Faustin-Archange Touadéra é o actual Presidente da RCA e conta com o apoio directo de algumas potenciais estrangeiras, como a Rússia ou o Ruanda, que acabam de deslocar centenas de militares para Bangui como forma de procurar travar a ofensiva dos três grupos armados - são pelo menos 12 as forças milicianas activas no país - e vê agora ameaçada a periclitante estabilidade que conseguiu desde que em 2016 foi eleito.
Face ao clima de violência, gerada por disputas de grupos tribais, religiosas, cristão-animistas e islâmicos, Touadéra fez vários périplos pelos vizinhos africanos como forma de criar condições para forjar uma estabilidade política que se afigurava quase impossível depois de anos a fio de convulsões permanentes, incluindo pelo menos três deslocações a Luanda para conversações com o seu homólogo João Lourenço, a quem pediu, em Janeiro deste ano, apoio para que as Forças Armadas Angolanas (FAA) dessem formação às forças armadas do seu país, havendo rumores, por confirmar, de que Angola é um dos países que tem forças militares em Bangui.
Os problemas na RCA intensificaram-se a partir de 2017/18, quando ficou claro que o Presidente Faustin-Archange Touadéra (na foto, com João Lourenço) não estava a conseguir estender o seu poder e o poder do Estado para fora da periferia de Bangui.
Sendo o país, rico em recursos naturais, desde logo o ouro e os diamantes - nas visitas a Luanda de governantes deste país uma das questões em cima da mesa foi a formação de quadros locais por Angola nestas indústrias extractivas -, a cobiça externa cresceu de forma significativa a ponto de Moscovo ser acusado de ter milhares de mercenários no país, ao mesmo tempo que a ONU enviava forças importantes, integradas na missão multidimensional denominada MINUSCA, entre estas portuguesas, senegalesas, francesas... para manutenção da paz, o que até hoje foi, apesar dos esforços, missão impossível.
As principais facções inimigas na RCA, as coligações alargadas mas escassamente homogéneas, actualmente ex-Seleka, maioritariamente islâmicos, e os anti-Balaka, formada por grupos geralmente cristão e ou animistas, nunca deixaram de se guerrear, apesar dos acordos firmados ao longo dos últimos anos, especialmente o último, em 2017, entre o Governo e mais de 10 grupos armados, fazendo deste país localizado no norte do Congo-Democrático, ladeado a este pelo Sudão do Sul e a Oeste pelos Camarões, tendo a norte o Chade, um dos mais instáveis do continente africano.
O Presidente centro-africano, no entanto, ideia que repetiu em Luanda, já este ano, em Janeiro, refutou sempre a ideia de que a RCA esteja a ser vítima de conflitos religiosos mas sim de natureza política.
Perante a evidente ausência de resultados, os grupos aramados mantiveram-se activos e fortemente rearmados, estando como principal suspeito por detrás deste ressurgimento da violência e do assalto a Bangui o ex-Presidente Bozizé, de 74 anos, que viu a sua candidatura às presentes eleições gerais recusada pelo Tribunal Constitucional e que governou o país de 2003 a 2013, depois de ter liderado um golpe de Estado onde destituiu o então Chefe de Estado Ange-Félix Patassé, através de um assalto à capital semelhante ao que está a suceder agora.
Este antigo oficial ao serviço do famoso ditador Jean-Bedél Bokassa está a ser apontado como o organizador destes ataques mas, desta feita, o tiro pode sair pela culatra, depois de uma reacção decidida em Moscovo e em Kigali, que enviaram contingentes para a RCA para apoiar Touadéra.
Esta informação, sobre a presença de militares russos, que chegaram acompanhados de equipamento militar pesado, e ruandeses em Bangui foi confirmada à AFP pelo ministro da Comunicação centro-africano Ange Maxime Kazagui, embora não exista esse anúncio oficial vindo da Rússia. O Ruanda confirmou que enviou militares no âmbito de um acordo bilateral. Há relatos de forças de outros países africanos em Bangui para apoiarem o Presidente e candidato a um novo mandato, Faustin-Archange Touadéra.
Por detrás destas movimentações estão as eleições gerais de 27 de Dezembro.
A ONU já condenou de forma veemente a violência despoletada em plena campanha eleitoral, tendo o porta-voz do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, avançando que os capacetes azuis presentes no país estão a reagir de forma activa e ocorreram fortes tiroteios com os grupos armados que estão pode detrás dos ataques.
A ONU criou mesmo um grupo de contacto denominado G5+, composto pela União Africana, os EUA, a França, a Rússia, a União Europeia e a CEEAC, que também veio a público exigir a imediata cessão de fogo e os ataques coordenados pelos grupos armados, apontando directamente o dedo acusador ao ex-Presidente Bozizé, avisando-o que está sujeito a pesadas sanções.