Nesta sua intervenção transmitida pelas televisões russas, Putin disse que os aliados ocidentais do "regime nazi" em Kiev queriam ver a Rússia dividida e o sangue dos seus militares e civis a jorrar do confronto entre "camaradas".

Mas avisou que "toda a sociedade russa está unida" e que a resposta à "chantagem" foi clara, porque o povo e as suas forças armadas "optaram por garantir o futuro do país" face a uma tentativa de o fazer colapsar.

Disse que em nenhum momento esteve em aberto o sucesso do motim do líder do Grupo Wagner porque "desde o início que todas as medidas necessárias" para travar o motim "foram tomadas".

Admitiu que a Federação Russa sofreu um "duro golpe" no seu prestígio internacional mas que esse é um problema temporário e rapidamente as instituições e a Constituição devolverão a normalidade onde ela for precisa.

Considerou que o motim de Prigozhin foi também "uma traição aos camaradas que lutam na frente de batalha" na Ucrânia.

"O regime nazi de Kiev e os seus mestres ocidentais, queriam ver russos contra russos, sangue russo a correr nas ruas da Rússia mas enganaram-se", frisou, acrescentando que foi ele próprio que deu a ordem para "evitar um banho de sangue" mas deixou claro que se fosse necessário, tudo faria para garantir a ordem constitucional no país.

"Eles (referindo-se a Kiev e aos seus aliados ocidentais) queriam ver soldados russos a matarem-se uns aos outros, e civis mortos, para que a Rússia perder e a sociedade russa colapsar em banhos de sangue", disse Putin, acrescentando que "eles", de novo sem precisar a quem se dirigia, "esfregaram as mãos, sonhando com a vingança para os seus falhanços na frente de combate, na assim chamada contraofensiva, mas falharam nos cálculos".

Lembrou o papel do Presidente da Bielorrússia para ultrapassar o "momento difícil" e deixou claro que a Prigozhin só resta cumprir o compromisso que assumiu, bem como reafirmou que os seus homens que quisaerem integrar as fileiras das forças regulares russas o podem fazer através de um contrato assinado com o Ministério da Defesa.

Disse que foi dada uma oportunidade aos que se arrependeram para integrar as forºas regulares e aos que assim optarem, e não quiserem aceitar esta oportunidade, "resta-lhes voltar para as suas famílias" ou partirem com Prigozhin para a BIelorrússia.

Mas disse que vai cumprir o que prometeu ao agora ex-comandante do Grupo Wagner, se este acatar a sua parte do trato e se assentar na Bielorrússia, sabendo-se já que os processos judicias permanecem abertos para o caso de este falhar o seu compromisso.

A acusação mais demolidora deste discurso foi, no entanto, dirigida ao ocidente, aos aliados de Kiev, especialmente, embora sem referir, aos EUA, quando diz que estes queriam ver o sangue a correr nas ruas da Rússia brotando de combates entre russos e o país divido.

Isto, apesar de, já durante a tarde de hoje, o Presidente Joe Biden ter garantido que os aliados ocidentais nada fizeram para incentivar o motim do Grupo Wagner e que se tratou de um problema exclusivamente interno, tal como o sublinhou o chefe da NATO, Jens Stoltenberg, e os Presidentes da França, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, tendo, porém, todos eles dito que o chefe do Kremlin estava agora mais fragilizado que nunca no seu poder.

Esta declaração de Putin surge escassas horas depois de Prigozhin ter apresentado as suas razões num vídeo de mais de 10 minutos nas redes sociais, sem dizer onde estava nem quando foi gravado.