Como vai o Kremlin reagir a estes ataques bem-sucedidos das forças ucranianas a estes equipamentos, construídos ainda pela então União Soviética e cuja função é avisar com máxima antecedência para eventuais ataques com misseis de longo alcance potencialmente nucleares?
Além da especificidade dos alvos atingidos pelas forças ucranianas com recurso a drones de longo alcance, mais de 1500 kms, estes dois ataques acontecem em regiões no interior profundo da Federação onde até agora a guerra na Ucrânia não tinha chegado.
Um dos radares, de grandes dimensões, foi atingido na região de Orenburg, próximo da cidade de Voronezh, que dista mais de 1500 kms dos territórios da Ucrânia de onde o ataque podia ter sido desencadeado, sendo claramente o mais ousado de todos deste o início da invasão russa. O outro foi em Armavir, na província de Krasnodar.
Embora Kiev, via uma fonte dos serviços de intelligentsia, tenha dito à Reuters que estes radares são usados pela Rússia para monitorar a sua actividade militar na Ucrânia, fontes russas contradizem esta informação, notando, como é de facto conhecido há décadas, que se trata de dois de um conjunto de 11 radares gigantescos cujo serviço é antecipar eventuais ataques ao país com misseis balísticos intercontinentais potencialmente nucleares.
Alguns destes equipamentos são modernos e outros foram construídos no tempo da Guerra Fria, a então União Soviética, e agora a Rússia, e os Estados Unidos dispunham, e dispõem ainda, de uma rede de sistemas de alerta rápido para eventuais ataques, de que estes dois equipamentos fazem parte no sistema a isso dedicado, mas já é mais difícil de perceber se terão versatilidade suficiente para serem dirigidos para o actual campo de batalha na Ucrânia.
E isto é importante porque é indesmentível que se trata de ataques que fragilizam efectivamente o sistema de detecção preliminar global para ataques em caso de conflito nuclear com a NATO da Federação Russa com recurso a misseis intercontinentais.
O que permite, como têm estado a apontar vários bloggers de guerra pró-russos, levantar a dúvida sobre quem esteve por detrás efectivamente do planeamento e execução destes ataques, porque prejudicam de facto os sistemas de defesa russos que servem principalmente, pelo menos, para uma eventual situação de confronto com os EUA.
O analista militar major general Agostinho Costa, na CNN POrtugal, sublinha que existe a possibilidade de se tratar de um teste norte-americano à paciência e determinação do Presidente russo Vladimir Putin "encostando-o às cordas para ver até onde ele vai".
Sendo, naturalmente, difícil de perceber se o ataque destruiu por completo ou apenas beliscou estes dois gigantescos radares, embora o canal pró-russo Military Summary sugira que se tratou de danos significativos, o mais relevante é, para já, o silêncio no Kremlin sobre esta ousada e bem-sucedida operação ucraniana.
Isto, porque, como se sabe, a questão nuclear tem estado na linha da frente dos noticiários sobre o conflito na Ucrânia (ver links em baixo nesta página) depois do Presidente russo ter ordenado a realização de exercícios para testar a prontidão e emprego dos sistemas de armas nucleares tácticas.
Isso, depois de os aliados ocidentais de Kiev, Reino Unido, EUA e França, terem avançado com várias possibilidades de escalar o conflito ucraniano permitindo a Kiev usar os seus misseis de longo alcance para atacar em profundidade o território russo e o envio de tropas ocidentais para o campo de batalha de forma a impedir uma vitória dos russos.
Além disso, o próprio chefe da NATO, o norueguês Jens Stoltenberg, também defendeu recentemente que os membros desta organização militar ocidental devem autorizar os ucranianos a usar os seus misseis de longo alcance para atacar em profundidade os territórios russos.
O que é o mesmo que dizer, alvos fora das regiões anexadas pela Rússia na Ucrânia durante este conflito, que são as regiões de Lugansk e Donetsk, no Donbass, leste, Kherson e Zaporizhia, no sul, (2022) e ainda a Crimeia (2014).
Uma das respostas possíveis de Moscovo já não foi mesmo formulada, embora noutro contexto, o de uma resposta a ataques com misseis ocidentais de longo alcance, contra interesses desses países "em qualquer parte do mundo", nomeadamente Reino Unido.
Se se confirmar que a destruição destes equipamentos serve apenas os interesses das potências nucleares ocidentais, desde logo EUA, mas também Reino Unido e França, em caso de conflito generalizado com a Rússia, então a resposta poderá incidir nos interesses globais destes três países.