São já mais de 80 as valas comuns encontradas no Kasai, com centenas de corpos, constituindo estes achados macabros um dos mais salientes sinais da violência nesta província que faz fronteira com Angola e que já fez mais de 1,3 milhões de deslocados, incluindo os cerca de 45 mil refugiados na Lunda Norte, e quase 500 mortos, reconhecidos oficialmente, embora a igreja católica fale em mais de três mil, a maioria dos quais civis.
A revelação da descoberta destes 38 locais onde estão enterrados dezenas de corpos, próximo das localidades de Diboko e Sumbula, foi feita em conferência de imprensa pelo BCNUDH na capital congolesa, Kinshasa, onde ficou também a saber-se, segundo o relato da imprensa local, que foi iniciado um inquérito conjunto do escritório com as instâncias da justiça militar no Kasai para determinar os autores e as circunstâncias em que morreram as pessoas nelas depositadas.
Tal como as outras quase 50 fossas comuns reveladas nos últimos meses, estas são também resultado da fúria difícil de perceber protagonizada pelas milícias do chefe tradicional Kamwina Nsapu (designação honorífica), que foi morto em confrontos com as forças policiais em Julho do ano passado, pouco tempo após ter criado esta "guerrilha" para enfrentar o Estado congolês depois do Governo lhe ter negado a oficialização dos seus poderes na comunidade.
A RDC vive hoje uma situação de quase cãos com metade das suas 26 províncias a viverem problemas de violência com origem em diferentes milícias e guerrilhas, ou são assoladas por epidemias, que vão deste a cólera, ébola ou outras.
Algumas das situações mais violentas actualmente, como é o caso do Kasai, são de origem duvidosa, como a ONU já o admitiu ao pedir um inquérito internacional à origem do conflito no Kasai, dando corpo às muitas suspeitas de que estas foram provocadas por interesses políticos a partir de Kinshasa como forma de protelar a realização das eleições previstas para este ano.
Nestas eleições, que a oposição acordou com o partido do Presidente Joseph Kabila in-extremis, no final de 2016, para terem lugar em 2017, para evitar a continuação do derramamento de sangue devido à multiplicação de manifestações, o actual Chefe de Estado está impedido constitucionalmente de se recandidatar a um terceiro mandato.
A oposição congolesa e algumas organizações internacionais apontam o dedo a Kabila, acusando-o de estar na génese destes conflitos regionais para se poder manter no poder ao adiar as eleições, como foi o caso do empresário congolês com interesses em Angola e marido da também empresária Isabel dos Santos, Sindika Dokolo.
Entretanto, o número de deslocados tem vindo a diminuir nas últimas semanas, como também o de refugiados oriundos do Kasai que procuram segurança em Angola, podendo ser um sinal de que a ofensiva que as Forças Armadas da RDC (FARDC) estão a realizar no terreno para desmantelar as milícias está a obter resultados.