Mohammed al-Jolani conquistou o poder à frente dos rebeldes do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), antigos combatentes da al qaeda e do "estado islâmico", em Dezembro de 2024, obrigando o então Presidente Assad a fugir para a Rússia.

O que está agora a acontecer, e que está a gerar grande preocupação ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que foi um dos líderes internacionais, a par da presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, que estendeu o tapete vermelho aos homens de Jolani e do HTS, já era esperado nalguns meios.

Isto, porque, apesar dos esforços para mudar a imagem de jihadista da al qaeda e do daesh, ou "estado islâmico", incluindo passar a usar fato e gravata, al-Jolani, que já mudou várias vezes de nome e agora se chama Ahmed al-Sharaa, vem de um universo onde os inimigos são normalmente massacrados.

E é isso que está a acontecer na Síria, com a comunidade alauita a sofrer a perseguição brutal das forças de segurança sírias que são agora constituídas pelos ex-rebeldes do HTS sob comando de al-Jolani, ou al-Sharaa, havendo registo de famílias inteiras, como vem agora a ONU lamentar, assassinadas e aldeias massacradas, incluindo crianças e idosos.

Como foi um dos que estendeu o tapete vermelho a al-Jolani e ao HTS, o Secretário-Geral da ONU vem agora dizer que está "alarmado" com o que se está a passar na Síria e vem pedir que a violência pare, exigindo que as populações vivis sejam poupadas.

Mas nas notícias divulgadas agora nos media internacionais, apesar das centenas de vídeos colocados nas redes sociais, mostrando massacres de alauitas, e outras comunidades, incluindo ismaelitas e drusos, às mãos dos jihadistas disfarçados de forças de segurança, a ONU, como a União Europeia, evita a todo o custo apontar o dedo ao novo poder sírio.

Guterres colocou mesmo o seu porta-voz, Stéphane Dujarric, a falar por si sobre este melindroso momento, depois do próprio ter elogiado al-jolani e o seu Governo como "uma nova oportunidade para a Síria", para apelar às partes em conflito para "protegerem os civis e pararem com a retórica e as acções incendiárias enquanto a Síria enfrenta o legado de 14 anos de conflito e cerca de cinco décadas de governo autoritário".

As partes em conflito, como é possível confirmar facilmente nas fontes abertas são os jihadistas de Jolani na condição nova de forças de segurança a avançar sobre as populações indefesas deixando um rasto de morte e sofrimento atrás, e algumas bolsas de resistência que se formaram localmente para proteger as populações e localidades atacadas. O que inclui, de facto, antigos elementos das forças sírias do tempo do Presidente Bashar al-Assad.

"O massacre na Síria deve parar imediatamente e os perpetradores das violações devem ser responsabilizados. As preocupações das comunidades sírias devem ser abordadas de forma significativa", acrescentou, citado pela Lusa, observando que as autoridades interinas anunciaram uma comissão de investigação para preservar a paz civil.

Guterres e o seu enviado especial para a Síria, Geir Pedersen, falaram nas últimas horas diante de membros do Conselho de Segurança, a portas fechadas, sobre os últimos acontecimentos na Síria e disseram que estão prontos para apoiar um processo de transição política "de propriedade e liderado pelos sírios" que siga o consenso internacional.

A recente escalada de violência no país afectou severamente a população civil e infra-estruturas e, de acordo com os últimos números da ONU, centenas de pessoas foram mortas (mais de 1.300 de acordo com uma organização não-governamental síria), incluindo mulheres, meninas e profissionais de saúde, milhares foram deslocados, tendo muitos fugido para o Líbano em busca de segurança.

Esta situação pode ser muito embaraçosa para o chefe das Nações Unidas, mas também para a União Europeia e para os EUA, que não apenas apoiaram o novo poder como também abriram o caminho à deposição de Assad, porque é das raras situações em que organizações internacionais como a ONU ou países ocidentais apoiam claramente jihadistas oriundos do universo terrorista da al qaeda e do daesh.

Alias, a cabeça de al-Jolani valia, na lista dos terroristas mais procurados pelos EUA, 10 milhões de dólares, tendo saído dela após ter lidarado o derrube de al-Assad como Presidente da Síria.