Sendo a maioria destas publicações norte-americanas, há na lista outras com sede fora dos EUA, como é disso exemplo o britânico The Guardian.

Esta iniciativa de contra-ataque a Trump foi pensada e organizada pelo Boston Globe, jornal que se notabilizou, entre outros grandes trabalhos jornalísticos, pela denúncia de abusos sexuais perpetrados por membros da igreja católica de Boston, que deu origem ao filme "Spot Light"".

Este jornal definiu os ataques de Trump como uma "guerra porca contra a imprensa livre", frase que subjaz a este esforço partilhado contra a mordaça que a administração norte-americana procura impor aos media para os controlar.

Foi para responder a frases malignas onde Trump trata a imprensa como "o inimigo do povo", "destorcedores da democracia" ou "escumalha" onde estão "as pessoas mais desonestas do mundo" que o Boston Globe enviou uma carta a centenas de jornais, tendo obtido a resposta massiva que se pode ver hoje nas capas de publicações dos EUA e de todo o mundo, onde jornais e jornalistas afirmam que não são o inimigo nem da democracia nem do povo, como procura orquestrar e incutir essa ideia o Presidente norte-americano.

A junção do The Guardian a este esforço resulta da constatação, segundo o seu editorial de hoje, de que "Donald Trump não é o primeiro Presidente dos EUA a atacar a imprensa(...), mas é o primeiro que parece ter uma estratégia calculada e consistente para minar e deslegitimar o trabalho da imprensa e dos jornalistas".

O Presidente norte-americano considera, tendo-o repetido por diversas vezes, que a imprensa é "inimiga do povo", publica "notícias falsas", tendo feito, durante o seu mandato, igualmente, ataques direccionados a alguns jornalistas, como foi o caso da conferência de imprensa em Londres, ao lado da primeira-ministra britânica, Theresa May, onde acusou o repórter da CNN de ser "fake news", recusando-se a responder à sua pergunta, ao mesmo tempo que, sob o silêncio desta, impediu que May também respondesse às perguntas do canal norte-americano.

Nesta batalha anti-Trump participam os grandes jornais norte-americanos, como o THe New York Times, Chicago Sun, Times, Miami Herald... mas também jornais de pequenas cidades e sites online, que se juntam a uma só voz pela liberdade de imprensa.

ONU também acusa Trump de atacar imprensa e alerta para riscos deste comportamento

Também a ONU entende que as declarações do Presidente dos EUA contra os media e os jornalistas podem estar a desencadear uma situação que leve à violência sobre os profissionais da comunicação social "que apenas estão a fazer o seu trabalho".

Este alerta foi lançado pelo Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Em causa está o contínuo ataque de Donald Trump contra os jornalistas, especialmente os norte-americanos, sob permanente pressão por causa daquilo a que o chefe da Casa Branca de "fake news - notícias falsas".

Para Zeid al-Hussein, Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, "está em curso uma campanha contra os media" que pode, em breve, desencadear, "facilmente agressões a jornalistas" e conduzir, por causa disso, "à autocensura".

Em declarações ao britânico The Guardian, Zeid al-Hussein adverte para a possibilidade de Trump estar a ser já seguido por outros lideres, que se aproveitam do seu exemplo para exercer pressão sobre os jornalistas dos seus países e controlar a seu favor o fluxo noticioso, tendo mesmo dado o exemplo de Hun Sen, do Cambodja, que ordenou o encerramento de medias "desalinhados", embora isso esteja ainda a acontecer em países como a Hungria ou a Turquia, onde diariamente decorrem perseguições aos media independentes.

Zeid al-Hussein, que em breve cederá o cargo à chilena Michelle Bachelet, admite que os EUA, e especialmente quando dá jeito, servem de suporte para atitudes antidemocráticas porque, devido à sua importância no mundo, "geram efeitos de contágio perigosos" em governos ou governantes com tiques autoritários.

Recorde-se que há escassas semanas, o editor do New York Times, um dos mais influentes jornais dos EUA, A.G. Sulzberger, chamou à atenção para o perigo existente nas declarações avulsas de Donald Trump.

Sulzberger, depois de uma reunião com Trump, disse que os seus ataques constantes aos jornalistas e aos media são "perigosos e incendiários" e podem ser considerados como ataques directos à democracia norte-americana.