"Penso todos os dias. Penso calado, como se diz. Não seria verdade dizer que não penso, tenho de pensar, é meu dever pensar, porque não podemos deixar que o País fique nas mãos de um qualquer", disse João Lourenço.
"É a minha obrigação ajudar a encontrar um substituto, que me vai substituir. E digo ajudar, porque não depende apenas da minha vontade, mas com certeza que estou em melhores condições do que qualquer outro cidadão de indicar o rumo a seguir", acrescentou, para depois defender que o seu substituto deverá ser igual ou melhor do que ele.
"Que faça igual ou melhor que eu! Se não conseguir isso, ficarei com remorso, sentir-me-ei, de alguma forma, responsável por isso", referiu.
Questionado sobre o perfil do futuro Presidente da República, lembrou que há 46 anos, "Angola teve a infelicidade de perder o Presidente Agostinho Neto", que proclamou a Independência.
"Naquela altura, quem assumiu as rédeas do poder foi um jovem, que só tinha 37 anos. Então, o João acha que hoje, 46 anos depois, ou mais, quando houver as eleições em 2027, aí serão 48 anos depois, de o Presidente Eduardo Santos ter assumido a Presidência da República, acha que vamos regredir?", questionou, para logo dizer que o País não vai querer alguém de 90 anos para assumir a Presidência.
"Se, naquela altura já se teve a visão de se pensar num jovem - claro que não foi um jovem qualquer - um jovem que, no nosso entender, estava preparado para assumir essa responsabilidade...E hoje temos, igualmente, não um, nem dois, nem três, temos alguns jovens que, com certeza, estarão, quando chegar o momento, em condições e preparados, de todos os pontos de vista, para assumir as rédeas da governação de Angola", destacou.
Sobre o balanço dos 50 anos de independência, João Lourenço repetiu o que já tinha dito em 2024, no lançamento da agenda política do MPLA.
"Se quisermos ser realistas, fizemos muito mais em 50 anos do que o regime colonial português fez em 500 anos, em praticamente todos os domínios, de infraestruturas, de rede de estradas, de produção de energia, distribuição de energia, número de escolas e de alunos, de carteiras, quantidade e qualidade de hospitais e número de camas, em todos esses domínios nós fizemos", afirmou, prometendo "um balanço com números a comparar o antes e o hoje".
"Vamos fazer esse balanço com números, a comparar o antes e o hoje, os 50 anos, mais próximo da data da comemoração dos 50 anos, mais próximo do mês de Novembro ou mesmo no mês de Novembro. Portanto, valeu a pena. É evidente que há um ou outro saudosista, como a gente chama, que diz que o tempo colonial era melhor e tal..."
Relativamente às eleições autárquicas, o Chefe de Estado disse que o impasse entre os parlamentares tem inviabilizado a realização das eleições autárquicas no país.
"Parte dos partidos com assento parlamentar defende que não há condições para um País que nunca fez eleições autárquicas fazer eleições em simultâneo em todo o território nacional, em todos os municípios, e na altura só tínhamos 163 municípios. Já defendíamos que não era possível. E há uma outra parte dos partidos com assento parlamentar para quem ou é tudo ou é nada. Ou se fazem em todo os municípios do País de uma vez, em simultâneo", disse, acrescentando que foi ele quem levantou a questão das autárquicas, numa reunião do Conselho da República.
"Até surpreendi, naquela altura surpreendi. Ninguém esperava que eu levantasse essa questão. É evidente que a Constituição já falava das eleições autárquicas, mas não se sentia, da parte da sociedade, dos partidos políticos, nenhuma pressão para que aquilo acontecesse logo", sublinhou.
Sobre as novas disposições da Lei que define a entrada, permanência, saída e afastamento de cidadãos estrangeiros aprovadas pelo parlamento português o Presidente mostrou "algum incómodo", alertando para os riscos que pode representar para as relações bilaterais e para o futuro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"De facto existe algum incómodo. O Brasil teve a coragem de manifestar já esse mesmo incómodo. Nós até aqui não dissemos nada, mas é evidente que estamos a seguir a evolução da situação com muita atenção", afirmou.
"Você só recebe na sua casa quem você quer. Portugal mesmo é um país de cidadãos que emigram bastante e que não é de hoje".
"Portanto, os portugueses emigraram para todo o mundo e o mínimo que a gente exige é que Portugal não trate os imigrantes que escolheram Portugal como um destino para fazerem suas vidas de forma pior à que foram tratados nos países que os acolheram ao longo dos anos", disse.