Falamos de taxistas, não de candongueiros. Porque, como sabemos, pelas mais variadas razões, estas são responsabilidades praticamente inexistentes na cidade de Luanda, no que diz respeito ao exercício da profissão de motorista de taxi.

Concordando que, até ver, sofremos de uma incapacidade congénita de acabar com o caos e a desordem na cidade, sem transportes públicos e/ou privados que funcionem na sua plenitude, o transporte privado de passageiros passou a ser um negócio para muita gente e a única saída para o pobre cidadão.

Que, arrastado pela mentalidade dominante que sublima a utilização do carro individual, não consegue deslocar-se numa cidade monstruosa, desorganizada, a suplicar uma descentralização global cada vez mais urgente e necessária. Não vamos aprofundar as razões de ser desta desordem. Não o faremos hoje.

Vamos é chamar a atenção para o sucedido esta semana e para o comportamento deplorável seguido por alguns candongueiros (e não só, houve, comprovadamente, algum aproveitamento por parte de lumpens), o que nos conduziria a outro debate, também ele necessário e crucial: as políticas de emprego e a criação sustentada, organizada e metódica de riqueza nacional.

O que hoje nos convoca, é a facilidade com que um número relativamente pequeno de populares é capaz de provocar, em pouco tempo, uma confusão como a sucedida na segunda-feira. Agredindo colegas e não colegas, actuando de forma agressiva para com transeuntes que nada tinham a ver com o assunto e provocando pânico, puro e simples, em cidadãos que seguiam para a sua vida, tão normalmente quanto é possível, na nossa tão castigada capital.

É verdade que todos, directa ou indirectamente, estamos a sofrer as consequências da crise económica que atravessamos. Mais uma razão para não se justificar nem aceitar que, de forma ilegal e anárquica, grupos de cidadãos se decidam a agir por conta própria, desafiando as vias legais existentes para o efeito.

Da mesma forma como, tantas vezes, temos criticado o uso excessivo da força, por parte de forças policiais e para-militares, quando confrontados com pequenos grupos de pessoas, também nos compete admitir que o recurso a uma greve ilegal, pior ainda, com repercussões directas na segurança e no bem-estar dos cidadãos, ultrapassa todos os limites do bom-senso e dos direitos de cada cidadão e como tal ser encarada e punida.

De forma exemplar, porque não é admissível que, além dos transtornos terríveis que o quotidiano de Luanda já causa a cada um, os cidadãos não tenham o direito de saber que podem ir e voltar para as suas casas em tranquilidade e em sossego. Como escrevemos no início, não vamos aqui destrinçar as razões de fundo que estão na origem deste tipo de actos. São assuntos que devem ser tratados por académicos, governantes, estudiosos, parlamentares e não cabem numa página de jornal.

Mas, ao mesmo tempo, enquanto cidadãos pensantes e no pleno exercício dos nossos direitos temos a obrigação indeclinável de reflectir, pensar em voz alta e abordar os assuntos que devem, que têm de ser motivo de reflexão séria e cuidada de todos. Este tipo de acções, tomadas de rompante, impensadas muitas vezes, são aproveitadas com facilidade por gente sem escrúpulos, sem um mínimo de consciência cívica, podendo redundar em situações de muita gravidade, individual e/ou colectiva. Temos, em definitivo, de enfrentar os problemas de fundo que estão na origem deste tipo de comportamentos, estudá-los, abordá-los e enfrentá-los.

Temos, por todas as razões e mais alguma, de criar condições mínimas para que o exercício dos direitos e deveres de cada um de nós, não sejam afectados todos os dias, com o coração na boca, como se costuma dizer. E trabalhar a curto, médio e longo prazos, para haver, além do exercício normalizado das responsabilidades de cada um, qualquer que seja o seu papel, a sua função, a sua área de trabalho, alguma calma, paz e tranquilidade. E não deixar que, pela sua própria natureza, estes fenómenos sucedam repetidas vezes. É verdade que, repetimos, é preciso ir ao fundo dos problemas e entender o que significam este tipo de desmandos.

Mas também não é menos verdade que não é possível aceitar, de ânimo leve, que uns quantos meliantes, consigam pôr centenas de cidadãos assustados, em nome de uma razão que deixam de imediato de ter, tão depressa partem para a violência, por mínima que seja.