O Presidente angolano, que lidera a CIRGL desde Novembro de 2020 e nos próximos dois anos, afirmou perante os seus pares da RCA, do Congo-Brazzaville e do Sudão, reunidos no Hotel Intercontinental, na capital angolana, que a instabilidade na Região dos Grandes Lagos deve ser banida porque a todos beneficia a paz, que é o melhor caminho para o desenvolvimento dos seus povos.
Para isso, o Chefe de Estado angolano pediu aos países membros da CIRGL para que assumam as suas responsabilidades na construção de um futuro de estabilidade na região e, em concreto, sendo esse o tema principal desta mini-Cimeira, na República Centro-Africana, país que vive há largos meses uma situação de violência mas que viu o conflito recrudescer em mortandade e em deslocados depois de o ex-Presidente Bozizé ter visto o Tribunal Constitucional impedir a sua candidatura à Presidenciais de 27 de Dezembro.
Apesar de fortemente contestados pela oposição em bloco, os resultados eleitorais foram reconhecidos internacionalmente, desde logo pela CIRGL, e o Presidente Faustin-Archange Touadéra, presente neste encontro, foi indicado como o homem com quem todos terão de trabalhar para a estabilidade naquele país do centro do continente, que tem fronteira com a RDC, a República do Congo, os Camarões e o Sudão.
Nesta mini-cimeira de Luanda estiveram ainda os Presidentes da República do Congo, que acumula com aCEEAC, Denis Sassou-Nguesso, do Tchade, Idriss Déby Itno, e da República Centro Africana, para além de João Lourenço, o anfitrião e líder da CIRGL.
No discurso de abertura dos trabalhos, que terminam na noite de hoje com um espectáculo musical, o Presidente angolano disse que a CIRGL e o mundo, com quem a organização sub-regional quer trabalhar, especificamente a ONU e a UA, devem ter a capacidade de influenciar as forças activas na RCA de forma a que esta percebam de forma clara que não há outro caminho a não ser o da estabilidade e da paz e que a via militar está condenada ao fracasso.
"Não podemos observar de forma passiva a situação inaceitável que se desenrola naquele país, cujo Governo legítimo está inexplicável e injustamente condicionado pela resolução 2536/20, do Conselho de Segurança da ONU, no que respeita à sua função essencial de garantir a segurança e protecção das populações", lamentou, referindo-se ao facto de, por decisão das Nações Unidas, o Governo de Bangui não pode adquirir armamento para manter a estabilidade no país enquanto os rebeldes, libertos destas amarras legais, compram todo o armamento que querem e de todo o tipo e calibre.
Esta posição coloca o Presidente Faustin-Archange Touadéra e o seu Governo numa situação de inexplicável fragilidade face ao poder de fogo cada vez mais evidente dos rebeldes.
João Lourenço disse ainda que todas as acções que vão ser desenvolvidas no âmbito da CIRGL terão garantida a informação permanente e a cooperação com a União Africana e a ONU, porque o fim último da paz que se exige para a RCA é o desenvolvimento do país, económico e social.
Mas a RCA, mesmo sendo o ponto focal desta Cimeira, não foi o único e João Lourenço não esqueceu que toda a região dos Grandes Lagos é um dos mais instáveis pontos do continente africiano, desde logo o leste da RDC e os vizinhos, como o Ruanda, o Uganda, o Burundi... onde dezenas de guerrilhas e milícias desestabilizam, há décadas, a região, provocando milhares de mortos, milhões de deslocados...
E Lourenço disse-o de forma clara: "Queremos uma sub-região dos Grandes Lagos livre de conflitos armados desnecessários, mortes, destruição e deslocação forçada das suas populações".
Este encontro com os seus homólogos da RCA, do Chade, e do Congo-Brazzaville, no qual participaram ainda outras figuras de organizações regionais, ainda segundo Lourenço, é uma oportunidade histórica para alcançar um resultado concreto na RCA na forma de uma solução sólida, justa e sustentável.
Os países que integram esta organização, criada em 2006, são Angola, Burundi, RCA, República do Congo, RD Congo, Quénia, Uganda, Ruanda, Sudão do Sul, Sudão, Tanzânia e Zâmbia e na sua génese está o reconhecimento de todos os membros, como consta da sua página oficial, de que a região é mercada por múltiplos conflitos e instabilidade e que a sua resolução só será possível se for feito um esforço conjunto e concertado de forma a garantir a paz e a estabilidade.