Nos Estados Unidos, o maior consumidor global de crude, as expectativas são de uma redução das taxas de juro directoras na maior economia do mundo, o que é essencial para suportar o crescimento do consumo... Os mercados ainda gostam mais dessas expectativas que da sua concretização.

E a vitória de Donald Trump no debate desta madrugada com Joe Biden deu um sinal claro aos mercados petrolíferos de que a Casa Branca pode ter em Janeiro próximo um inquilino que garante menos impostos... e os mercados gostam muito disso.

Perante este cenário global, os mercados, para se protegerem ou de contentamento, dão gás aos gráficos e o barril está esta sexta-feira, 28, a concluir um período de três semanas consecutivas sempre a subir, chegando aos 87,18 USD, perto das 10:40, hora de Luanda, um valor que é preciso recuar a 29 de Abril para encontrar.

A Reuters, na sua análise diária aos mercados, coloca como factor fundamental para este bom momento nos mercados, a iminente descida das taxas de juro pela Reserva Federal, e ainda fortes expectativas de boas notícias sobre a inflação ainda esta sexta-feira, 28.

Boas notícias para Angola

Ter o Brent nos 87 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com o OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.