Sabe-se que um dos mais severos crimes de guerra protagonizados pelas Forças de Defesa de Isral (IDF), 280 mortos e 700 feridos, muito deles com a vida por um fio em hospitais sem quaisquer condições, está a sr justificado com a libertação de quatro reféns israelitas nas mãos do Hamas.

Mas tamanha brutalidade, com recurso a artilharia pesada, aviões de guerra e helicópteros, que despejaram bombas e misseis em pelo menos três edifícios apinhados de famílias, segundo vários analistas, não pode ser justificada com a libertação de quatro reféns.

Estes analistas, citados e ouvidos, entre outros media, pela Al Jazeera, sublinham que uma operação deste tipo, que permite antecipar que centenas de civis iriam morrer ou ficar estropiados, por ser inevitável com a destruição em simultâneo e sem qualquer aviso prévio, de vários edifícios habitados por milhares de pessoas, só pode ser justificada com o aperto político em torno do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyhau.

Netanyhau está há semanas entre a espada e a parede com os radicais do seu Governo a exigirem a continuidade da matança de palestinianos, que já vai em 37 mil, e mais de 120 mil feridos, em pouco mais de oito meses, ameaçando com a demissão, o que faria cair o Governo.

Por outro lado, o chefe do Executivo, assente numa coligação que é a mais extremista desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, está fortemente pressionado pelo seu mais relevante aliado, os EUA, para evitar aumentar a gigantesca lista de civis chacinados pelas IDF.

Se em Washington, o Presidente Joe Biden quer que Israel reduza a intensidade da mortandade por pressão e protestos do seu eleitorado tendo as eleições à porta, a 05 de Novembro, no resto do mundo, com excepção do ilimitado suporte da Alemanha e do Reino Unido, ou mesmo da França, a acção criminosa de Israel em Gaza está a gerar uma nunca vista vaga de protestos e de acções judiciais contra Telavive.

Basta considerar que à acusação da África do Sul de genocídio contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) levou vários países a juntar-se à sua causa, e, além disso, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de captura contra Netanyhau e o seu ministro da defesa, Yoav Gallant por crimes de guerra e contra a Humanidade.

Porém, Benjamin Netanyhau está não apenas entre a espada e a parede, mas igualmente num beco sem saída...

Porque se não der continuidade ao genocídio em Gaza, pelo menos dois dos seus ministros, Bezalel Smotrich, das Finanças, e Itamar Ben-Gvir, da Segurança Nacional, já disseram que se demitem, fazendo cair de imediato o seu Governo.

Ora, no caso de Netanyhau não é apenas o seu futuro político que está na corda bamba, é ainda a sua situação civil, onde é arguido em processos judiciais com acusações severas de corrupção e branqueamento de capitais mas que a guerra colocou em stand by.

E é neste carrossel de apertos e ameaças que o primeiro-ministro israelita parece já ter decidido que não dará ouvidos a Joe Biden nem à indignação planetária com o genocídio em curso em Gaza, para manter os seus ministros extremistas religiosos e radicais ideológicos a seu lado, porque só assim será capaz de se manter no comando do Governo e longe dos tribunais onde deverá ser condenado assim que o conflito terminar ou deixar o poder.

Só que dificilmente sairá impune deste complexo jogo que está a jogar, porque, para além desse cenário apertado em que se move, correm igualmente suspeitas sérias de que todsa a operação do Hamas e da Jihad Islâmica a 07 de Outubro de 2023, que deu azo à actual operação militar em Gaza, terá tido algum tipo de conivência interna.

Isto, porque é difícil de aceitar que três das mais famosas secretas do mundo, a Mossad (externa) o Shin Bet (interna) e a AMAN (militar), não foram capazes sequer de suspeitar da organização, preparação e lançamento da invasão, a 07 de Outubro do ano passado, do sul de Israel envolvendo milhares de combatentes e jihadistas do Hamas e da Jihad Islâmica.

Isto, enquanto ainda decorrer o balanço de mortos e feridos no ataque brutal ao campo de refugiados de Nuseirat, no Sábado, 08, que a Associated Press descreve em forma de guião de filme, "eles chegaram ao meio dia, quando os edifícios de Nuseirat estavam cheios de mulheres e crianças e as suas ruas apertadas estavam cheias de gente... e ninguém suspeitava de nada até que o ar se encheu de disparos" de bombas, misseis e artilharia.

"O raid israelita apanhou todos de surpresa, dos militantes do Hamas que guardavam os reféns em dois edifícios distintos, aos largos milhares de civis que de repente se encontraram a correr pelas suas vidas por entre os estrondos das explosões", descreve ainda a agência de notícias norte-americana.

O próprio não fez a ligação entre este episódio de extremo terror e a sua decisão, mas já esta segunda-feira, 10, se soube que Benny Gantz, o líder da oposição, à frente do Partido da Resiliência, que em Outubro, após o ataque do Hamas, entrou para o Gabinete de Guerra criado por Netanyhau, se demitiu do cargo de ministro sem Pasta.

Isto não é um golpe mortal em Netanyhau, mas fragiliza fortemente o seu poder, poque o homem que o desafia desde 2018 enquanto líder da oposição está agora fora do seu circulo próximo e a sua acção política vai engrandecer de forma impactante os vastos protestos de rua que há semanas enchem as ruas do país exigindo a demissão do primeiro-ministro.

Sobre a brutalidade do ataque em Nuseirat, uma das testemunhas, que por pouco se salvou das explosões, Anas Alayan, descreveu o cenário de terror que se viveu naquele momento, onde, além dos ataques aéreos, os comandos das IDF que resgataram os quatro reféns "executavam todos os palestinianos que lhes apareciam pela frente" incluindo mulheres e crianças.

"Havia corpos amontoados por todo o lado, e feridos sem qualquer socorro que lhes pudesse valer, pedaços de corpos espalhados...", contou esta testemunha a Hani Mahmoud, jornalista da Al Jazeera.

Quase em simultâneo, em Israel, onde foi montada uma operação de larga escala para aproveitamento político da libertação destes reféns, emergiram festejos populares por todo o lado, e até nas praias de Telavive a notícia chegou através dos sistema de som para emergências...

De todo o mundo começam a chegar aos media internacionais manifestações de indignação pela brutalidade da operação militar em Nuseirat, com um número de mortos e feridos que deixa a milhas a dimensão da indigna e recente operação numa escola de Rafah, onde um míssil matou dezenas de pessoas, incluindo crianças... porque ali estavam. alegadamente dois militantes do Hamas.

Sobre este massacre, para já, a única reacção norte-americana veio do conselheiro de Joe Biden para a Segurança Nacional, Jack Sullivan, que admitiu que o ataque israelita matou civis, amas atirou a culpa para o Hamas e para a sua irredutível decisão de não libertar os reféns que levou para Gaza a 07 de Outubro.