Esta escalada regional do conflito de Gaza entre Israel e o Hamas começou com ataques feitos pelos movimentos que o Irão apoia contra posições e interesses israelitas e ocidentais na região, desde logo com disparos de misseis e roquetes do Hezbollah a partir do sul do Líbano contra alvos no norte de Israel, ou ainda dos rebeldes Houthis contra embarcações ligadas a Israel e aos EUA que atravessam o Mar Vermelho de e em direcção ao Canal do Suez.
Menos expostos nos media ocidentais, mas igualmente importantes no contexto da escalada da violência no Médio Oriente, surgem nos radares dos EUA e do Reino Unido os ataques de milícias xiitas iraquianas contra instalações diplomáticas destes países, ou das suas secretas instaladas em empresas ou ONG"s de fachada, como está a suceder nas últimas semanas.
Teerão considera que os ataques realizados nas últimas horas contra uma "sede" da secreta israelita, Mossad, em Erbil, no Curdistão iraquiano, localizada paredes meias com o consulado dos Estados Unidos nesta cidade, e contra posições do `estado islâmico" na Síria, a partir do sistema de misseis de longo alcance da sua Guarda Revolucionária, o que não sucedia há muito tempo, é uma resposta aos ataques de que têm sido alvo as suas unidades tanto na Síria como no Iraque, quer pelos EUA, quer por Israel.
Às justificações para esta sucessão de ataques de "vingança", Teerão acrescenta o recente, na cidade de Kerman, sul do país, que matou mais de 90 pessoas durante uma cerimónia junto ao túmulo do general Qassem Suleimani, antigo comandante da sua unidade de elite, e que foi reivindicado pelo `estado islâmico", embora o Irão e a Síria tenham já acusado Washington de estar a usar este grupo terrorista como fachada para as suas acções, visto que as escassas células que restaram não possuem, asseguram, capacidade para conduzir ataques da envergadura dos que estão a assumir a autoria.
Apesar das muitas incertezas sobre o que estão efectivamente a suceder e a ser preparado nesta vasta região do Médio Oriente - alguns analistas defendem que o Irão estã a demonstrar a Israel e aos EUA a sua capacidade de atingir alvos a longas distâncias -, certo e seguro que se está perante uma escalada geográfica do conflito de Gaza para o resto do Médio Oriente, com consequências impossíveis de antecipar.
Até porque, já nesta noite de terça-feira para hoje, quarta-feira, 17, o Irão voltou a usar os seus misseis balísticos, provavelmente os Shahab-3 ou Ghadr, com alcances de 1.000 a1.600 kms respectivamente, para atacar posições do grupo sunita Jaish al-Adl, no Paquistão, uma potência nuclear que já criticou de forma veemente esta acção iraniana.
Este ataque no interior do Paquistão alarga claramente o mapa do já complexo xadrez político-militar no Médio Oriente, mas o Irão alega que, embora respeite a soberania dos vizinhos, não pode deixar de responder aos ataques de que é alvo a partir das áreas onde infligiu estes golpes balísticos.
Alguns analistas colocam como hipótese o Irão estar a aproveitar a intrincada situação nesta região para atacar posições inimigas e cumprir as promessas de vingança feitas pelos seus lideres, nomeadamente o líder supremo, o aiatola Ali Khamenei, como foi sonoramente verbalizado aquando da morte do general Qassem Soleimani, um herói nacional, em 2020, em Bagdad, capital do Iraque, por um drone norte-americano.
A questão que por estes dias se ouve de forma mais ruidosa é: e agora? Como vão responder os Estados Unidos e Israel e os seus aliados ocidentais? Com uma frota naval de guerra, incluindo porta-aviões, submarinos e navios de superfície, no Mar Vermelho e Mar Arábico para proteger a navegação dos ataques Houthis, atacando alvos destes rebeldes no Iémen, violando igualmente a soberania deste país, a resposta pode surgir a qualquer momento.
Mas há um senão, com uma geografia tão vasta para controlar, que vai do Paquistão ao Mediterrâneo Oriental, Líbano e Israel, incluindo a Jordânia e a Síria, ambos com fronteiras com a Palestina, o Iraque e o Golfo Pérsico, o risco de a situação ficar totalmente fora de controlo é uma possibilidade demasiado evidente, como tem sublinhado o Secretário-Geral da ONU, António Guterres.
Ucrânia volta aos ecrãs do mundo e junta pólvora à guerra em Gaza
Entretanto, enquanto em Gaza a chacina de civis palestinianos continua sem dar sinais de abrandar, apesar das promessas nesse sentido feitas pelos Estados Unidos depois da última visita à região do secretário de Estado Antony Blinken, no leste europeu, o Presidente ucraniano está a fazer um gigantesco esforço para não deixar que a "sua" guerra seja apagada das primeiras páginas dos jornais e dos ecrãs das televisões internacionais.
Mesmo sabendo que o seu "plano de paz em 10 pontos" está condenado ao fracasso, Volodymyr Zelensky voltou a insistir numa reunião de dezenas de países em Davos, na Suíça, onde decorre por estes dias o Fórum Económico Mundial, para isolar a Rússia, procurando envolver os países do Sul Global, claramente menos empenhados na sua causa que os seus aliados do Ocidente Alargado.
Para já, a reunião que antecedeu o Fórum de Davos, onde não esteve Zelensky, foi um sonoro fracasso, porque os países presentes não alinharam numa declaração final, deixando Kiev de mãos a abanar com o seu inexequível plano de paz, como se apressou a vir a público reafirmar o Presidente russo, Vladimir Putin.
Este plano, que exige a saída sem negociações de todas as forças russas da Ucrânia, incluindo as regiões anexadas já por Moscovo e ocupadas militarmente, só tem respaldo nos aliados europeus e norte-americanos de Kiev, não prevendo sequer quaisquer negociações directas com Putin, como, de resto, o impõe um decreto presidencial de Zelensky aprovado no Parlamento do país em 2022.
Mas na União Europeia, onde reside a derradeira esperança de Kiev, depois de nos EUA o Congresso estar a descartar de forma inequívoca, embora o processo não esteja ainda fechado, mais apoios substantivos aos ucranianos, está em curso um novo impulso, protagonizado pela sua presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, que voltou a apresentar para aprovação dos 27 um pacote financeiro de 50 mil milhões de euros para a Ucrânia.
A par desta derradeira tentativa de retomar a iniciativa militar ucraniana na frente de guerra, surgem notícias nos media ocidentais, especialmente norte-americanos, como The New York Times, Politico ou a Bloomberg, que a Rússia está, claramente, a ganhar terreno e robustez nas suas posições territoriais, com alguns analistas a admitirem que, se não for retomado o apoio ocidental em grande monta, especialmente em armas e munições, Moscovo pode estar prestes a ocupar novas vastas áreas do sul da Ucrânia, incluindo o que resta do acesso ao Mar Negro e a cidade de Odessa.
E essa tentativa, para já sem um evidente sucesso, de voltar a colocar a guerra na Ucrânia nos cabeçalhos dos media internacionais é de tal modo substancial que alguns jornais alemães, apesar de estarem a ser ridicularizados pelos analistas mais atentos, estão a divulgar a existência de documentos secretos da Alemanha e da Suécia que apontam para uma guerra aberta entre a NATO e a Rússia já em 2025.
O que encaixa como uma luva no discurso de Zelensky em Davos, perante uma plateia mundial de aliados ocidentais, onde este defendeu que a Europa ocidental tem de pensar bem se quer apoiar agora a Ucrânia para derrotar a Rússia ou avançar com as suas forças em 2025 para lidar com a Rússia a entra-lhes porta adentro.
Zelensky vai ainda mais longe, no embalo destas notícias, ao perguntar aos europeus presentes em Davos se são capazes de organizar até 2025 um Exército com a competência do ucraniano para travar uma invasão de Moscovo?
A resposta ver-se-á em breve, com a aprovação dos 50 mil milhões de euros para Kiev no Parlamento Europeu, que, mesmo que não garantam, se foram aprovados, um novo impulso ucraniano na frente de batalha, permitem a Volodymyr Zelensky aguentar as contas de funcionamento do Estado, como o pagamento de salários e das pensões, ao mesmo tempo que ganha fôlego para lidar com a crescente crítica interna e o atrito cada vez mais evidente com o seu CEMGFA, Valery Zaluhzni.