Apesar dos avanços registados, a economia angolana continua excessivamente dependente do petróleo, que ainda representa mais de 90% das exportações e cerca de 50% das receitas fiscais. Esta dependência torna o País vulnerável às flutuações do mercado internacional e limita a sua capacidade de gerar empregos sustentáveis e distribuir riqueza de forma equitativa.
Com uma população que ultrapassa os 35 milhões de habitantes e cresce a um ritmo acelerado, Angola enfrenta desafios estruturais profundos. A taxa de desemprego jovem ultrapassa os 54%, refletindo a dificuldade de absorção da juventude no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, os elevados níveis de desigualdade social limitam o impacto do crescimento económico e agrava as disparidades no acesso a oportunidades. Estes factores evidenciam a urgência de uma diversificação económica que seja inclusiva, sustentável e centrada nas pessoas.
E mesmo que as expectativas indiquem uma tendência de crescimento económico e sonhem com hipotéticos cenários que indicam que a inflação, que atingiu 28% em 2024, deverá recuar este ano. Estes números, embora encorajadores, não escondem a realidade: o crescimento económico continua a ser insuficiente para responder às necessidades de uma população jovem e em rápido crescimento.
Há, no entanto, sinais de mudança. A agricultura, a indústria transformadora, a mineração e os transportes de carga começam a ganhar protagonismo. A digitalização da economia e a aposta em infra-estruturas logísticas também surgem como vectores promissores. Mas a questão central permanece: estamos a diversificar com foco e coordenação ou apenas a multiplicar intenções? Pretendemos de facto redistribuir mais para crescer melhor? Ou apenas crescer mais para depois ver se é possível redistribuir melhor?
A diversificação não pode ser uma lista de desejos. Precisa de foco estratégico. É necessário identificar sectores com real potencial competitivo, colocar as pessoas no centro através de um maior investimento em educação e capacitação, facto que pressupõem alinhar todas as políticas públicas a um objectivo central. Se o turismo, agricultura, pescas, pecuária, indústria mineira, por exemplo, forem as apostas, então a saúde, transportes, educação e segurança pública, a par de um robusto Estado Democrático e de Direitos, devem ser pensados como alicerces desses sectores. Caso contrário, veremos os riscos de insucesso incrementados.
Além disso, é fundamental integrar também os pequenos produtores, as pequenas e médias empresas, os milhares de actores que estão no sector informal das várias regiões do País e suas potencialidades na economia formal e nas cadeias de valor regionais e globais. A localização geográfica de certas regiões do País não pode continuar a ser um obstáculo, mas, sim, uma vantagem estratégica. A industrialização, por sua vez, não pode seguir o modelo clássico. Deve ser impulsionada por tecnologia, inovação e sustentabilidade.
A liderança necessária para essa transformação deve reunir três ingredientes: ambição, foco e coordenação. Ambição para projectar o País, tendo em conta as megatendências globais - climática, demográfica e tecnológica. Foco para escolher com rigor os sectores prioritários. E coordenação para garantir que todas as políticas públicas convirjam para um objectivo comum.
Angola não pode continuar a viver da sua autopercepção de que somos especiais por sermos uma potência petrolífera em África. O futuro exige mais. Exige uma economia que gere valor local, que reduza a pobreza com base em produtividade e que prepare os jovens para lidar com um país e um mundo em transformação. A atração de investimentos estrangeiro - pode, sim, trazer empregos para Angola, dependendo dos sectores que os investidores decidam apostar em Angola - é uma oportunidade real, mas exige instituições políticas que funcionem e um sistema educativo de qualidade e alinhado com as exigências do século XXI.
A diversificação é, sim, relevante. Mas só será eficaz se for estratégica, realista e centrada nas pessoas. O tempo das promessas já passou. Agora é hora de agir porque as pessoas precisam de sentir que algo de bom está, de facto, a ocorrer nas suas vidas.

*Coordenador OPSA