Moçambique pode, assim, estar quase a furar a "ordem" ocidental, dos EUA e da União Europeia, que impuseram sanções sobre o petróleo vendido pela Rússia no contexto da guerra na Ucrânia, levando Moscovo a impor que o seu crude e o gás natural passem a ser adquiridos na sua moeda nacional, o rublo.
Esta possibilidade foi avançada pelo ministro dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique, Carlos Zacarias, que, citado pelo imprensa do país, disse que o Governo de Maputo está a analisar essa possibilidade e se ela se revelar "viável" não ser recusada e passa a ser opção válida.
A volatilidade dos preços do crude devido à instabilidade global com epicentro no conflito no leste europeu e as fortes sanções impostas pelo ocidente a Moscovo, que levou, por exemplo, a Rússia a vender largas quantidades de petróleo à China, à Índia ou a outros consumidores asiáticos, incluindo a Arábia Saudita, com descontos substanciais, está a empurrar Maputo para uma possível abordagem lucrativa ao modelo de pagamento proposto pla Federação Russa.
Indo mesmo mais longe, demonstrando um alinhamento com a estratégia russa de confronto com o ocidente, nomeadamente os Estados Unidos e a União Europeia, o governante moçambicano respondia a uma proposta feita pelo embaixador russo em Maputo, Alexander Surykov, que a justificou com o facto de as moedas nacionais de Moçambique e da Rússia não necessitarem da "benevolência de outros países" porque "controlam o sistema financeiro internacional".
Mas o primeiro sinal de que Maputo não alinha com o ocidente no embalo sancionatório a Moscovo ficou claro nas votações na Assembleia-Geral da ONU onde os EUA procuraram isolar os russos em votações de resoluções que a isso conduziam, acusando Moscovo de responsabilidade na crise alimentar global e na sua expulsão do Conselho dos Direitos Humanos.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.
O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.