As sondagens são claras a dar uma vitória quase certa a Lula, mas se na primeira, já amanhã, 02, ou dentro de um mês, na segunda volta, só ao final do dia se saberá, quando estiverem contados os votos que vão definir quem vai gerir o gigante sul-americano de 220 milhões de pessoas.
Há no ar do Brasil pré-eleitoral uma neblina densa de tensão porque Bolsonaro já ameaçou várias vezes não reconhecer uma eventual, e quase certa, vitória do candidato da esquerda, Lula da Silva, deixando dúvidas sobre o sistema brasileiro de voto por urna electrónica, existindo alguns observadores que temem mesmo a saída à rua das Forças Armadas ou, pelo menos, as forças militarizadas sob tutela dos governadores estaduais, para impedir o regresso do antigo metalúrgico ao Palácio do Planalto, em Brasília.
Bolsonaro disse mesmo que o seu futuro tem três saídas, manter-se no poder, ser morto ou ser preso.
Aparentemente insensível a este cenário denso e perigoso, Lula mantém a postura de líder nas intenções de voto e já avisou que não se vai esquecer do que o actual Presidente andou a fazer neste último anos, prometendo mesmo agir por decreto para desvendar os seus segredos.
Como a Lusa recorda, as últimas sondagens dão a Lula da Silva 50% das intenções de voto, um valor que lhe garante já a vitória na primeira volta, enquanto os valores de Jair Bolsonaro rondam os 36%.
O debate de quinta-feira à noite, na rede Globo, não deverá ter tido grande influência na conquista de novos votos por parte dos dois grandes candidatos, segundo vários analistas citados na imprensa brasileira, já que acabou por se tornar num `campo de batalha sujo` onde os ataques, acusações de corrupção mútuas e pedidos de defesa da honra foram a tónica.
Ainda assim, a acreditar nas sondagens, Lula não terá de `roubar` mais votos à chamada terceira via política, personificada por Ciro Gomes (com 6% das intenções) e por Simone Tebet (5%), para poder festejar já no domingo.
O sentimento das campanhas parece também estar em sintonia com as sondagens.
A campanha do ex-presidente Lula da Silva já divulgou que votará na Escola Estadual Firmino Correia de Araújo, em São Bernardo do Campo, em São Paulo, e que acompanhará a apuração dos votos no Novotel Jaraguá, na cidade paulista.
Para além disso, o seu partido, Partido dos Trabalhadores (PT), já anunciou a reserva para os festejos na Avenida Paulista.
Por outro lado, permanece a incógnita a um dia das eleições onde o Presidente brasileiro vai acompanhar as eleições, sabendo-se apenas que votará no Rio de Janeiro.
Em incógnita permanece ainda a possibilidade de Jair Bolsonaro aceitar, ou não, os resultados das eleições de domingo e o debate de quinta-feira serviu para acentuar essas dúvidas.
A candidata Soraya Thronicke questionou Bolsonaro sobre se respeitará os resultados da eleição e se pretende fazer um golpe de Estado e ficou sem resposta por parte do Presidente brasileiro, que tem questionado reiteradamente o sistema de votação electrónica que o Brasil adoptou há quase três décadas e que o elegeu, por várias vezes, para a Câmara de deputados e mais recentemente para a Presidência da República.
Ainda na quinta-feira, numa das suas habituais `lives` nas redes sociais, Bolsonaro chamou de "canalha" e de "sem vergonha" ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o órgão responsável pela organização das eleições, Alexandre de Moraes.
O Presidente brasileiro acusou ainda Moraes de ter vínculos políticos com Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidente do antigo chefe de estado Luiz Inácio Lula da Silva.
"Alexandre, você tem todo um passado no governo Alckmin e por isso quer um presidente refém. Você abusa do poder com baixeza", disse Bolsonaro.
Moraes foi secretário de Segurança Pública de São Paulo enquanto Alckmin era governador deste estado brasileiro.
No dia anterior, em outra transmissão em direto nas redes sociais, levantou mais uma vez a sua voz contra o sistema de votação electrónica.
"Apesar do acompanhamento das Forças Armadas", que participam no processo eleitoral, "não pudemos deixar a possibilidade de fraude a zero", disse Bolsonaro.
A acrescentar, umas das frases que marcaram a campanha, proferida dia 18 de setembro, o chefe de Estado brasileiro afirmou que se não obtivesse 60% dos votos, "algo de anormal aconteceu dentro do TSE", levantando mais uma vez suspeitas de que poderá estar a criar o cenário para `uma invasão do Capitólio`, como aconteceu nos Estados Unidos.
Às presidenciais brasileiras concorrem 11 candidatos: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luís Felipe D`Ávila, Soraya Tronicke, Eymael, Padre Kelmon, Leonardo Pericles, Sofia Manzano e Vera Lúcia.
Caso nenhum dos candidatos ultrapasse 50% no domingo, os dois mais votados, que devem ser Lula da Silva e Jair Bolsonaro, voltam a enfrentar-se numa segunda volta em 30 de outubro.