José Eduardo dos Santos, que governou o País entre 1979 e 2017, chegou à capital angolana proveniente de Espanha, onde estava há cerca de dois anos, num "exílio" por decisão própria que na altura foi justificado por questões de saúde.
O avião com "ZéDú" a bordo aterrou no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro durante a tarde desta terça-feira, 14/09, pouco antes das 17:30, tendo o ex-Presidente deixado o local pouco depois numa caravana de carros protocolares, como o Novo Jornal, o único órgão de comunicação social que esteve no aeroporto, constatou.
À sua espera no aeroporto estavam elementos do protocolo de Estado e algumas figuras do seu tempo de Chefe de Estado, como o general José Maria, que foi o seu chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM).
"Vim receber o camarada Presidente José Eduardo porque ele merece. Não tinha como não me fazer presente neste momento", disse em declarações ao Novo Jornal o general "Zé Maria" visivelmente emocionado.
"Dei-lhe um aperto de mão muito forte, conversámos alguns momentos e depois ele foi para a sua casa", descreveu ainda o antigo chefe do SISM.
O regresso de José Eduardo dos Santos à capital angolana põe fim a um longo período de ausência, praticamente desde que saiu de Luanda, em Abril de 2019, a bordo de um avião da portuguesa TAP, e a sucessivos anúncios do seu regresso iminente, embora sempre sem ser confirmado.
O antigo Presidente, que fez 79 anos a 28 de Agosto, após aterrar, deslocou-se para o Bairro Miramar, onde tem residência oficial e onde hoje de manhã o Novo Jornal encontrou jardineiros a tratar da limpeza dos acessos à habitação da parte de fora e no interior.
Este regresso coincide com o primeiro de dois dias da visita de trabalho do Presidente João Lourenço ao Kwanza Norte.
Este regreso de JES a casa desperta maior interesse devido à fricção existente entre os seus familiares e o actual Presidente, João Lourenço, depois de a sua primogénita, Isabel dos Santos, ter sido acusada de ter tomado posse ilegalmente de mais de 5 mil milhões USD do Estado pela Procuradoria-Geral da República, o que a levou igualmente a deixar o País, estando ausente há mais de dois anos, a maior parte deste tempo no Dubai.
O mesmo sucedeu com a sua outra filha com maior exposição pública, Tchizé dos Santos, antiga deputada pelo MPLA, que viu a Assembleia Nacional retirar-lhe o assento no Parlamento alegadamente por causa de prolongada ausência no exterior sem justificação.
Já José Filomeno dos Santos, igualmente alvo da Justiça angolana, foi condenado a pena de prisão, tendo cumprido alguns meses de cadeia devido ao caso do Fundo Soberano, tendo sido igualmente condenado no caso dos 500 milhões USD, do qual ainda corre recurso.
No entanto, o caso mais grave decorre contra Isabel dos Santos, no rasto do processo "Luanda Leaks", em que foram dados a conhecer mais de 700 mil ficheiros libertados pelo hacker português Rui Pinto, de onde partiu o grosso da acusação de desvio de dezenas de milhões de dólares, incluindo no tempo em que esteve à frente da Sonangol, até ser exonerada do cargo de PCA, em Novembro de 2017, pelo Presidente João Lourenço.
Recorde-se que José Eduardo dos Santos deixou a Presidência da República em finais de 2017, mas a vida política activa só viria a largar cerca de um ano depois, quando também abandonou a liderança do MPLA, para o seu vice-presidente, João Lourenço, que passou a acumular o cargo de Chefe de Estado com o de chefe do partido.
Os sinais de afastamento entre os dois Presidentes, o antigo e o actual, começaram a ser notados logo após as eleições de Agosto de 2017, tendo mesmo José Eduardo dos Santos encurtado ligeiramente o prazo que o próprio tinha estabelecido para sair igualmente da chefia do partido que liderava desde a morte de Agostinho Neto, em 1979.