Quando as forças leais aos dois mais importantes generais sudaneses se desentenderam, o país rapidamente entrou num vendaval de violência e morte inaudito, com centenas de mortos espalhados pelas ruas de Cartum, ao que correspondeu uma fuga em massa de estrangeiros, incluindo diplomatas, deixando um dos pais importantes países africanos pela sua geografia à beira da destruição.
Tudo começou quando o general Abdel al-Burhan, que comanda o Exército regular, enquanto líder do Conselho Soberano, junta miliar que gere o processo de transição após os golpes, primeiro em 2019, que levou ao fim da ditadura de Omar al-Bashir, e depois em 2021, que serviu para fazer um "reset" ao caminho para as eleições democráticas, e o general Mohamed Hamdane Daglo, que lidera as denominadas Forças de Reacção Rápida (RSF, sigla em inglês), não se entenderam e iniciaram confrontos de grande envergadura, com recurso a artilharia pesada e a aviões de guerra.
Em causa, está, oficialmente, o formato da integração das RSF nas estrutura oficial das Forças Armadas do Sudão, oficiosamente, a disputa destes dois homens pelas riquezas do subsolo sudanês, desconfiando-se ainda de interferências externas por causa de um acordo com a Rússia para a criação de uma base naval em Porto Sudão, cidade costeira no Mar Vermelho, no corredor de acesso directo ao Canal do Suez. (ver links em baixo nesta página).
No meio deste inferno de violência e morte, onde se somam já mais de 700 mortos e milhares de feridos, alem de centenas de milhares de refugiados internos e externos, e quando cresce o fluxo de refugiados a caminho do Sudão do Sul, Chade, Egipto e Etiópia, onde já existem problemas para resolver graves, como é o caso da Etiópia, a atravessar, embora em fase de resolução, uma guerra civil devastadora, o presidente da Comissão Africana, Moussa Faki Mahamat, veio a público lançar um apelo urgente para um cessar-fogo.
Moussa Faki Mahamat quer que esse cessar-fogo permita às populações civis flageladas pela violência militar tenham forma e tempo para se recomporem, que lhes seja prestada ajuda humanitária, e possam percorrer as estradas de acesso aos locais de refúgio sem risco de se verem entre fogos cruzados.
Todavia, este pedido soma-se a muitos outros, incluindo do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, dos EUA e da Rússia, da China e agora da União Africana, tendo todas as tentativas, com compromissos assumidos pelas duas partes, falhado rotundamente.
Apesar disso, Moussa Faki Mahamat diz que é necessário insistir nesse cessar-fogo humanitário porque será o "primeiro passo para permitir o fornecimento imediato de materiais de socorro para aliviar o sofrimento dos civis", nomeadamente através da abertura de corredores seguros para as populações indefesas.
Este conflito está ainda a gerar outro problema grave e que está a ser denunciado por vários organismos internacionais, que é o crescimento de crianças sem famílias que são presas fáceis para redes de tráfico humano, além de que alguns milhares de jovens estão a caminho do Mar Mediterrâneo para procurarem uma saída para a Europa.