Provavelmente, não faltará muito até que tal aconteça. Higino Carneiro (HC) tem adoptado uma postura de estadista, tem usado as redes sociais e outros canais oficiais para abordagens muito abrangentes e que não estão limitadas ao circuito partidário. Nas datas simbólicas e comemorativas, temos uma mensagem sua com um conteúdo pedagógico e de apelo à harmonia, à paz, à fraternidade e à concórdia. A mensagem que enviou aos jornalistas, por ocasião do 3 de Maio, o Dia da Liberdade de Imprensa, certamente faz parte de uma estratégia de posicionamento, de estratégia e visão de poder. O conteúdo e os timings da mensagem não foram inocentes, o público-alvo (jornalistas) não foram inocentes e teve o seu efeito. HC é atento e paciente, procura ter o controlo da máquina que gira em torno de si. HC vai procurar sempre deixar bem claro que não avança contra João Lourenço, até porque este já assumiu publicamente que não vai avançar para um 3.º mandato. Vai querer provar que avança para a corrida eleitoral com uma visão de estabilidade, de sustentabilidade, equilíbrio, independência e credibilidade das instituições, bem como da necessidade de mudança. Não mudança no sentido de alternância, mas de visão de estratégia, de objectivos e focos. Certo é que Higino Carneiro não irá avançar para apresentação de uma candidatura presidencial sem antes informar pessoalmente ao seu líder e presidente do Partido, João Lourenço. A forma como João Lourenço irá reagir a uma eventual candidatura fora do seu alinhamento e controlo é algo que será interessante ver e acompanhar. Como os militantes irão encarar uma candidatura que não resulte da orientação e estratégia do líder? É que João Lourenço foi uma aposta de José Eduardo dos Santos. João Lourenço vive o período mais difícil da sua governação do País e da liderança partidária. Existe um descontentamento generalizado no País, existem guerras surdas e forças de bloqueio no MPLA, até que ponto, em Dezembro de 2026, o líder terá autoridade para impor uma candidatura? Ou estará o líder preparado para aceitar um candidato imposto pelas estruturas do Partido? Higino Carneiro não avança se não tiver a garantia, a confiança e o apoio das forças do Partido. É que os nomes de Adão de Almeida (actual ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República) e de Manuel Homem (actual ministro do Interior), que algumas vezes surgem como os candidatos providenciais, não têm a força, o peso, influência e poder junto de duas estruturas fundamentais: O Partido e o poder castrense! É aqui que Higino Carneiro leva vantagem sobre uma possível candidatura deles, desenhadas e "cozinhadas" em corredores palacianos ou em laboratórios de inteligência por spin doctors. Poder, influência, autoridade e estabilidade são fundamentais para aceitação e aprovação popular. É isto que tenho estado a ver na máquina de Higino Carneiro. Há uma imagem de self made man que lhe está associada, de empreendedor, de homem que vai atrás dos problemas e que os resolve, que "come" com todos, de um homem que respeita e valoriza a Tropa, de um militante que lida e ausculta as bases. Higino Carneiro tem aumentado a sua intervenção nas redes sociais e mesmo nas abordagens em outros "palcos" fala muito da necessidade de inserir o MPLA na sociedade, de o MPLA ter maior intervenção e até mesmo fiscalização da acção dos seus membros no Executivo. Outro aspecto que tem abordado é o da reavaliação do papel dos comités de acção do MPLA, tendo já até usando as redes sociais para manifestar isso. No Plano do Estado, tem deixado ideias de um diálogo abrangente com as principais forças políticas e a sociedade civil e acolhe a ideia de uma eventual alteração da Constituição.

São muitos sinais que nos levam a colocar a questão que dá título a este editorial: E se Higino avançar? Avança com quem e por quem? Vai querer deixar claro que não avança contra João Lourenço, mas certamente se vai posicionar como uma "melhor" alternativa às alternativas que o actual Presidente terá para apresentar em 2026. Mas não quererá ser ele uma alternativa fora do Partido, uma vez que a sua base eleitoral estará mesmo dentro do próprio MPLA. É importante prestar atenção às lições do passado, certamente, João Lourenço não deseja para si o mesmo fim de José Eduardo dos Santos, daí que a preocupação com o day after é importante e que muitas das actuais lealdades são apenas lealdades convenientes e que são sustentadas apenas numa lógica de poder. Em Angola, a ideia da sucessão não é tanto na perspectiva de quem fazer boa governação ou trazer bons resultados ao País, mas sim naquele que vai garantir a defesa dos interesses instalados, de quem vai garantir a protecção e a inviolabilidade da integridade física, moral e financeira do Chefe. Por isso é que toda a candidatura que não é orientada, que não está alinhada ou "formatada" é um perigo para quem governa. E se Higino avançar?