O Presidente da Gâmbia justifica este voltar da palavra atrás com uma investigação, que não se sabe por quem ou qual a organização que a fez, onde se descobriu que ocorreram irregularidades "inaceitáveis".

Aquela que poderia ser a primeira transição de poder pacífica desde a independência do país, que foi colónia britânica até 1965, entra agora numa fase em que os festejos populares nas ruas pela saída de Jammeh, que sempre governou com mão de ferro e instabilidade nos humores, havendo registo de recurso à tortura dos opositores e a detenções ilegais, pode dar lugar a nova instabilidade de dimensões e consequências imprevisíveis.

Claramente pouco credível na argumentação, até porque é conhecido o controlo absoluto de Jammeh sobre o Estado e as suas instituições, esta atitude do Presidente gambiano, que deveria passar o poder a Barrow em Janeiro, já obteve uma reacção do seu único vizinho terrestre, o Senegal.

A Gâmbia é o mais pequeno país do continente africano se não se tiverem em conta as ilhas, está situado na África Ocidental e é apenas um "enclave" com pouco mais de 1,8 milhões de habitantes no Sul do Senegal, país que já se pronunciou sobre a reviravolta de Jammeh, com o seu ministro dos Negócios Estrangeiros a avisar que rejeita que o resultado das eleições não tenha as consequências naturais.

"O Senegal rejeita e condena fortemente esta declaração", afirmou Mankeur Ndiaye num comunicado onde exige que "o Presidente cessante respeite sem condições a escolha democrática livremente expressa pelo povo da Gâmbia".

A advertência vai ainda mais longe, afirmando Ndiaye que é obrigatório que Jammeh"organize a transmissão pacífica do poder", garantindo "a segurança e a integridade física do presidente eleito", Adama Barrow.

Dacar pede ainda às organizações pan-africanas, como a União Africana e à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental que tudo façam para impedir que Jammeh se mantenha ilegalmente no poder, obrigando-o a reconhecer a decisão do povo soberano.

Yahya Jammeh, de 51 anos, assumiu o poder em 1994 através de um golpe de Estado e fez-se eleger dois anos depois, tendo sido reeleito em 2001, 2006 e 2011, preparando-se agora para novo golpe de forma a manter-se no poder, depois de perder as eleições da semana passada.

As reacções da comunidade internacional começaram a surgir e esta recusa em aceitar os resultados já foi severamente criticada pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Uma reacção crítica da União Africana é igualmente esperada para breve porque a reviravolta de Jammeh contraria de forma clara a sua Carta para a democracia e eleições.