Depois de ter sido dado como culpado pelo júri de um tribunal de Nova Iorque em 34 acusações de ilegalidades financeiras relacionadas com o caso STormy Daniels, a artista de filmes pornográficos com quem teve um caso, Donald Trump parece estar a perder gás na sua campanha para as presidenciais de 05 de Novembro.

Com efeito, cerca de uma semana após ser anunciado que Trump fora dado como culpado de todas as acusações de pagamentos ilícitos à pornostar para esconder um "curto romance" antigo de forma a obter o seu silêncio na campanha de 2016, que ganhou, já existe um conjunto de sondagens que permitem obter uma radiografia do sentimento dos eleitores.

E de uma sucessão de meses sistematicamente à frente de Joe Biden, nalguns momentos mais folgado, noutros mais apertado, Donald Trump está agora ligeiramente atrás, embora com margens escassas e largamente dentro da margem de erro legal de todos os estudos de opinião.

Há, no entanto, uma "nuance" que pode ser benéfica para o candidato republicano contra o democrata e actual Presidente, que é o persistente e, para já, imutável, avanço nas sondagens referentes aos denominados "swing states", que são os sete estados norte-americanos que balançam entre eleições e onde, efectivamente, é decidida a eleição.

Por exemplo, em 2016, para chegar à Casa Branca, Trump venceu em quase todos os sete estados "dançantes", Arizona, Michigan, Wisconsin, Nevada, Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia, e em 2020, com excepção da Carolina do Norte, estes círculos eleitorais deram a vitória a Joe Biden.

Alguns destes estados são bem conhecidos por estarem no mapa do lendário faroeste americano povoado pelos fora-da-lei de onde saíram alguns dos heróis mais populares entre o cidadão comum dos EUA, mesmo que embrulhados em vidas marcadas pelos atropelos à lei... e Trump encaixa bem no perfil...

Ora, se se mantiver esta correlação entre as votações nos sete swing states, o que nada leva a crer que possa ser alterado, e se as sondagens estiverem correctas, o que nos EUA tendem a não estar muito longe da realidade, então Donald Trump pode muito bem ter a vantagem decisiva mesmo que as sondagens nacionais o coloquem 1 a 3 pontos atrás de Biden.

Alias, não é por acaso que Joe Biden está claramente em modo de aproveitamento deste mau momento judicial de Trump entre o eleitorado menos radicalizado, tendo mesmo ousado algo nunca visto até agora, que foi chamar "delinquente" a Donald Trump aproveitando a sua recente "condenação", embora ainda falte o proforma da aceitação do veredicto pelo juiz.

Do mesmo modo, Trump procurou virar o bico ao prego e optou por atirar fora o lastro em excesso no seu voo eleitoral afirmando que os eleitores norte-americanos iriam castigar Biden por estar a usar a justiça para o prejudicar, numa tentativa de ligar a decisão do júri às ligações alegadamente democratas do juiz que liderou o julgamento no Tribunal de Manhattan.

E, se se tiver em consideração a torrente de apoios financeiros que entraram na sua conta de campanha nas horas subsequentes, dezenas de milhões de dólares, então os eleitores de Trump estão a ir na sua cantiga e a querer responder com a justiça das urnas à injustiça dos tribunais.

Biden aproveitou estes ventos favoráveis para secar algum do eleitorado main stream que ainda é afectado por posturas menos dignas de um candidato à Casa Branca, referindo-se a Trump como um delinquente e que emerge do caldo histórico da democracia americana como o primeiro ex-Presidente condenado a querer voltar a ocupar o cargo.

Esta é a "primeira vez na história da democracia americana qie um ex-presidente e delinquente condenado está a concorrer à Presidência", disparou Joe Biden., para quem Trump é uma "ameaça directa# à democracia norte-americana.

Recorde-se que este caso Stormy Daniels é, provavelmente, um dos menos gravosos que Trump tem pela frente, sendo, claramente, os mais graves o incentivo à tomada do Congresso a 06 de Janeiro de 2021 por uma avalanche de apoiantes radicais, e a tentativa de esconder documentos secretos em sua casa levados quando ainda era Presidente. (ver links em baixo)

E numa coisa Trump está parcialmente certo... alguma vantagem eleitoral que tenha, pode muito bem ser afogada em tantos e tão sérios processos judiciais, mesmo que pouco ou nada Biden tenha a ver com isso.

Uma possível saída de Donald Trump é que na história dos Estados Unidos são muitas as evidências de que o cidadão comum, o eleitor comum, portanto, tem um "fraquinho" pelos fora-da-lei, como são disso exemplos, entre tantos outros, Billy the Kid, em finais do século XIX, ou Al Capone, no início do século XX.