O Times of Israel, um dos principais jornais do país, e a Kan News, o 3º canal de notícias mais importante em Israel, tiveram acesso ao documento elaborado em Setembro do ano passado pelas IDF mas este foi completamente ignorado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyhau.
Esta pode ter sido a pedra de toque no crescendo de evidências de que o ataque do Hamas e da Jihad Islâmica de 07 de Outubro só foi possível porque existiu um concluiu alargado envolvendo todos os serviços de segurança do país com Netanyhau à cabeça.
Desde logo, como noticiou o Haaretz, outro grande media israelita, nas semanas seguintes, surgiram dúvidas sobre como é que um país com três das mais robustas organizações de recolha de informações se deixou surpreender pelo ataque do Hamas.
E quem foi apanhado de surpresa foram nem mais nem que toda a intelligentsia israelita, a mundialmente famosa Mossad (externa), o não menos eficaz Shin Bet (interna) e a AMAN, a secreta militar que dá cartas entre as suas congéneres globais.
Como foi isso possível? Imediatamente surgiram dúvidas, e as pontas soltas acabaram por cair sobre a cabeça do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau e o seu Governo de radicais religiosos e ideológicos, servindo os interesses de todos eles.
Desde logo de Netanyhau que, acossado nos tribunais enquanto arguido num caso grave de corrupção e branqueamento de capitais, sob risco de ser condenado a grave pena de prisão, e ruidosas manifestações diárias contra as suas políticas, tendo a invasão de Gaza colocado tudo em stand by.
Mas também os interesses radicais e racistas dos dois partidos ultra-radicais, o Partido Sionista, liderado por Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, e o Otzma Yehudit, ou Partido do Poder Judeu, liderado por Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, que viram neste conflito uma oportunidade para, assumidamente, reocupar Gaza e expulsar deste território os palestinianos.
Devido às fragilidades do seu Governo, Netanyhau ficou, praticamente, nas mãos destes dois partidos extremistas, que não admitem quaisquer negociações com o Hamas e ameaçam em público fazer cair o Governo do Likud, liderado pelo primeiro-ministro, se este ceder à pressão internacional, incluindo dos EUA, para parar a guerra em Gaza.
Ora, as coisas começaram a complicar-se para Netanyhau logo nas semanas seguintes, com o levantar de dúvidas sobre a forma como a Mossad, o Shin Bet e a AMAN puderam deixar-se surpreender, além de que a fronteira com Gaza é a mais vigiada do país, incluindo uma parafernália tecnológica única no mundo.
E em Abril último, o chefe do Shin Bet, Ronen Bar, acossado por todos os lados para explicar o inexplicável, demitiu-se admitindo a responsabilidade num dos maiores falhanços de segurança interna de sempre.
Mas nem isso fez Benjamin Netanyhau ceder às pressões para assumir as responsabilidades.
Só que dificilmente o poderá voltar a repetir agora, depois de os media israelitas estarem, nesta terça-feira, 18, a noticiar com destaque o documento enviado pelas IDF ao Governo três semanas antes do ataque de 07 de Outubro.
Nesse documento chamam a atenção para a preparação em curso de um assalto ao sul de Israel pelo Hamas e pela Jihad Islâmica, com o pormenor de o plano conter o objectivo de fazer 250 reféns, um número muito aproximado do que veio a suceder de facto.
Segundo o Times of Israel, esse documento da divisão de Gaza das Forças de Segurança de Israel explicava que estavam a decorrer treinos intensos das Brigadas Al Qassan, o braço armado do Hamas, para uma invasão de larga escala a Israel.
Esta informação detalhada, de acordo com a Kan News, começou a circular internamente a 19 de Setembro, e foi, pelo menos, do conhecimento dos elementos seniores da intelligentsia israelita.
Estes, por razões que não carecem de explicações, não deixariam de fazer essa informação chegar aos ministros da Defesa e da Segurança Nacional, que, por sua vez, em nenhuma circunstância normal a travariam antes de chegar ao primeiro-ministro, sendo claramente ignorada por toda a linha de poder do Estado.
De acordo com a informação, colhida pela unidade militar de intelligentsia 8200 das IDF, o número de reféns a tomar pelo Hamas seria de 200 a 250, precisamente o número efectivamente levado para Gaza, 251, de acordo com fontes oficiais, sendo que pelo caminho foram mortas pelos combatentes do Hamas cerca 1.200 pessoas, na maioria militares israelitas apanhados de surpresa nos seus quartéis.
O dossier que chegou à redacção da Kan News e está a ser citado pelo Times of Israel, detalha com minúcia os horários e os métodos dos exercícios preparatórios feitos pelas Brigadas Al Qassan, nomeadamente a forma como fazer reféns e como atacar os quartéis militares, além de que enunciava os locais de entrada dos "terroristas" em Israel a partir de Gaza.
Numa primeira reacção a este escândalo, as chefias das IDF já disseram, segundo os media israelitas, desconhecer o documento mas garantem que está tudo a ser investigado e que assim que estiver concluída a investigação, os resultados serão fornecidos ao público com transparência.
Este é mais uma machadada no Governo de Netanyhau que, já esta semana, se viu obrigado a desmantelar o seu Gabinete de Guerra, criado logo após o 07 de Outubro, depois de o líder da oposição e do partido Resistência de Israel, "Benny" Gantz, se ter demitido deste corpo a partir de onde era gerido o conflito, onde era ministro sSm Pasta, alegando total discordância com a liderança de Netayhau.
Benjamin "Benny" Gantz foi ainda ministro da Defesa entre 2021 e 2022, e é quem está melhor preparado para enfrentar nas urnas Netanyahu se este sucumbir à pressão das ruas, que voltaram a ser inundadas de manifestantes a exigirem a sua demissão, e às suspeitas cada vez mais graves de que usou o conflito para se agarrar ao poder e manter-se longe dos processos que contra ele correm nos tribunais.
Entretanto, apesar da pressão pública dos aliados de Israel, desde logo dos EUA, para reduzir a mortandade em Gaza, os ataques das IDF não pararam e nem sequer reduziram de intensidade, estando o número de mortos a crescer dia após dia. (Ver links em baixo nesta página)
Até ao momento foram mortos mais de 38 mil civis palestinianos, entre estes uma esmagadora maioria de crianças (mais de 18 mil) e mulheres.