O Pacto Climático de Glasgow, aprovado na cimeira do clima da ONU 26 horas depois do previsto, mantém a ambição de conter o aumento da temperatura em 1,5ºC (graus celsius), promete mais apoios financeiros e regula o mercado do carbono. Por exemplo, pela primeira vez é mencionada a questão dos combustíveis fósseis, mas está longe do projecto inicial, que apelava aos países para que acelerassem a eliminação gradual dos subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis.
O texto final aprovado, apresentado pelo presidente da conferência climática COP26, Alok Sharma, fica-se pela "intensificação dos esforços" para reduzir o carvão e eliminar os subsídios a combustíveis fósseis.
Alok Sharma pediu desculpa de forma emocionada e voz embargada pela forma como as negociações de última hora decorreram para ser possível aprovar o texto final, dizendo perceber "a profunda desilusão" que este acordo representa.
Com relação à "urgência" de se tomar medidas de mitigação, adaptação e financiamento na implementação do Acordo de Paris de 2015, sobre a redução de emissões de gases com efeito de estufa, o texto final da COP26 nota "com preocupação" que o financiamento climático para medidas de adaptação "continua a ser insuficiente", uma referência ao facto de não terem sido cumpridos os compromissos de mobilizar 100 mil milhões de dólares em 2020.
O Pacto "incita" os países desenvolvidos a duplicar o financiamento até 2025 e apela para o envolvimento de bancos multilaterais de desenvolvimento, outras instituições financeiras e o sector privado para ajudar no esforço.
Sobre o corte de emissões de gases com efeito de estufa (NDC), no documento reconhece-se explicitamente que são necessárias deduções de 45% até 2030, e a cimeira afirma-se preocupada com as contribuições determinadas por cada país, sublinhando a necessidade urgente de os países aumentarem os seus esforços até ao fim de 2022. E a comunicarem essas NDC rapidamente.
Uma das questões polémicas na COP26 foi o facto de os países ricos não terem conseguido cumprir a sua promessa de mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano até 2020 para ajudar as nações pobres a lidar com as alterações climáticas. O Pacto Climático de Glasgow expressa "profundo pesar" pelo fracasso do financiamento e pede que os países ricos concretizem o financiamento o mais rapidamente possível, e até 2025.
E apela aos países mais desenvolvidos e instituições financeiras para que acelerem o alinhamento das suas actividades de financiamento com os objectivos do Acordo de Paris.
Também os auxílios para as catástrofes reais provocadas pelas alterações climáticas foram discutidos. Foi reiterada a urgência de se aumentarem os apoios, financeiros e de tecnologia, para minimizar e enfrentar as perdas e danos, reforçando parcerias entre países ricos e pobres.
A COP26 aprovou o chamado livro de regras do Acordo de Paris, o que não tinha sido possível em reuniões anteriores. Trata-se das regras destinadas a ajudar a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), impedindo por exemplo a dupla contagem do carbono (pelo vendedor e comprador).
A comunidade científica defendeu que só será possível reduzir as emissões se o mundo se afastar do uso dos combustíveis fósseis, e isso significa referências claras ao fim da exploração de petróleo e do gás, além do carvão, mas o texto final não foi tão longe.
A activista ambiental Greta Thunberg resumiu tudo numa expressão: "blá, blá, blá". Não muito longe da opinião das associações ambientalistas que consideram o resultado da cimeira "totalmente insuficiente" porque, apesar de estar inscrita no acordo a necessidade do abandono dos combustíveis fósseis e os subsídios associados, "ficou expresso em termos demasiado tímidos para impulsionar a transformação colossal necessária", segundo David Howell, da SEO/BirdLife, citado pelas agências interacionais de notícias.
Na opinião de David Howell, o limite de aquecimento global de 1,5 graus "está ainda longe", e este ano deram-se apenas "passos modestos", quando "deveriam ter sido dados passos de gigante", o que implica que nos próximos anos "terão de ser dados passos muito maiores e com custos mais elevados".
Howell criticou ainda os "atrasos no financiamento" dos países mais vulneráveis perante a emergência climática, com a vida e o sustento de milhões de pessoas "em grave risco permanente"
Também a associação ambientalista Greenpeace diz que a decisão saída da COP26 "é débil", e Jennifer Morgan, a directora da organização, ciatada pelas mesmas agências, assinalou que "apesar de o acordo reconhecer a necessidade de reduzir as emissões nesta década, esses compromissos foram adiados para o ano que vem".