O Hamas considerou este assalto ao sul de Israel como uma acção de resistência à ocupação israelita da Palestina que já dura desde 1948, aquando da criação do Estado hebraico, mas, para Israel foi a mais rude humilhação ao ter sido apanhado de surpresa.
A resposta não se fez tardar - em baixa nesta página, para se revisitar aqueles primeiros dias, estão links para as primeiras notícias - e em Telavive o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau organizava já uma operação militar punitiva contra o Hamas, mas que teve na população civil as suas maiores vítimas..
Mais de 350 mil soldados, com o apoio de centenas de carros de combate pesados e milhares de peças de artilharia, complementados com vagas sucessivas de bombardeamentos aéreos e de tiros a partir dos navios na costa de Gaza, deram início à vingança israelita.
Aos perto de 1.200 israelitas e estrangeiros, dezenas de ocidentais e cerca de meia centena de imigrantes asiáticos, e perto de 350 soldados apanhados de surpresa nos quartéis, mortos nesse dia pelos combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, terroristas para Israel e os seus aliados ocidentais, as Forças de Defesa de Israel (IDF) começaram a destruir Gaza.
Gaza, um amontoado de ruinas e palco de um genocídio
A Faixa de Gaza, um território com apenas 365 mil kms2 e mais de 2,3 milhões de habitantes, uma das mais densas concentrações populacionais do mundo, rapidamente se transformou num cemitério gigantesco, com, ao fim um ano, mais de 42 mil mortos, 80% destes mulheres, crianças e idosos.
Benjamin Netanyhau carrega às costas desde então a exigente, e quase impossível, obrigação de explicar como é que as mais afinadas forças de segurança do mundo e a intelligentsia mais prestigiada, desde logo a Mossad (externa), mas ainda o Shin Bet (interno) e a AMAN (militar) não viram o que se estava a passar enquanto o assalto a Israel estava a ser preparado em Gaza pelo Hamas, envolvendo milhares de homens e meios...
Mas não é só essa explicação que tem de dar ao mundo, internamente terá de explicar como é que dos três objectivos definidos para a sua operação militar de grande envergadura, envolvendo 350 mil soldados e o equipamento militar mais sofisticado saído dos arsenais norte-americanos sem restrições, nem um foi alcançado.
Além disso, o primeiro ministro de Israel é hoje um homem procurado pela justiça internacional, tal como o seu ministro da Defesa, além de líderes do Hamas, por crimes de guerra, sendo que, para as instâncias internacionais de Justiça, o Tribunal Penal Internacional (TPI) e o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) deram como provado estar em curso um genocídio em Gaza.
Esses objectivos eram (e são??!!) a libertação dos 250 reféns que os combatentes do Hamas, as Brigadas Al Qassam, levaram para Gaza no dia da invasão, a aniquilação do Hamas de fio a pavio e fazer daquele território uma zona segura para Israel.
Nem todos os reféns voltaram, sabendo-se hoje dezenas morreram, a maior parte durante ataques israelitas aos subterrâneos do Hamas, apesar de cerca de uma centena, ter sido libertada por troca com palestinianos presos em cadeias israelitas há anos sem acusação, mantendo-se uma centena em parte incerta.
E o Hamas mantém uma substancial capacidade combativa em Gaza, um território que permanece um local de ameaça sobre Israel com roquetes a continuarem a sair dali para as aldeias israelitas mais próximas...
Israel expôs fragilidades surpreendentes
Alguns analistas, como o major general Agostinho Costa, bem conhecido dos angolanos, tem sublinhado que esta é uma das maiores derrotas das poderosas IDF, com mais de 350 mil soldados e equipamento militar 2.0, combatem há um ano um grupo de cerca de 50 mil homens do Hamas e da Jihad Islâmica armados de equipamento ligeiro e roquetes caseiros, sem conseguirem limpar o território.
E quando o peso deste insucesso era já demasiado ruidoso para Netanyhau e o seu Governo, o mais radical de sempre, tanto ideologicamente como no âmbito religioso, se aguentarem, começaram a ser anunciados sucessivas vagas de negociações entre Telavive e o Hamas intermediadas pelos EUA, Egipto e Qatar para um cessar-fogo.
Depois de várias tentativas falhadas, mesmo que tenham sido conseguidos alguns dias de sossego para os milhões de cidadãos de Gaza que, por imposição das IDF andam há um ano de um lado para o outro em busca de segurança, comida e medicamentos, os israelitas foram destruindo, metodicamente, todas as zonas urbanas desta exígua faixa de território com 40 kms de extensão por 9 de largura, entalada entre o Mar Mediterrâneo a oeste, Israel a leste e norte, e o Egipto, a sul.
Sem que o Hamas fosse destruído, os reféns libertados e Gaza mantendo-se, mesmo que de forma menos vigorosa, um risco para as populações israelitas do sul do país, acossado, cada vez mais, pelos milhares de israelitas que se manifestam contra as suas políticas e com as suspeitas de conluio interno para o início da guerra de Gaza (ver aqui), Benjamin Netanyhau optou pela fuga em frente, abrindo uma nova frente de guerra contra o Hezbollah, no sul do Líbano, que faz fronteira com o norte de Israel.
É esta frente de guerra com o Hezbollah a mesma guerra, uma extensão do conflito de Gaza?, ou é uma infindável sequela das sucessivas, em décadas, guerras israelo-libanesas?
De Gaza à fronteira israelo-libanesa
Historicamente, são conflitos distintos, porque, sendo o Hezbollah um aliado umbilical do Irão, a fronteira israelo-libanesa alberga um risco de um alastramento explosivo para todo o Médio Oriente (ver links em baixo).
Isto, considerando que, em tratando-se do Irão, é quase certo que, num conflito com Teerão, Telavive contará, seguramente, com o apoio ilimitado do seu aliado mais férreo, os Estados Unidos da América.
Isso, ainda por cima agora que a, até aqui, mítica inexpugnabilidade da defesa aérea hebraica foi posta e causa, ou mesmo desmistificada, com o ataque da semana pelo Irão através com os seus surpreendentes misseis balísticos hipersónicos, que atingiram duramente áreas militares israelitas.
Desde aquele 07 de Outubro de 2023, há precisamente um ano, que deu início à mais longa guerra de Israel, mesmo que esta terminologia seja de difícil uso, visto que este país é um Estado-Exército em permanente sobressalto e postura de defesa conflituosa desde a sua fundação em 1948, em territórios palestinianos por imposição das antigas potências globais que eram o Reino Unido e a França, que o mundo vive sobressaltado com receio de uma escalada regional.
E esse risco está agora mais próximo e evidente que nunca porque, desde terça-feira da passada semana, aquando do ataque iraniano sobre Israel, que Telavive tem em suspenso uma, como afirmou Netanyhau e o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, punição adequada do Irão.
Washington já sabe
Em cima da mesa, como, de forma curiosa, em Washington tem sido publicamente referido pelo Presidente Joe Biden, está um ataque à infra-estrutura petrolífera iraniana, que é a preferida da Casa Branca, ou à infra-estrutura nuclear do Irão, como parece preferir Netanyhau e o seu velho amigo Donald Trump, antigo Presidente dos EUA com um possível regresso ao cargo já em Janeiro próximo se vencer as eleições de 05 de Novembro, face à democrata Kamala Harris e actual vice de Biden.
O que é o mesmo que dizer que só não se sabe quais os alvos a atacar por Israel no Irão, porque um ou vários ataques vão ser realizados nos próximos dias.
E eis que se chega a um momento de inflamabilidade no Médio Oriente com poucos paralelismos na história, porque também o Líder Supremo do Irão, aiatola Ali Khamenei, já ameaçou Israel sobre um novo e ainda mais poderoso ataque sobre Israel se alguma parte do seu território for atingida pelas forças israelitas.
Isto, porque Khamenei considera que os misseis disparados sobre Israel foram uma resposta legítima à longa lista de humilhações israelitas sobre o Irão, das quais se destacam os recentes ataques com os pagers e os walkie talkies, em Setembro, a morte em Terrão do líder do Hamas, Ismael Henaiyeh, em Julho, e o assassinato, também no mês passado, em Beirute, do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah...
Isto, consistentemente afirmado ao mesmo que diz que não pretende uma escalada da guerra, embora sublinhe que se Israel atacar, terá essa guerra e o Irão não ficará de braços cruzados.
O oráculo dos mercados petrolíferos
Com a invasão do sul do Líbano iniciada há cerca de duas semanas, onde as IDF procuram atingir o Hezbollah, aproveitando a fragilidade actual provocada pelos ataques dos pagers e a morte de Nasrallah, o Irão já veio a público garantir que dará todo o apoio necessário ao Hezbollah...
Se fosse necessário a um estratega refinado desenhar um plano para encaminhar, lentamente, o Médio Oriente para uma catástrofe regional jamais vista e com potencial para levar este braseiro para um patamar global, dificilmente conseguira melhor que a realidade que se apresenta hoje naquela melindrosa região do mundo.
E um sinal de que as coisas estão a encaminhar-se para o pior, ou um dos piores cenários, ou seja a iminência de um ataque israelita ao Irão, sobrando agora ver a intensidade que este terá, para medir a dimensão das chamas que se seguirão, é que nos mercados petrolíferos, onde inicialmente foi pouco tido em conta este tipo de escalada, as agulhas já tremem nos gráficos como as marcas frenéticas no papel durante um terramoto de grande envergadura.