Quase em simultâneo ao anúncio deste acordo, que dá uma robustez acrescida à governação de Gaza por palestinianos, as forças israelitas massacravam dezenas de palestinianos em Khan Younis, uma das cidades de Gaza onde estão refugiados milhares de famílias.
Esta frente palestiniana, que agrega Hamas e Fatah, e dá solidez à gestão nacional de Gaza contra o que defendem os partidos mais radicais que integram o Governo israelita de Benjamin Netanyhau, foi fortemente criticado pelo ministro israelita dos Negócios Estrangeiros.
Israel Katz lançou um forte ataque a este acordo e apontou o dedo ao Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, por dar corpo a um acordo que liga a sua Fatah ao Hamas, que Israel e os seus aliados ocidentais consideram um grupo terrorista.
A complementar as críticas de Katz ao acordo, que vem alargar a frente palestiniana opositora à invasão israelita de Gaza, e à restante ocupação dos territórios palestinianos por centenas de colonatos judeus desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, as Forças de Defesa de Israel (IDF) mataram, em apenas 24 horas, pelo menos 84 pessoas e, segundo a Al Jazeera, feriram mais de 250.
Esta nova chacina eleva o número oficial de mortos desde 07 de Outubro de 2023, depois do ataque do Hamas ao sul de Israel, onde deixou um rasto com 1220 mortos, embora seja hoje já provado que dezenas foram vítimas de "fogo amigo" israelita, para 39.090 e mais de 90 mil feridos, em Gaza.
Mas, para o Governo israelita, pela voz de Israel Katz, este acordo é uma cedência de Mahmoud Abbas ao Hamas porque, "em vez de rejeitar o terrorismo, abraça os assassinos e raptores do Hamas, revelando a sua verdadeira face".
Katz avisou ainda que um Governo do Hamas e da Fatah em Gaza "nunca verá a luz do dia" porque o Hamas "vai ser totalmente destruído".
Porém, aquele que é um dos exércitos mais bem equipados do mundo, com acesso ilimitado às armas dos arsenais norte-americanos, incluindo os famosos aviões de guerra F-35 e os seus sofisticados misseis, em mais de nove meses de guerra aberta, na qual emprega mais de 350 mil soldados, está longe de ter conseguido erradicar o Hamas, com pouco mais de 70 mil combatentes e armado com armas ligeiras e roquetes caseiros.
O acordo entre Hamas e Fatah foi assinado em Pequim, depois de três dias de negociações intensas, patrocinadas pelo Governo chinês, e para o qual o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, deu a cara e tem como objectivo gerir Gaza após o fim da invasão israelita.
Essa governação terá a designação de Governo de reconciliação nacional e inclui, além do Hamas e da Fatah, mais 12 grupos palestinianos.
Perante a vertigem da guerra em Gaza e a mortandade genocida, como configuram as acusações de tribunais internacionais sob caução da ONU, este acordo, como sublinham vários signatários citados pela Al Jazeera, "tem uma abrangência e objectivos muito para além da questão de Gaza".
E podem ser históricos se forem um primeiro passo para a união sólida das dezenas de grupos palestinianos, alguns deles nada radicais, como o social-democrata Fatah, que integrou inicialmente a antiga Organização de Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat.
Se tal cenário se vier a confirmar, as pretensões israelitas, pelo menos das facções mais radicais do actual Governo de Benjamin Netanyhau, de ocupar de novo Gaza estão claramente dificultadas e alaga sobremaneira a influência pró-palestinana no Médio Oriente, onde muitos países árabes olham de lado para o Hamas mas não para a Fatah e a Autoridade Palestiniana.