o Presidente dos EUA (Lusa)
Joe Biden, disse que o último líder da União Soviética era um homem de "visão extraordinária".
Em comunicado, Biden escreveu que Gorbachev era um líder raro, com a imaginação de vislumbrar a possibilidade de um futuro diferente e coragem de arriscar toda a sua carreira para o conseguir.
"O resultado foi um mundo mais seguro e mais liberdade para milhões de pessoas", lembrou.
Biden recordou a conversa com o ex-líder soviético durante a sua visita à Casa Branca em 2009, quando era vice-Presidente, na qual discutiram os esforços dos EUA e da Rússia para reduzir os arsenais nucleares.
Russos elogiam ex-líder (Lusa)
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, manifestou "profunda tristeza" pela morte de Gorbachev, segundo o porta-voz da presidência russa (Kremlin), Dmitri Peskov.
Já Leonid Slutski, líder do Partido Liberal Democrata, numa publicação através da rede social Telegram, declarou que "Gorbachev foi sem dúvida o político mais brilhante do seu tempo. Mas para todos os nascidos na União Soviética, este continua a ser uma figura histórica, complexa e controversa.
Leonid Slutski lamentou a morte de Gorbachev, mas também ressalvou que lamenta que os processos de desintegração do império soviético tenham começado justamente com a "Perestroika" (reestruturação), promovida pelo último líder da URSS.
Para o deputado comunista Nikolai Kolomeitsev, Gorbachev era um "traidor".
"Foi um traidor e não um secretário-geral. Destruiu o país, foi uma alta traição", atirou este deputado.
Já Oleg Nilov, deputado da Rússia Justa, referiu, por sua vez, que apenas se pode falar bem do ex-líder soviético ou "não se deve falar nada".
Para o chefe de protocolo de Mikhail Gorbachev, Vladimir Shevchenko, a época de liderança do ex-líder da URSS foi um tempo "de esperança".
"Foi o momento da nossa entrada num mundo sem mísseis, onde foram assinados acordos únicos. Mas houve apenas um erro de cálculo: não conhecíamos bem o nosso país", salientou.
Segundo Shevchenko, que trabalhou com Gorbachev entre 1985 e 1991, a queda da URSS foi uma tragédia para o dirigente soviético.