Este episódio resultou na morte de pelo menos nove pessoas, todos, à excepção de uma criança, combatentes do Hezbollah, o grupo xiita apoiado pelo Irão que ocupa o sul do Líbano, na fronteira norte de Israel, e mais de 3.000 feridos, quase todos com gravidade.
O grupo comandado por Hassan Nasrallah já veio dizer que, nesta quarta-feira, 18, apesar da dimensão do ataque da Mossad, que teve impacto no Líbano, na Síria e no Iraque, onde estão dispersos elementos do grupo, as suas iniciativas em apoio ao Hamas não vão ser afectadas.
Em Telavive, como sempre sucede, nem a Mossad nem o Governo de Benjamin Netanyhau se pronunciaram ainda sobre esta ousada operação que, se não incapacitou o Hezbollah na sua operacionalidade, pelo menos provocou uma séria fractura no seu orgulho.
Segundo relatam vários media e canais nas redes sociais, a Mossad, teveconhecimento de que o Hezbollah estava a encomendar centenas de pagers, pequenos aparelhos que já pouco se usam mas foram muito populares nos anos de 1990, para recebimento de pequenas mensagens escritas com alarme para a sua entrada.
Uma empresa de Taiwan foi quem fabricou os pagers usados nesta operação especial da Mossad, cujos agentes se introduziram na cadeia de abastecimento e colocaram explosivos no interior dos aparelhos sem que estes fossem detectados pela apertada malha de segurança do Hezbollah.
Os pagers "minados" pela Mossad chegaram às mãos dos elementos do Hezbollah, escolhidos por ser pressuposto que estes são seguros às interceptações do "inimigo", há meses mas só agora explodiram, em simultâneo, fazendo nove mortos e mais de 200 feridos com severa gravidade entre mais de 3.000 afectados.
Este cenário permite supor que, além de terem sido usados para assassinar, ou tentar assassinar, elementos do Hezbollah, os aparelhos também estavam a ser usados para seguir as comunicações das estruturas superiores do grupo para as áreas subordinadas.
Sendo um ataque sem precedentes, a maior vítima foi o orgulho do Hezbollah, que já veio avisar Israel que a resposta será "ajustada" à severidade deste ataque da Mossad, além de que, na mesma ocasião, o grupo xiita proxy do Irão anunciou um profundo inquérito para apurar onde é que surgiu a fractura na apertada rede de segurança.
Mas o que já se sabe é suficiente para perceber o grosso do esquema que, mais cedo ou mais tarde, irá parar aos ecrãs em todo o mundo na forma de mais um "blockbuster" made in Hollywood.
A empresa taiwanesa, ao que tudo indica, segundo a Reuters, a Gold Apollo, adjudicou a produção dos pagers a uma subsidiária europeia, onde, naturalmente, ocorreu a penetração dos agentes da Mossad que armadilharam os aparelhos com explosivos de alta densidade.
Para já, a Gold Apollo refuta todas e quaisquer responsabilidade, aludindo a um acordo com a empresa europeia apenas para uso da marca, não havendo qualquer outro elo de ligação entre ambas.
Isto é relevante porque a falha de segurança não foi apenas na estrutura do Hezbollah, ela foi em primeiro lugar furada na malha de segurança do fabricante que agora viu a sua reputação explodir em conjunto com os seus pagers.
Entre as vítimas da Mossad, além de milhares de combatentes do Hezbollah, estão ainda embaixadores do Irão no Líbano, entre outros diplomatas, e, segundo este grupo xiita, Israel terá usado este "truque" para vingar de um atentado contra um oficial superior da segurança em Telavive.
Ao que se sabe até agora, e as consequências mostram que assim foi, porque dezenas de hospitais foram inundados neste país e na Síria com vítimas das explosões destes aparelhos "contaminados" pela Mossad, todos eles explodiram ao mesmo tempo.
Com este ataque dois resultados são evidentes: os esforços ocidentais, especialmente dos EUA para reduzir a tensão no Médio Oriente sofre um serio revés, e o Hezbollah está agora novamente obrigado a redobrar os ataques contra Israel para repor o orgulho ferido.
Recorde-se que ainda por cumprir está a ameaça de vingança deste grupo pelo assassinato do seu 2º comandante militar, general Fuad Shukr, no Líbano, horas antes da morte, também por Israel, e provavelmente pela Mossad, do líder do Hamas, em Teerão, Ismail Haniyeh, a 31 de Julho.
O Irão - e o Hezbollah - está claramente (ver links em baixo) a retardar a sua acção punitiva prometida por razões estratégicas, mantendo o Governo de Israel sob tensão, ou pelo menos essa era a intenção, ou uma das intenções, que, com esta ousada "operação pager", mostra que tal tensão não existe.