Respostas a essa pergunta podem ser diversas, mas acredito que muitas delas nos ajudariam a melhor compreender as razões por detrás do aumento significativo no número de cidadãos, sobretudo jovens, cujo sonho é abandonar o País. Investir em serviços essenciais para a infância e juventude, garantindo acesso equitativo à saúde, educação e emprego, é fundamental não apenas para impulsionar o desenvolvimento social e económico de qualquer nação, mas também pode contribuir para reduzir o número de jovens predispostos a abandonar o País.
Porque muitos dos nossos concidadãos que emigram não o fazem por capricho, mas com o intuito de alcançar todo o seu potencial, conseguir um trabalho decente e produtivo, e aceder a serviços sócias básicos que no seu País é um privilégio de muito poucos. Mas do que debater sobre as razões do crescente número de jovens angolanos que deixarem o País, eu estou, particularmente, interessado em perceber as razões pelas quais um país como o nosso não tem condições de garantir, ao longo de toda a sua vida, o direito de acesso a uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade para milhões de cidadãos de ambos os sexos.
Porque estou ciente de que privados destes direitos, muitos dos nossos jovens estão impossibilitados de adquirir no País os conhecimentos, habilidades e capacidades necessárias para prosperar em um mundo em constante e rápidas mudanças. Qualquer iniciativa para inverter o quadro actual deveria considerar três medidas concretas tais como: Aumentar os investimentos em serviços sociais básicos para a juventude e garantir que suas necessidades e prioridades específicas sejam integradas nas estratégias de desenvolvimento nacionais, provinciais e locais.
É preciso assegurar que todos os jovens possam aceder os serviços sociais básicos destinados a eles. Onde isso não está ocorrendo, os decisores públicos devem fornecer informações detalhadas e actualizadas sobre propostas e medidas concretas para alterar a situação ou criar uma estratégia alternativa capaz de atrair e financiar melhores programas relacionados com a juventude; Acelerar os esforços para alcançar a cobertura universal de saúde, garantindo que todos os jovens desfrutem do mais alto nível possível de saúde física e mental, incluindo imunizações, vacinações e saúde sexual e reprodutiva; Aumentar significativamente os investimentos em educação e habilidades, através da criação de um sistema educativo inclusivo, acessível e resiliente, que proporciona oportunidades de aprendizagem ao longo da vida. Somente assim é que, as nossas crianças e jovens poderão ter competências para aproveitar as tecnologias digitais e ampliar o acesso à formação técnica e profissional tão necessárias para se criar um ambiente onde os jovens possam realizar todo o seu potencial e contribuir para reduzir a necessidade de buscar oportunidades no exterior.
Sei que alguns dirão que tudo isto está a ser feito, mais uma vez eu diria que não se trata tanto de ver se está ou não a ser feito, mas de encarar os factos com verdade é reflectir se está a ser bem feito! Temos de criar empregos e meios de subsistência decentes para que a juventude não sinta que abandonar o País é a única saída, mas isto é praticamente impossível se não conseguirmos eliminar as desigualdades no acesso da juventude a serviços públicos sociais universais com o mínimo de qualidade . De nada servem palavras como empoderar, incentivar e apoiar os jovens para que se dediquem ao empreendedorismo e à inovação sem eliminar as barreiras que estes enfrentam na hora de transformar as suas ideias em oportunidades viáveis de negócios.
Eu acredito que o País tem condições para implementar políticas favoráveis e orientadas para que as crianças e jovens possam realizar todo o seu potencial e exercer os seus direitos. O problema é que temos de fazer coisas novas e/ou fazer parte do que já fazemos de maneira diferente!
*Coordenador OPSA