A eventual cedência de territórios à Federação Russa não é algo que Volodymyr Zelensky possa assumir sozinho, mas aponta essa possibilidade como exequível se um referendo popular a apontar como possível para acabar com a guerra que já leva mais de dois anos e meio.

Nesta entrevista ao mais relevante jornal francês o líder ucraniano deixa ainda, como o Novo Jornal explicou aqui, apesar da quase total recusa dessa possibilidade nos media internacionais, a confirmação da esperança que existe em Kiev de que a China possa ter a fórmula adequada para conduzir os contendores à mesa das negociações.

Isso mesmo ficou, apesar de poucos o assumirem, claro na recente visita do ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitri Kuleba, a Pequim, onde só faria sentido deslocar-se, sabendo-se que a diplomacia chinesa não admite ser usada como engodo para objectivos terceiros, com esse objectivo bem definido.

E a escolha da China, como Zelensky voltou agora a demonstrar, é claramente a única que permite a Kiev uma aproximação às exigências de Moscovo sem que isso possa ser tratado nos media internacionais como uma derrota à partida.

"Ceder territórios à Rússia é uma questão muito, muito difícil", disse o Presidente ucraniano nesta entrevista, mas, numa interpretação simples das suas palavras, facilmente se c onclui que, apesar de difícil, o assunto está em cima da mesa.

E o referendo é a única forma, como, alias, é há meses defendido abertamente pelo presidente da câmara de Kiev, Vitali Klitschko, um respeitado líder local, dos poucos capazes de fazer frente aos mais radicais lideres das facções nacionalistas, consideradas nazis por Moscovo, que rejeitam liminarmente quaisquer entendimentos com o Kremlin.

Mas, ao mesmo tempo, apesar da oposição interna, Zelensky aponta para a cedência de uma parte substantiva dos territórios ocupados pela Rússia, e anexados depois de referendos não reconhecidos pela ONU, desde 2014 (Crimeia) e Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia, em 2022, como medida negocial suficiente para convencer o Kremlin.

Como pode ser revisitado nos links em baixo nesta página, a questão da necessidade ucraniana de preparar o terreno negocial para uma saída razoável para esta guerra é resultado da forte possibilidade de em Novembro surgir uma mudança da liderança dos EUA, se, como as sondagens admitem, Donald Trump vencer as eleições à democrata Kamala Harris.

E com os países aliados da Europa Ocidental em debandada, apesar da retórica em contrário, devido ao cansaço das consequências da guerra nas suas economias, um afastamento de Washington seria fatal para Kiev.

Entretanto, os F-16...

... a mais recente arma-maravilha tanto ambicionada por Zelensky, estão, segundo a Bloomberg, finalmente na Ucrânia, embora apenas um número reduzido de aparelhos fornecidos pelos Países Baixos.

Estes aviões, que devem chegar na totalidade até ao final do ano, num número que pode chegar às 60 unidades, não deverão fazer a diferença no conflito, mas podem permitir a Kiev ganhar mais tempo para encetar negociações em melhores condições.

Isso mesmo defendem alguns analistas, embora ao mesmo tempo sublinhem, como o major general Agostinho Costa, dificilmente podem levar a Rússia a perder a supremacia aérea considerando que os seus SU-35 ou o ainda mais moderno SU-57, de 5ª geração, além dos sistemas de defesa antiaérea S-400 e S-500 irem manter os F-16 à distância da linha da frente.

Segundo a Bloomberg, o primeiro lote de F-16 chegaram já a Kiev, embora em pequeno número, sendo a sua origem os países europeus, como a Dinamarca ou os Países Baixos, com os pilotos formados ainda em países como Portugal, Bélgica ou Grécia.

Mas há uma novidade que pode alterar ligeiramente as análises sobre a chegada dos F-16 à Ucrânia.

Os Estados Unidos da América anunciaram esta semana que vão fornecer a Kiev um número relevante de misseis e bombas de uso nestes aparelhos, incluindo alguns que permitem aingir alvos a centenas de kms na vertente ar-ar ou ar-terra.

Sobre esta chegada dos aviões de guerra ocidentais, Moscovo tem repetido que, tal como as outras armas ocidentais, apenas vão prolongar o conflito sem que isso possa alterar o inevitável desfecho desta guerra, que é a Rússia alcançar todos os seus objectivos.

"Tal como as outras armas-maravilha, dos lança roquetes Himars aos blindados pesados Leopard 2 ou M1 Abrams, das peças de artilharia M777 aos misseis ATACMS, as forças russas vão abater estes aviões à medida que eles aparecerem nos seus ucranianos", afirmaram já fontes militares russas citadas pelos media deste país.

Entretanto, na frente de guerra, a Rússia, como admite o comandante máximo das forças ucranianas, general Syrsky, tem somado ganhos territoriais em vários locais dos mais de 1200 kms de trincheiras, mas sem que seja conhecido qualquer avanço estratégico significativo, sendo mais a tomada de pequenas aldeias e vilas e nenhuma grande cidade estratégica.